Os primeiros sete meses de Leão XIV, o Papa que quer desaparecer para que só Cristo permaneça. Artigo de Fabrizio Esposito

Foto: Vatican Media

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25 Novembro 2025

"O pontificado de Robert Francis Prevost completa quase sete meses, e o papa estadunidense já impôs seu estilo austero, decidido e misericordioso, personificando uma Igreja aberta e verdadeiramente universal, não uma Igreja romana, entrincheirada na Cúria para se defender das armadilhas do mundo", escreve Fabrizio D'Esposito, professor italiano, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 24-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

É difícil encontrar um programa melhor para ser papa do que este: “Desaparecer para que Cristo permaneça, tornar-se pequeno para que ele seja conhecido e glorificado, doar-se completamente para que não falte a ninguém a oportunidade de conhecê-lo e amá-lo”. Essas são as palavras de Leão XIV, proferidas no dia seguinte à sua eleição, na homilia da Missa pro Ecclesia, celebrada na Capela Sistina.

O pontificado de Robert Francis Prevost completa quase sete meses, e o papa estadunidense já impôs seu estilo austero, decidido e misericordioso, personificando uma Igreja aberta e verdadeiramente universal, não uma Igreja romana, entrincheirada na Cúria para se defender das armadilhas do mundo. Aqueles que insistem em tentar determinar se Leão XIV é conservador ou progressista e, sobretudo, se está em perfeita continuidade com seu antecessor argentino, estão equivocados. Ele não é Francisco, porque papas fotocópia não existem, como observa Francesco Antonio Grana em seu novo livro, Leão XIV. La storia (Elledici, 156 páginas, €14). Correspondente do Vaticano para o Il Fatto, Grana escreve um perfil biográfico do Papa Prevost, entrelaçando os dias do Conclave de maio passado com a reta final do pontificado bergogliano. Também enriquece a biografia com diversas entrevistas com cardeais, até mesmo conservadores como o alemão Gerhard Ludwig Müller, sucessor de Ratzinger no antigo Santo Ofício, e Camillo Ruini, teórico de uma Igreja entrincheirada na defesa dos chamados valores não negociáveis.

Livro "Leão XIV. La storia" de Francesco Antonio Grana

E é precisamente o relato denso e detalhado da eleição de Leão XIV que proporciona a dimensão unitária, em muitos aspectos inédita, ao papa agostiniano que veio de Chicago, mas também do Peru, onde era bispo e missionário. Apesar de todos os possíveis candidatos que circularam por dias após a morte de Francisco na segunda-feira de Páscoa, Prevost foi o único papa possível desde a primeira votação, na noite de 7 de maio.

Finalmente, no dia seguinte, sua eleição na quarta votação estabeleceu o maior número de consensos já registrado em um conclave: 115 votos, 26 a mais do que o quórum necessário, com apenas 18 votos contra. Seu único adversário, se é que podemos chamá-lo assim, foi o Primaz da Hungria, Péter Erdo, preferido pelos conservadores e pela direita clerical. Não o italiano Pietro Parolin, o Secretário de Estado que esperava ser reconhecido como herdeiro de Bergoglio, mas que, em vez disso, foi imediatamente queimado por vários eleitores. Mas o detalhe mais importante que Grana destaca é que Prevost é o candidato dos bergoglianos, particularmente dos moderados. Além disso, o agostiniano Leão XIV deve ao jesuíta Francisco o aperfeiçoamento de seu perfil: de bispo e missionário a chefe do Dicastério dos Bispos na Cúria Romana.

Por essa razão, o vaticanista do Il Fatto ecoa uma observação do historiador Giovanni Maria Vian, ex-diretor do Osservatore Romano: "Leão XIV é um homem de governo e implementará a reforma papal esperada há meio século". Ou seja, "despersonalizar o papado, não se colocando no centro". Desaparecer para que Cristo permaneça, justamente.

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