16 Junho 2025
"Se Trump, excitado pela presença estadunidense do Vaticano — esse é para ele, o advento de Leão XIV — espera surfar um catolicismo pós-franciscano disponível para oferecer um suplemento de alma ao seu duro magistério, engana-se. Assim como se ilude o alto clero da Madre Igreja ao confiar ter destacado um cupom dourado ao escolher um sucessor estadunidense para Pedro."
O artigo é de Lucio Caracciolo, jornalista e analista geopolítico italiano, diretor da revista Limes, publicado por la Repubblica de 13-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Leão XIV encarna a dupla crise dos EUA e da Igreja Católica. Versão contemporânea da antiga tensão entre império e papado. Sujeitos incomparáveis por natureza que por constituição excedem a si mesmos. Nascidos para redimir o mundo segundo seus próprios princípios. Com a arma do poder em todas as suas dimensões expressa hoje na Terra, depois de amanhã talvez em outros planetas, os EUA. Com a intenção de converter a humanidade à presença do Reino de Deus encarnado em Cristo, a Igreja de Roma, mediadora entre o Céu e a Terra.
Missões tão impossíveis quanto irrenunciáveis. Sua própria identidade está em jogo. Cada uma, em seu próprio plano, vive e sofre com a crisma original do Ocidente, ao qual ambas de forma diferente se reportam: o universalismo. Parte que se sonha inteira. Sonho se transformando em pesadelo para os Estados Unidos, que temem morrer mundializados por terem ousado americanizar o mundo. Ao contrário, a Igreja que, com Francisco, delineou a saída para as periferias, constata que as ovelhas não se sentem muito atraídas pelo pastor, muitas vezes fogem dele. Principalmente em seu núcleo de origem, europeu e ocidental. E se a Igreja em saída saísse de si mesma?
Ao novo Papa, veremos se mais híbrido ou estadunidense, cabe a tarefa de estabelecer em concerto sinodal a trajetória do povo de Deus. À sua pátria natal, discernir se e como explorar sua esteira para se curar.
O ar dos tempos nos informa que Washington e Roma não seguirão trajetórias paralelas, muito menos solidárias, para curar a doença que pareceria afetar a ambas. A instituição temporal dotada de religião civil, o american way of life, opta com Trump por uma dieta geopolítica emagrecedora: nada de aventuras no vasto mundo, fortificação do reduto norte-americano com expansão ártica. Fiel à tradição ocidental deturpada por iluministas, positivistas e comunistas.
A outra, de inspiração celeste e inculturação variada nos territórios de missão marcados pelas dioceses, legado romano tardio, não tem concha para onde se recolher sem se desfigurar. A abertura ao ecúmeno é sua razão de ser. A ser modulada segundo uma geopolítica eclesiástica que deve ser sempre atualizada. Nunca se subordinando ao Número Um do momento.
Se Trump, excitado pela presença estadunidense do Vaticano — esse é para ele, o advento de Leão XIV — espera surfar um catolicismo pós-franciscano disponível para oferecer um suplemento de alma ao seu duro magistério, engana-se. Assim como se ilude o alto clero da Madre Igreja ao confiar ter destacado um cupom dourado ao escolher um sucessor estadunidense para Pedro.
O óbolo da Fundação Papal e de outros prometidos patrocinadores estadunidenses tem condições, tem vínculos rigorosos, como informam os "doadores" se equilibrando entre Deus e Mamon.