“Só haverá verdadeira paz quando a questão palestina for abordada”. Entrevista com  Pierbattista Pizzaballa

Foto: Jeremiah Amaya/Unsplash

Mais Lidos

  • A ideologia da Vergonha e o clero do Brasil. Artigo de William Castilho Pereira

    LER MAIS
  • Juventude é atraída simbolicamente para a extrema-direita, afirma a cientista política

    Socialização política das juventudes é marcada mais por identidades e afetos do que por práticas deliberativas e cívicas. Entrevista especial com Patrícia Rocha

    LER MAIS
  • Que COP30 foi essa? Entre as mudanças climáticas e a gestão da barbárie. Artigo de Sérgio Barcellos e Gladson Fonseca

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

25 Junho 2025

Patriarca Latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, 60 anos, nos recebe no dia em que, pela primeira vez em duas semanas, nesta região há um vislumbre de esperança, com o anúncio do cessar-fogo entre Israel e o Irã. Mas também no dia em que dezenas de pessoas foram mortas em mais um massacre alimentar em Gaza. É natural que a conversa com ele comece aqui: do drama da Faixa, da esperança, do futuro e do sonho de paz.

A entrevista é de Francesca Caferri, publicada por La Repubblica, 25-06-2025.

Eis a entrevista.

Cardeal Pizzaballa, o senhor conhece muito bem esta parte do mundo: vive em Jerusalém desde 1990, foi o Custódio da Terra Santa, hoje é o guia espiritual dos católicos da região e se encontra frequentemente com líderes políticos de Israel, Palestina e outros. Acredita que este cessar-fogo pode ser um primeiro passo rumo à paz?

Paz é uma palavra desafiadora. O cessar-fogo é importante porque evita que as tensões se espalhem pela região, mas a paz levará muito tempo e será muito difícil. E, de qualquer forma, qualquer esperança de paz será frágil e instável até que a questão palestina seja abordada.

O grande tema no coração da região. Que, no entanto, nestes dias de confronto direto entre Israel e Irã, foi novamente esquecido: apesar do que está acontecendo em Gaza, e também na Cisjordânia...

Exatamente. Mas até que a questão palestina seja abordada de forma séria e radical, qualquer futura estrutura regional — e quem sabe se uma nova estrutura será necessária — permanecerá incompleta. O mundo árabe está conectado: há fronteiras entre os vários Estados, mas também há laços muito fortes que vão além das fronteiras. A questão palestina é um desses laços. Não é a primeira vez que ela é deixada de lado: acontece, há altos e baixos. Infelizmente, falta visão política.

E o que é necessário para relançar essa visão?

Precisamos de uma nova liderança política. Não há ninguém capaz de fazer isso agora, de nenhum dos lados.

Qual é a posição dos cristãos nessa situação?

Somos poucos. É evidente que a nossa principal preocupação agora é com a pequena comunidade de Gaza: 541 pessoas que se tornaram um símbolo de resiliência em todo o mundo. Sou grato pelo testemunho que prestam, porque se encontram em condições extremamente difíceis, mas continuam a viver na fé. Mas a situação é muito complicada também na Cisjordânia: há uma deterioração contínua das condições de vida, postos de controlo, autorizações de trabalho canceladas, aldeias continuamente sujeitas à violência dos colonos sem que ninguém intervenha. É difícil ter uma vida normal, trabalhar, ir ao hospital, mudar-se: e não está claro quanto tempo durará, se e como terminará. Tudo isto cria uma sensação de insegurança, de desconfiança, de desorientação, complexa de descrever. Fala-se muito sobre a fome em Gaza: mas também na Cisjordânia há fome, porque as pessoas não têm dinheiro para comprar comida. Basta pensar nas famílias, e são milhares, que dependiam da indústria do turismo.

O que o Papa Leão pensa sobre tudo isso? O senhor já teve a oportunidade de discutir a situação com ele?

O Papa já mencionou Gaza em seu discurso de posse e repete a palavra paz continuamente: a situação certamente lhe é cara. Ele insiste muito na diplomacia e na necessidade de cristãos e igrejas em todo o mundo se tornarem defensores da paz.

Não é fácil ser um defensor da paz quando você corre o risco de ser morto na igreja enquanto reza, como aconteceu em Damasco…

Pensei muito sobre o que aconteceu e cheguei a duas conclusões: a primeira é que, infelizmente, ainda estamos pagando o preço de anos de doutrinação extremista. Meu segundo pensamento é que devemos evitar, mesmo da nossa parte, ceder à narrativa de conflito religioso. Precisamos, especialmente nestes tempos difíceis, ter a coragem de fazer gestos de fé e confiança: é difícil, mas não impossível, para aqueles que têm fé.

Você não tem medo de que o mundo se acostume com tanta violência e, consequentemente, se esqueça das pequenas comunidades que você lidera? De Gaza, dos cristãos e católicos da Cisjordânia, daqueles da região...

Acredito que, em meio a esta guerra atroz, a esta situação absolutamente dramática, o que devemos fazer é resistir: mas não passivamente. A palavra "resiliência" está muito na moda hoje: não a usarei diretamente, mas quero dizer que nosso esforço é continuar a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para estar presente. E também falar: diante do mal, temos o dever de dizer algo. As imagens de Gaza são imagens que tocam a humanidade: e em um contexto em que há uma tendência a desumanizar o outro, acredito que todo esse desejo de solidariedade que vemos em relação ao povo de Gaza é importante. Nós, como Igreja, além da pequena ajuda financeira que podemos dar, temos apenas uma arma: a palavra. E, portanto, continuaremos a falar. Sem vergonha e sem medo. Mesmo que a atenção do mundo se volte para outro lugar.

Leia mais