18 Julho 2025
Entrevista com o Patriarca Latino de Jerusalém: "É uma situação desesperadora, não só para os cristãos. Este conflito está matando todo mundo".
A entrevista é de Francesca Caferri, publicada por La Repubblica, 18-07-2025.
Há um mês, quando o encontramos em seu escritório, era difícil imaginar que as coisas na Terra Santa pudessem piorar: a ofensiva israelense em Gaza era devastadora, pessoas morriam em filas de pão e cristãos na Cisjordânia eram ameaçados por colonos. "Mas talvez o pior não tenha fim", disse-nos o Cardeal Pierbattista Pizzaballa, Patriarca Latino de Jerusalém, falando do coração da Cidade Santa.
Eminência, o senhor tem alertado repetidamente sobre o que está acontecendo em Gaza. Ontem, os cristãos que o senhor defende com afinco foram alvos diretos de um bombardeio. Que tipo de sinal isso envia?
É simplesmente a confirmação de uma tragédia que denunciamos diversas vezes. Uma tragédia que se tornou intolerável do ponto de vista humano, não apenas desde ontem, e não porque nossa comunidade tenha sido afetada desta vez. Estamos aqui para lamentar outras mortes de civis, inocentes que se refugiaram em uma igreja. Mas não podemos deixar de falar sobre o que vem acontecendo com pessoas famintas: há semanas, há meses. O que aconteceu com a Sagrada Família é um sinal de que esta guerra não poupa ninguém: ninguém está protegido. É hora de parar, de uma vez por todas.
Há sinais contraditórios vindos das negociações: fala-se em progresso, mas depois nada acontece. Você acha que a esperança de um avanço é real?
Ouço, como todo mundo, que se fala de boas notícias chegando em breve. Mas isso já foi dito muitas vezes e, no final, nada aconteceu. A situação é desesperadora: não apenas agora, e não apenas para os cristãos.
A notícia do ataque à Sagrada Família repercutiu em todo o mundo. Você acha que o ocorrido pode aumentar a urgência da necessidade de uma trégua?
Espero que a repercussão midiática em torno deste incidente ajude a acelerar a busca por uma solução. De nossa parte, não ficaremos em silêncio: nunca ficamos nos últimos meses e não pretendemos ficar em silêncio agora. Não desistiremos.
O que isso significa em termos concretos?
A prioridade número um agora são os feridos. Nem preciso dizer, mas vou dizer mesmo assim: os hospitais de Gaza não têm condições de tratar as pessoas gravemente feridas no ataque. Estamos trabalhando por elas. E depois veremos o que mais podemos fazer.
Você vem preparando um comboio de ajuda alimentar para a paróquia há semanas: seria o primeiro desde março, quando Israel quebrou o cessar-fogo.
Sim. A ajuda está pronta e aguardando as autorizações finais. As pessoas estão com fome e, com a comida que trouxemos, o Padre Romanelli alimentou não só os paroquianos, mas toda a vizinhança. É importante, agora mais do que nunca, que essa ajuda chegue. O mais rápido possível.
Como o Vaticano está acompanhando a situação?
O Vaticano está muito bem informado e acompanha de muito perto tudo o que acontece.
Há outro ataque contra cristãos que você cobriu extensivamente nos últimos dias, mas não recebeu a mesma cobertura da imprensa que o ocorrido ontem em Gaza. Estou falando do ataque à comunidade de Taybeh, uma vila cristã na Cisjordânia que tem sido fortemente alvo de colonos israelenses nos últimos dias, com casas e campos incendiados e moradores ameaçados.
Foi um episódio muito violento. Representantes de todas as igrejas cristãs estiveram em Taybeh nos últimos dias: expressamos nossa solidariedade à população. Graças à repercussão midiática que nossa visita gerou, a atenção sobre o ocorrido aumentou. Isso não agradou os colonos, como vocês podem imaginar. Não apenas Taybeh está na mira, mas também outra aldeia cristã na região. Estamos muito preocupados.
Imagino que você tenha relatado essa preocupação às autoridades israelenses: você recebeu garantias sobre a proteção dos cristãos?
As autoridades garantiram que estão fazendo todo o possível para retomar o controle da situação.