10 Abril 2025
A informação é publicada por Vatican News, 09-04-2025.
De Gaza chega o testemunho do pároco da Sagrada Família, o padre Gabriel Romanelli, que confirma a proximidade do Papa Francisco com a população exausta pela guerra. Há alguns dias, relata o sacerdote, o Papa voltou a ligar, da Casa Santa Marta, onde está passando o período de convalescença: "O Papa ligou, saudou, perguntou como estávamos, como estava o povo". A exultação dos pequenos, sua gratidão por esse novo gesto de ternura.
O Pe. Romanelli em uma foto de arquivo pessoal.
"As pessoas ficaram muito felizes ao saber que ele havia ligado. Quando ele ligou, estávamos na porta da reitoria, dentro do recinto, e as crianças e os jovens começaram a gritar 'Viva o Papa', em árabe e em italiano", relata o padre Gabriel.
"Ele enviou sua bênção, sua oração. Foi uma ligação breve, mas muito sentida, muito apreciada. Dissemos a ele que estávamos muito felizes por tê-lo visto no domingo durante o Angelus e por termos ouvido mais uma vez seu apelo pela paz. A situação é realmente terrível em toda a Faixa de Gaza — continuou o sacerdote —, por isso valorizamos muito sua proximidade, sua oração e sua preocupação por todos. Agradecemos a ele".
O pároco confirma que as condições em que vive a população da Faixa são inimagináveis, tal como as descreveu o Papa no Angelus transmitido no domingo, 6 de abril. E continua fazendo um apelo para que a oração não cesse: “Rezem muito pelo dom da paz e trabalhem pela paz. Convençam a todos, a todos os responsáveis das nações, de que a paz é possível. Enquanto continuar este conflito armado, basicamente nenhum problema será resolvido. É exatamente o contrário”.
Ele está convencido de que é necessário “convencer para que esta guerra termine com todas as condições que interessam ao povo, a esta parte do povo palestino, mas para o bem de todos — palestinos e israelenses. Rezar e trabalhar pela paz e pela justiça. É preciso pôr fim a esta guerra o quanto antes. Aqui vivem mais de dois milhões de pessoas”.
Foto: Vatican Media
Romanelli explica que, providencialmente, a comunidade cristã, “graças a Deus e à ajuda constante do Patriarcado Latino de Jerusalém”, está bem — na medida em que essa palavra pode ter sentido num contexto como este. “Junto com nossos 500 refugiados e nossos vizinhos muçulmanos do bairro de Zeitoun, por enquanto estamos bem, apesar de que tudo começa a faltar. Em outros bairros, falta tudo: comida, água; a crise já existia antes da guerra e nem se fala agora, depois de um ano e meio de guerra”.
“A emergência alimentar, de água e de medicamentos é muito urgente em toda a Faixa”. A imagem de territórios fantasmas é descrita pelo próprio padre Gabriel, e no meio da devastação não falta a ajuda: “Gaza é uma prisão, tornou-se uma jaula, uma grande jaula. Fazemos o bem às pessoas, tudo o que podemos, aos centenas de refugiados, às milhares de famílias civis muçulmanas que nos cercam. Ajudamos a todos, cristãos e não cristãos, tentamos realmente ser um instrumento de paz para todos”.
Foto: Vatican Media
É uma verdadeira Quaresma, uma cruz pesada, a que vive a população de Gaza, que tenta não se resignar por completo. “Sim, mas contamos com a ajuda do Senhor, das pessoas de boa vontade que realmente desejam a paz”. O apelo, mais uma vez, é para rezar pela paz e trabalhar pela paz e pela justiça. “Convencer todo o mundo de que esta guerra precisa acabar. Esse é o primeiro passo necessário. E depois, dar esperança de que é possível continuar vivendo na Faixa de Gaza sem serem deslocados”, diz o pároco, que afirma que, a esta altura, já nem se sabe quantas pessoas ainda estão na Faixa.
“Continua-se falando de 2,3 milhões de pessoas. Na cidade de Gaza, antes da guerra, éramos um milhão e cem mil no norte; depois, durante a guerra, ficaram 400 mil. Quando começou o cessar-fogo, calcula-se que pelo menos 300 mil pessoas voltaram do sul para o norte. Agora, ninguém sabe ao certo…”.
Diante da hipótese de que Gaza poderia se tornar uma praia turística com a retirada da população residente, ainda que exaurida, o padre Romanelli respondeu de forma categórica: “Devemos respeitar o direito de todo ser humano, independentemente de sua cidadania, sua religião, sua situação. Os palestinos desta parte da Terra Santa são 2,3 milhões de pessoas, são seres humanos! Um dos direitos humanos — continua ele — universalmente reconhecidos é o direito de ter uma terra própria. As pessoas são sujeitos de direitos, não objetos. As pessoas não podem ser deslocadas e privadas de seus direitos, em primeiro lugar o direito à vida, e depois o direito de estar em sua própria terra, de receber cuidados, de ter propriedades, seus afetos, seus negócios. A verdadeira paz deve ser construída sobre a justiça, não sobre a injustiça”.
Foto: Vatican Media