Análise do primeiro mês do pontificado de Leão XIV: “Na Igreja Católica conta cada detalhe”, diz vaticanista italiano Marco Politi

Editorialista do Fatto Quotidiano analisa o novo pontificado nesta terça-feira, às 10h, em evento promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU

Foto: Vatican Media

Por: Patricia Fachin | 07 Junho 2025

“O Papa Leão XIV é uma escolha à altura da tarefa da situação geopolítica”. Com essas palavras o vaticanista italiano Marco Politi comentou a eleição de Robert Prevost no início do mês passado. Desde então, o novo pontífice tem convocado os opositores políticos a “negociar a paz”, colocou a Santa Sé à disposição de futuras negociações geopolíticas e exortou “os inimigos” a se encontrarem e se olharem nos olhos, “para que as pessoas possam recuperar a esperança e a dignidade que merecem, a dignidade da paz”. Prevost não cansa de repetir palavras semelhantes as do seu antecessor: “O povo quer a paz e eu, com o coração na mão, digo aos líderes do povo: vamos nos encontrar, vamos conversar, vamos negociar”. Assim como o grito de Francisco, “a guerra é uma loucura”, foi repetido à exaustão em várias partes do mundo que clamam pelo fim das guerras e dos genocídios em curso, Leão XIV fixou o lema programático que tem orientado diversas análises sobre o início do pontificado: “uma paz desarmada e desarmante”.

Mas, um mês depois da eleição papal, o que mais é possível dizer? Como vaticanistas e teólogos estão reagindo aos pronunciamentos públicos e às ações de Prevost? Que impressões Leão XIV tem despertado interna e externamente? Que novas informações estão circulando nos bastidores do Vaticano? Uma análise dos primeiros trinta dias do pontificado será feita pelo vaticanista Marco Politi na próxima terça-feira, 10-06-2025, em videoconferência promovida pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Depois da exposição, o jornalista italiano responderá a perguntas de integrantes da equipe do IHU que participarão do debate: Cleusa Andreatta, Cristina Guerini e Gabriel Vilardi.

Para Politi, a eleição do primeiro papa norte-americano tem um peso geopolítico significativo: fazer frente aos conflitos militares que continuam exterminando povos em todo o mundo. “Os cardeais elegem o primeiro papa dos EUA capaz de enfrentar calmamente o imperador de Washington Donald Trump e indicar outra agenda às autocracias do planeta”, sublinha.

Os apelos do Papa, contudo, ainda não surtiram efeito em seu conterrâneo, já que nesta semana os EUA vetaram os pedidos de cessar-fogo e retirada de Israel de Gaza no Conselho de Segurança da ONU. O país foi o único a se opor à resolução do conflito e, com isso, garantiu a continuação da carnificina. Civis de todas as idades continuam sendo aniquilados enquanto aguardam ajuda humanitária barrada nas fronteiras. Socorristas da Defesa Civil de Gaza, por sua vez, recolhem corpos com pás e picaretas pelas ruas da cidade, como relatou o jovem bombeiro Abdallah Al Majdalaw, de 25 anos: "Havia corpos pelas ruas. Fomos recolhendo um por um. Alguém apontou uma casa destruída e disse: ‘Ali morava gente’. Entrei nos escombros e gritei: ‘Tem alguém aí?’ Ouvi um murmúrio. Pedi silêncio total. E sim, havia uma pessoa viva. Começamos a cavar para alcançá-lo [um menino chamado Ahmed Naïm]. Havia cadáveres em decomposição há dias. O cheiro era insuportável. E o menino sobreviveu ali, no meio de tudo isso. Retirei o último corpo, e ele estava logo embaixo. Parecia um esqueleto. Como aquelas imagens da fome na Somália, nos anos 1990. Era igual".

Linhas gerais do pontificado 

Além da importância geopolítica, Politi destaca outros aspectos simbólicos que têm chamado atenção no novo pontificado – porque, como ele mesmo diz, “na Igreja Católica conta cada detalhe”:

As demais impressões do vaticanista italiano serão expostas na próxima terça-feira, às 10h. O evento será transmitido nas redes sociais, no YouTube e na página eletrônica do IHU. Participe!

Sobre o conferencista 

Marco Politi (Foto: Reprodução Religión Digital)

Marco Politi tem 78 anos, nasceu em Roma, é jornalista e escritor, especializado em notícias e política do Vaticano. Atua nesta área desde 1971. É editorialista do Fatto Quotidiano. Foi correspondente do jornal La Repubblica em Moscou entre 1987 e 1993. É autor de, entre outros, La solitudine di Francesco: un papa profetico, una Chiesa in tempesta (Laterza, 2019), Francisco Entre os Lobos: o segredo de uma revolução (Texto & Grafia, 2018) e Sua Santidade: João Paulo II e a história oculta (Objetiva, 1996). 

O vaticanista participou do Ciclo de Estudos "A Opção Francisco. A Igreja e a mudança epocal", promovido pelo IHU em outubro de 2023. A videoconferência "As opções (geo)políticas da Igreja de Francisco. Trajetória e perspectivas" está disponível abaixo. 

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