10 Julho 2025
"A Área C é onde vive a maioria dos colonos israelenses, atualmente junto com 200.000 palestinos. Os Acordos de Oslo II previam a transferência gradual do controle dessa área para os palestinos, mas isso nunca aconteceu".
O artigo é de Francesca Mannocchi, jornalista e documentarista italiana, publicado por La Stampa, 07-07-2025. A tradução é de Luisa Rablini.
Até agosto de 2005, Ayelet Shlaysel vivia em Gush Katif, o conjunto de 17 assentamentos israelenses no sul da Faixa de Gaza.
No ano anterior, em junho de 2004, o então primeiro-ministro Ariel Sharon havia proposto e aprovado o plano de retirada unilateral. Os oito mil habitantes israelenses iriam abandonar a área e as casas seriam destruídas. Depois de deixar Gush Katif, Ayelet Shlaysel viveu na colônia de Ariel até se mudar para Evyatar, há dois anos, quando ainda era um posto avançado de caravanas, sem água nem estradas pavimentadas. Ela estava lá quando o governo israelense tentou demolir as primeiras casas, estava lá para protestar com os ministros de extrema direita que defendem os postos avançados e os assentamentos, estava lá para reconstruir o que havia sido destruído e estava lá quando o governo cedeu no ano passado, reconhecendo Evyatar como um assentamento propriamente dito. Um status que garante aos colonos fundos estatais e a criação de escolas e jardins de infância nas comunidades.
A retirada unilateral de Gaza é para ela, como para muitos colonos extremistas, uma ferida que nunca cicatrizou. Parece que os anos passados em Ariel não existiram para ela, ou que são apenas um intervalo entre o assentamento na Faixa e o retorno que ela está planejando com o movimento Nachala.
Desde o início da ofensiva militar em Gaza, agora já completando vinte meses, Ayelet tem trabalhado ao lado de Daniella Weiss, a madrinha dos colonos, para elaborar uma lista de famílias prontas para se assentar novamente em Gaza "quando voltaremos a tomar o que nos pertence".
Para Ayelet, a comunidade em que vive é um símbolo da capacidade dos colonos de pressionar o governo e influenciar sua agenda e decisões. "Vemos Evyatar como um exemplo e temos que criar cada vez mais assentamentos, é a nossa missão, e sabemos que o governo se renderá, porque os governos têm que fazer o que o povo quer e nós queremos todas essas terras".
Ela fala isso enquanto caminha pelas ruas recém-asfaltadas do assentamento, mostrando o novo prédio da escola, listando as famílias que acabaram de chegar, a última com dez filhos, a penúltima com nove. Porque, ela explica, "é assim que se vencem as guerras com os inimigos vizinhos, tendo mais filhos do que eles, tomando suas terras".
E também, é claro, pressionando o governo e obtendo sucesso. Os números falam por si: no final de maio, 22 novos assentamentos foram aprovados: a maior anexação das últimas décadas.
No final de maio, o governo israelense anunciou a maior expansão de assentamentos das últimas décadas. Vinte e dois novos assentamentos, incluindo a legalização de postos avançados construídos sem autorização do governo. A moção foi apresentada pelo ministro da Defesa, Israel Katz, e pelo ministro das Finanças, de extrema direita, Bezalel Smotrich, que mora no assentamento de Kedumin, o mesmo de Daniella Weiss, a promotora de Nachala e do projeto de um futuro (nem tanto) reassentamento em Gaza. Por ocasião da apresentação da moção, o ministro Katz disse que se tratava de "uma ação que fortalece o controle de toda a Judeia e Samaria (o nome bíblico da Cisjordânia) e uma manobra estratégica para impedir a criação de um Estado Palestino".
A legalização e a construção de novos assentamentos são consideradas pelo movimento dos colonos como "a decisão mais importante desde 1967", não apenas pela expansão em si e pela anexação de territórios, mas porque fortalecerão a presença israelense ao longo da rodovia 443, que liga Jerusalém a Tel Aviv. "É apenas o começo", explica Ayelet. "É apenas o começo e temos quem nos escuta e nos representa no governo".
No ano passado, em um áudio divulgado pela organização israelense de direitos humanos Peace Now, que monitora os assentamentos, o ministro Smotrich afirmou que os confiscos de terras em 2024 haviam excedido em dez vezes a média dos anos anteriores e disse que "essas são decisões que mudarão radicalmente o mapa".
Mas a posição de Smotrich não se limita ao seu partido, o Sionismo Religioso, ou às franjas mais extremistas do governo de Netanyahu. Na semana passada, ministros do Likud, o partido de Netanyahu, pediram numa petição pública a anexação total da Cisjordânia antes do recesso do Knesset, o parlamento israelense, no final de julho. A petição foi assinada por 15 ministros do governo e pelo presidente do Knesset, Amir Ohana. "Nós, ministros e membros do Knesset, pedimos a aplicação imediata da soberania e da lei israelense sobre a Judeia e a Samaria", escreveram. "A tarefa deve ser concluída, a ameaça existencial deve ser eliminada de dentro. Este é o momento propício para seguir em frente".
Com o apoio do novo governo estadunidense e o apoio determinado pelo que a petição define como "o resultado histórico da guerra contra o Irã". Há dez dias, o ministro da Justiça, Yariv Levina, também lançou o mesmo apelo público pela anexação. Durante um encontro com o líder dos colonos Yossi Dagan, chefe do Conselho Regional da Samaria, ele disse: "Acho que este período é um momento de oportunidade histórica que não devemos perder. Chegou a hora da soberania".
Ayelet mostra orgulhosamente o abrigo recentemente construído com fundos que particulares doaram à associação Nachala. São, em sua maioria, estadunidenses.
"Israel deve agora mostrar a mesma força que demonstrou com o Irã aqui, na fronteira sul, em Gaza", afirma, como se o horror desses vinte meses não lhe bastasse. "Acho que o Estado, se for um Estado de verdade, deve vir à Judeia e Samaria e declarar que tudo é nosso e que deve fazer o mesmo em Gaza. Temos mil famílias prontas, imediatamente, já agora".
Ayelet também acredita que cada posto avançado que se torna um assentamento real é uma motivação para outros, uma prova de que a anexação é realista e de que a perspectiva histórica de um único Estado, do rio ao mar, está mais próxima do que nunca.
"Todos estão fazendo o que podem para alcançar esse objetivo: aqueles que podem ir a lutar o fazem, e aqueles como eu, que não podem, lutam outra guerra: o assentamento".
Hoje, existem 144 assentamentos oficiais e 224 postos avançados. 60% da área está sob controle civil e militar israelense. Embora os assentamentos na Cisjordânia sejam ilegais segundo o direito internacional, no momento existe um total de 144 assentamentos oficiais e 224 postos avançados. A construção e a anexação se aceleraram desde que o governo Netanyahu assumiu o poder no final de 2022.
Em dois anos e meio, o governo aprovou 49 novos assentamentos oficiais e ordenou a demolição de numerosas casas palestinas, forçando comunidades inteiras a sair. Em 1993, sob os auspícios do governo Clinton, o governo israelense e a Organização para a Libertação da Palestina assinaram os Acordos de Oslo, que dividiam a Cisjordânia em três áreas: Áreas A, B e C. Estas não são áreas demarcadas, mas uma diferenciação entre cidades e vilarejos palestinos e áreas sob controle civil e militar israelense, que constituem cerca de 60% da área total da Cisjordânia.
A Área C é onde vive a maioria dos colonos israelenses, atualmente junto com 200.000 palestinos. Os Acordos de Oslo II previam a transferência gradual do controle dessa área para os palestinos, mas isso nunca aconteceu.