20 Mai 2025
Leão XIV olha o mundo com sabedoria agostiniana e, como primeiro papa estadunidense, sabe que deve cobrir-se ao leste para poder reequilibrar a oeste a geopolítica pós-Francisco. Ele terá um perfil atlantista, enquanto o secretário de Estado, Pietro Parolin, dialogará com o Oriente. Um duplo trilho necessário para evitar desequilíbrios”, observa um ex-ministro do Vaticano algumas horas após o discurso de Robert Francis Prevost ao corpo diplomático. O veterano diplomata acrescenta ao La Stampa: “Sobre a Ucrânia, a Santa Sé já se reposicionou com intervenções mais rígidas em relação à Rússia após as brechas de indulgência de Francisco, o primeiro pontífice da história a se encontrar com o patriarca de Moscou. A ‘terceira guerra mundial em pedaços’ está ensanguentando 56 nações e Leão não hesita: quer ser a voz dos povos esquecidos”.
A informação é de Giacomo Galeazzi, publicado por La Stampa, 16-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os conflitos na Terra Santa e na Índia-Paquistão. A questão da imigração que contrapõe Norte e Sul da América. A mobilização do Jubileu pelo perdão da dívida que impede a África de se reerguer. Temas nevrálgicos da diplomacia do "novo Papa", determinado a exercer sua "persuasão moral" em escala global para partir do que une e não do que divide. No tabuleiro de xadrez internacional, Leão XIV desempenha o papel de negociador. Enquanto isso, as chancelarias europeias começam a interagir com ele. Ontem houve o primeiro contato com Giorgia Meloni, no centro da conversa telefônica a paz. E a inteligência artificial, para a qual é necessário "um desenvolvimento ético e a serviço ao homem". A Primeira-Ministra confirmou sua disposição em trabalhar em estreita colaboração com a Santa Sé. A Itália "aprecia e apoia os esforços da Santa Sé para pôr fim aos conflitos em todos os cenários de crise em que as armas substituíram a discussão e o diálogo".
O presidente francês, Emmanuel Macron, também conversou com o Papa sobre como "alcançar uma paz duradoura e sustentável na Ucrânia e em Gaza". A França "estará sempre ao lado daqueles que trabalham pela paz e pelo diálogo entre os povos", compartilhando "a ambição de conciliar a luta contra a pobreza com a proteção do planeta". Leão XIV compartilha com seu antecessor a convicção de que "o futuro da Igreja está na Ásia"; portanto, pretende garantir melhor as prerrogativas da Igreja Católica na China, talvez também com uma revisão do acordo de 2018 sobre a nomeação de bispos. Ele almeja verdadeiras negociações de paz em Mianmar e o restabelecimento de relações plenas com o Vietnã. O programa de Prevost baseia-se em suas experiências missionárias e pastorais no Peru e a formação em sua ordem religiosa.
A atenção será então direcionada para Mianmar, devastado pela guerra, o terceiro conflito mais mortal do mundo, depois daquele entre Israel e Palestina e Ucrânia. As negociações com a China, um dos principais aliados do regime de Naypyidaw, juntamente com a Rússia, são indispensáveis, dada a influência que Pequim exerce desde que o exército derrubou o governo eleito em 2021. A partir daí, o país mergulhou em uma guerra civil. Leão oferece o Vaticano como "lugar de mediação". Com um encontro cara-a-cara em São Pedro, no funeral de Francisco, Donald Trump e Volodymyr Zelensky derreteram o gelo após o confronto na Casa Branca. O diretor daquele encontro foi Parolin, segundo o qual "somente por meio de um discernimento cuidadoso e observação precisa da realidade em constante mudança é possível atribuir significado aos eventos globais e propor ações concretas". O diplomata pontifício, afirma o Secretário de Estado do Vaticano, "não é apenas um especialista em técnicas de negociação, mas uma testemunha de fé, empenhado em superar barreiras culturais, políticas e ideológicas e em construir pontes de paz e justiça".
Uma abordagem que, na sucessão dos pontificados, permite à Igreja "desenvolver percursos concretos para a paz, para a liberdade religiosa de cada crente e para a ordem entre as nações, tendo sempre em mente a missão de Cristo e o bem de toda a humanidade". Na audiência com as Igrejas Orientais por ocasião do seu Jubileu, Leão XIV exclamou: "Os povos querem a paz e eu, com o coração na mão, digo aos líderes dos povos: vamos nos encontra, dialogar, negociar!" Um apelo tão explícito e "global" que já soa como o manifesto do pontificado.