08 Abril 2025
A Sociedade do Crescente Vermelho Palestino (PRCS, na sigla em inglês) pediu nesta segunda-feira (7) uma investigação internacional independente sobre as mortes de 15 paramédicos, em 23 de março, atingidos por disparos israelenses durante uma intervenção para atender feridos perto de Rafah, no sul da Faixa de Gaza. O exército de Israel admitiu que seus soldados "cometeram erros" na abordagem das ambulâncias, de um carro da ONU e um caminhão de bombeiros da Defesa Civil palestina.
A reportagem é publicada por RFI, 07-04-2025.
"Pedimos ao mundo que estabeleça uma comissão internacional independente e imparcial para esclarecer as circunstâncias do assassinato deliberado de pessoal de ambulâncias na Faixa de Gaza", disse o presidente da organização, Younis Al Khatib, a repórteres em Ramallah, na Cisjordânia ocupada. "Por que você escondeu os corpos?", continuou Khatib, como se estivesse interrogando um soldado hebreu.
Os disparos israelenses mataram oito paramédicos do Crescente Vermelho Palestino, seis membros da agência de Defesa Civil de Gaza e um funcionário da agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês). Seus corpos foram encontrados enterrados perto de Rafah no que o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) descreveu como uma vala comum.
Inicialmente, o Exército de Israel afirmou que seus soldados "não atacaram aleatoriamente" nenhuma ambulância. Suas forças teriam disparado contra "terroristas", que se aproximaram em veículos "suspeitos" na escuridão. Um porta-voz militar, o tenente-coronel Nadav Shoshani, disse que as tropas abriram fogo contra veículos que não tinham autorização prévia das autoridades israelenses e que estavam com as luzes apagadas.
Mas imagens de celular divulgadas no sábado (5), filmadas por um dos paramédicos que foi morto, mostraram que os veículos de resgate estavam com as luzes acesas, contrariamente às alegações de Israel.
A divulgação do vídeo obrigou o exército israelense a recuar e admitir que seus soldados haviam errado ao abrir fogo contra o grupo de socorro em emergências.
Na noite de sábado, um oficial das forças de defesa israelenses (IDF) informou os jornalistas que os soldados haviam disparado anteriormente contra um carro com três membros do Hamas.
Questionado sobre o fato de os paramédicos terem sido enterrados em uma vala comum, e seus corpos cobertos com areia, o oficial israelense disse que foi para evitar que animais selvagens ou cachorros se alimentassem dos restos mortais dos 15 socorristas. Os veículos foram removidos do local, no dia seguinte, para liberar a estrada, acrescentou.
O caso provocou uma onda de indignação de agências da ONU, ONGs internacionais de defesa dos direitos humanos e governos.
O governo alemão defendeu nesta segunda-feira uma investigação urgente sobre as denúncias.
"Há perguntas importantes sobre as ações do Exército israelense", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Christian Wagner, depois que novas imagens sobre o incidente vieram à tona. "Uma investigação e a responsabilização dos perpetradores são urgentemente necessárias", acrescentou.
No vídeo encontrado no celular do socorrista morto, identificado como Rifaat Radwan, é possível ouvir as vozes de dois médicos. "O veículo, o veículo", diz um deles. "Parece um acidente", pontua outro.
A filmagem, com seis minutos e 42 segundos de duração, captura um caminhão de bombeiros vermelho e ambulâncias circulando à noite. Os veículos param um ao lado do outro na beira da estrada e dois homens, devidamente vestidos com uniformes de socorristas, saem dos carros. Momentos depois, há um intenso tiroteio e a tela fica preta.
No vídeo, o paramédico que filma o incidente recita a declaração de fé, a "shahada", tradicionalmente dita pelos muçulmanos antes da morte, enquanto o ruído das rajadas de tiros continua de forma incessante.
"Não há divindade além de Deus, e Maomé é seu mensageiro", ele repete várias vezes, com a voz trêmula de medo. "Perdoe-nos, rapazes, perdoe-me, mãe, porque eu escolhi esse caminho, o caminho de ajudar as pessoas."
Ele então repete: "Deus, aceita meu martírio e me perdoa". Perto do final do vídeo, enquanto o tiroteio continua, ele diz: "Os judeus estão chegando, os judeus estão chegando", referindo-se aos soldados israelenses.
Antes do vídeo terminar, uma voz masculina falando em hebraico pode ser ouvida dizendo: "Espere, estamos chegando. Nós não somos responsáveis, vocês são". Não se sabe quem está falando e a quem a pessoa está se dirigindo.
Segundo o Crescente Vermelho Palestino, "este vídeo refuta categoricamente as alegações do ocupante de que (...) certos veículos se aproximaram de maneira suspeita, sem luzes ou sinais de identificação".
Red Crescent demands international probe into Israel killing of Gaza medics https://t.co/FLndSWWfYR
— Al Jazeera English (@AJEnglish) April 7, 2025
Um jornalista palestino foi morto e outros nove ficaram feridos na manhã desta segunda-feira (7) em um ataque aéreo israelense contra uma tenda usada pela mídia local no sul da Faixa de Gaza, segundo fontes médicas e o Sindicato de Jornalistas Palestinos. A morte de Helmy al-Faqawi eleva para mais de 210 o número de jornalistas mortos desde o início do conflito, em outubro de 2023. Israel proíbe a entrada de jornalistas estrangeiros no enclave.
Em imagens de vídeo, que a agência Reuters confirmou a autenticidade, civis tentam apagar o incêndio provocado pelos explosivos. A tenda ficava dentro do terreno do Hospital Nasser, em Khan Yunes.
Outras imagens não verificadas, mas amplamente compartilhadas nas redes sociais, mostram o corpo do jornalista sendo consumido pelas chamas e outra pessoa tentando ajudá-lo. Um segundo palestino foi morto no ataque, de acordo com fontes médicas.
Israel alegou que o homem morto era um "terrorista" que se fazia passar por um jornalista.
Fontes médicas de Gaza indicam que os bombardeios israelenses já mataram pelo menos 20 palestinos nesta segunda-feira.
Palestinos na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Oriental fazem uma greve geral para exigir o fim da guerra entre Israel e o Hamas. O conflito já dura um ano e meio e inflige à população civil de Gaza um cotidiano desumano.