25 Novembro 2025
"O discurso na Lateranense destacou qual deve ser a função da teologia e as coordenadas estruturantes de seu serviço à Igreja e ao mundo. A esse respeito, só se pode acolher e compartilhar a advertência do pontífice diante dos possíveis e opostos extremos que por vezes marcam a investigação teológica, sempre suscetível de cair em simplificações excessivas ou em rigidezes contraproducentes e inoportunas. As palavras do Papa soam como um convite ao equilíbrio, à prudência, ao diálogo, à moderação e à ética."
O artigo é de Paolo Trianni, professor na Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, em artigo publicado por Settimana News, 25-11-2025.
Eis o artigo.
O papa Leão XIV visitou a Pontifícia Universidade Lateranense por ocasião da inauguração de seu 253º ano acadêmico. Foi uma oportunidade para celebrar a universidade que João Paulo II quis definir como do Papa, mas também para refletir sobre o sentido das universidades pontifícias e sobre a tarefa atual da teologia (cf. SettimanaNews). O Papa Prevost explicou que a Igreja precisa do precioso serviço prestado pelas universidades eclesiásticas, recomendando que mantenham olhos e coração voltados para o futuro.
Essa expressão merece um primeiro comentário, pois, por vezes, os teólogos vivem sua missão olhando para o passado e para a conservação da tradição, quando, ao contrário, hoje é fundamental também a categoria do futuro. No próprio coração da fé cristã está sempre a ideia do Reino de Deus, que é, por excelência, uma categoria ligada a um futuro para o qual é preciso olhar, como diz o Papa Leão XIV, com o coração.
É também nessa perspectiva que Prevost explicou qual deve ser o sentido das universidades eclesiásticas e pontifícias: realizar uma obra de mediação cultural. Em síntese, ele quis sublinhar o quanto é necessário que a fé se reconecte com a cultura e, poderíamos acrescentar, com as culturas. Afinal, já o segundo capítulo da Gaudium et Spes explicava a importância do diálogo entre fé e cultura, instrumento fundamental para a evangelização e para o enfrentamento do secularismo.
Pode-se acrescentar que essa mediação requer um confronto com a literatura, com a música e, em geral, com todas as formas de arte, e que tal confronto nem sempre encontra espaço nos currículos das universidades pontifícias. Estas, contudo, têm a função, segundo o Papa, de pensar a fé, assumindo a tarefa urgente de enfrentar os muitos desafios que acompanham nosso tempo. Leão XIV convidou a uma virada missionária da teologia, para que ela saiba contextualizar, inculturar e preencher o vazio cultural das sociedades contemporâneas.
Interpretando as palavras do pontífice, o que hoje se necessita é, poderíamos dizer, uma teologia em saída. Nesse sentido, é significativo o apelo dirigido à faculdade de teologia – e, portanto, a todas as faculdades de teologia – para que possa fazer sobressair a beleza e a credibilidade do depósito da fé. Tarefa esta que não pode ser separada nem dissociada do serviço pastoral, considerado de vital importância.
O núcleo central do discurso que o Papa dedicou à missão educativa da universidade pode ser sintetizado em três indicações.
- A primeira é o convite à fraternidade, porque mesmo nos ambientes acadêmicos está muitas vezes presente, em vez de um espírito de serviço, o individualismo, o carreirismo, a autocongratulação e a exaltação do ego.
- A segunda indicação é a cientificidade, pois a teologia, em um mundo que atingiu altos níveis de especialização em todas as disciplinas, não pode permitir-se ser menos científica. Vale destacar que essa missão – com uma significativa observação – o Papa confiou também aos leigos.
- A terceira indicação é a de olhar para o bem comum, pois a teologia deve oferecer sua contribuição específica para a construção de um mundo solidário e justo, de modo que, em seus vários âmbitos, possam resplandecer os valores cristãos.
À primeira vista, essas três indicações do pontífice podem parecer simples, mas são, na verdade, decisivas em sua clareza pragmática. Elas oferecem uma direção concreta ao trabalho acadêmico, conferindo-lhe solidez e completude. É fácil perceber, de fato, que a primeira indicação é de natureza antropológica, a segunda epistemológica e a terceira ética.
De modo geral, o discurso na Lateranense destacou qual deve ser a função da teologia e as coordenadas estruturantes de seu serviço à Igreja e ao mundo. A esse respeito, só se pode acolher e compartilhar a advertência do pontífice diante dos possíveis e opostos extremos que por vezes marcam a investigação teológica, sempre suscetível de cair em simplificações excessivas ou em rigidezes contraproducentes e inoportunas. As palavras do Papa soam como um convite ao equilíbrio, à prudência, ao diálogo, à moderação e à ética.
Ele convidou os teólogos também a olhar para fora, com um I care diante das necessidades sociais e culturais do mundo contemporâneo.
Em síntese, com tom sereno e poucas palavras, Leão XIV estabeleceu as coordenadas para um desenvolvimento virtuoso da teologia nas instituições universitárias pontifícias. Sua intervenção não foi apenas uma homenagem à história da Lateranense, mas uma reflexão mais ampla sobre o que significa hoje ser acadêmico e teólogo. Sua visita à universidade fez compreender que a teologia ocupa um lugar especial no coração do Papa.
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