22 Julho 2025
"A notícia não é que a paróquia de Gaza foi atacada. A notícia é que outros palestinos foram mortos, após os mais de sessenta mil já mortos nos últimos meses."
A entrevista é de Luca Kocci, publicada por Il Manifesto, 18-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Padre Nandino Capovilla, pároco de Marghera, vai direto ao cerne da questão. Ele participa há anos da campanha "Pontes, Não Muros" da Pax Christi, da qual também foi coordenador nacional, e é autor, juntamente com Betta Tusset, de "Sotto il cielo di Gaza", recentemente publicado pela La Meridiana.
Ontem, logo após o bombardeio da paróquia da Sagrada Família em Gaza pelo exército israelense, o Papa Leão XIV, em um telegrama de condolências às vítimas assinado pelo secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Parolin, renovou seu apelo por um imediato cessar-fogo. "Nada pode justificar o ataque a civis inocentes", declarou o Patriarca de Jerusalém, Cardeal Pizzaballa, assegurando que "nunca deixaremos sozinhos" os habitantes de Gaza.
E o pároco da Sagrada Família, Padre Romanelli — a quem o Papa Francisco telefonava todas as noites —, ferido na perna no ataque israelense, reiterou: "Continuarei; quero continuar perto da minha comunidade".
Padre Capovilla, é um fato grave que o exército israelense tenha atacado uma paróquia?
Se a ser bombardeada é uma igreja ou uma mesquita, se os mortos são muçulmanos ou cristãos, isso é secundário. O que é criminoso é o genocídio do povo palestino. E até agora, estou pensando também no governo italiano, isso — ou seja, o genocídio — não foi condenado.
No entanto, não é novidade: a paróquia de Gaza já havia sido atacada em dezembro de 2023.
Também antes disso. Em 2009, quando fui a Gaza, o pároco me mostrou uma bomba não detonada que havia sido jogada no telhado da igreja. Então, são pelo menos 16 anos que vivem assim em Gaza; esse novo bombardeio não deveria ser surpreendente. Acrescento que a Sagrada Família não é uma paróquia isolada de periferia, mas está localizada no coração da Cidade de Gaza, ao lado do município, da mesquita. Isso para reiterar que não foi um ataque contra os cristãos, mas contra os palestinos.
Israel sempre declarou que não quer atingir "lugares sagrados"...
Toda pessoa é um lugar sagrado.
Fala-se de um erro de tiro de um tanque do exército israelense...
Sempre precisam ser encontradas justificativas para as ações de Israel. Mas são desculpas que não valem nada. Bombardeio intencional ou não, o objetivo é claro: o afastamento e a eliminação do povo palestino. Desse ponto de vista, não é verdade que erraram o alvo.
Em que sentido?
Quando o Ministro da Defesa israelense, Katz, anuncia que pretende deportar para uma área limitada perto de Rafah primeiro as centenas de milhares de palestinos atualmente em al-Mawasi e depois toda a população da Faixa de Gaza, significa que está sendo planejado um genocídio. Essas não são hipóteses, é um objetivo claro. Portanto, acertaram em cheio no alvo.
No livro Sotto il cielo di Gaza, escrevem que "ignorar o massacre em curso, tanto porque se desvia o olhar para outro lado quanto porque se vive na ignorância da questão palestina, fazendo-a começar em 7 de outubro de 2023, é uma culpa imperdoável e terá consequências destrutivas para o nosso presente e futuro".
O desmantelamento do direito internacional pelo governo israelense, que faz o que quer no silêncio da comunidade internacional, causará consequências inimagináveis para a ordem mundial. É desde 1948 que os israelenses querem eliminar não os cristãos, mas o povo palestino, como afirmou há alguns dias também Monsenhor Shomali, Vigário Patriarcal para Jerusalém e Palestina, por ocasião da agressão à comunidade cristã de Taybeh, na Cisjordânia, por colonos. É assim desde 1948, foi feito em Gaza e agora querem fazê-lo na Cisjordânia: essas três etapas devem ser consideradas em conjunto, pois fazem parte de um único projeto.
Uma delegação da Pax Christi irá à Palestina nas próximas semanas?
Iremos junto ao Bispo Ricchiuti, presidente da Pax Christi, também para responder ao apelo do Cardeal Pizzaballa: 'Estamos exaustos, o que podemos continuar a fazer é falar e contar, mesmo que o mundo se direcione para o outro lado’. É uma forma de demonstrar solidariedade ao povo palestino, não porque somos cristãos, mas porque somos humanos.