19 Mai 2025
“Um Papa sempre herda o que seu antecessor fez e o leva adiante à sua maneira. Nesse sentido, há continuidade e inovação.”
Francisco ficaria feliz com Leão. O cardeal Michael Czerny, jesuíta como Bergoglio e prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, está convencido disso e destaca como o novo Papa pretende envolver mais cardeais e bispos em seu governo.
A entrevista é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 19-05-2025.
O que você pensou quando o Papa disse que ele havia sido eleito “sem nenhum mérito”?
É obviamente uma expressão de humildade, mas é também uma forma de reconhecer o mistério da sua eleição, que é o mistério da eleição de cada Papa, e que acontece graças ao Espírito Santo. Não há correlação óbvia entre esforço e resultados.
Leão disse: o Papa não é um “líder solitário”, mas caminha com os irmãos: Sínodo significa “caminhar juntos”.
Exatamente, acho que ele expressou o conceito de Sínodo, e acho interessante não usar sempre o termo Sínodo, que muitos não sabem bem o que significa, mas outras expressões que se entendem melhor. Acredito que o Papa sinalizou sua intenção de viver de forma mais explícita e intensa sua relação com os cardeais e bispos, como pensaram e disseram muitos participantes das congregações gerais.
Houve muitos aplausos na Praça São Pedro quando Leão recordou a figura de Francisco: o que será feito do seu legado?
Um Papa sempre herda o que seu predecessor e todos os seus predecessores fizeram, se esforçaram para alcançar, ensinaram e leva adiante à sua própria maneira. Nesse sentido, há sempre continuidade e inovação. Estou convencido de que as prioridades de Francisco serão desenvolvidas e levadas adiante por Leão.
Leão falou claramente sobre Gaza: alguns pensaram que em política externa o Papa americano teria posições diferentes…
Ele não é um Papa americano, é um Papa que vem das Américas. Não creio que seu ponto de referência seja a política externa americana, assim como Francisco não tratou a Argentina como uma prioridade específica. Leão é o Santo Padre e tem ampla experiência.
O Papa falou sobre a unidade da Igreja, sublinhando que a unidade “não anula as diferenças”: esta ênfase é importante?
Muito. Há quem defenda a unidade, pensando que suas preferências e prioridades devem ser as de todos. Mas unidade não é uniformidade, e isso é fundamental na vida de uma Igreja que existe em todas as culturas e em todos os países. É a Santa Igreja Romana, não uma Igreja Universal Latina, uma Igreja Universal Branca ou uma Igreja Universal do Primeiro Mundo.
Leão parece ter uma personalidade muito calma, mas também o vimos ficar emotivo: o que esperar? Um homem de surpresas?
Se o termo surpresa se refere a Francisco, que de fato iniciou processos surpreendentes, eu diria que o Papa Leão levará esses processos a termo, os desenvolverá, os estimulará, os administrará, os acompanhará. Penso que, para o Espírito, os processos iniciados por Francisco devem ser levados adiante: não repetidos, mas levados adiante, que é o que Leão fará.
“Quando um Papa morre, outro é feito” é mais do que uma piada: Francisco morreu há menos de um mês, Leão já se sente confortável sendo Papa. Não é chocante?
Sim, enorme. Vivemos um mês que parece um ano. Foi uma experiência incrível. Penso que desde o momento em que Francisco morreu até hoje, nós e toda a Igreja fomos levados pelo rio da tradição: não é preciso inventar tradição, não é preciso se preocupar com ela, não é preciso desperdiçar energia discutindo sobre ela. Quando você está no rio, você não se preocupa com o rio, ele já está lá fluindo. E dentro desta tradição, nós, cardeais, demos tudo de nós. Não vi ninguém ausente, distraído ou entediado. Graças ao Espírito Santo conseguimos esse resultado. Graças à tradição, graças a uma extraordinária criatividade, abertura, sensibilidade ao Espírito, feitas coletivamente, em conjunto.
O Papa Francisco ficaria feliz com o Papa Leão?
Sim, não tenho dúvidas.