03 Mai 2025
O cardeal Walter Kasper, 92 anos, por dez anos responsável pela Santa Sé nas relações com outras confissões cristãs e com os judeus, é um dos mais importantes teólogos contemporâneos, amigo e antagonista de Joseph Ratzinger desde que estavam na Universidade de Münster, na década de 1960, meio século de enfrentamentos e “duelos” intelectuais. Francisco confiou a ele a apresentação introdutória do Sínodo sobre a família e o elogiou publicamente como modelo de “teologia de joelhos”. Em seu primeiro Angelus, em 17-03-2013, explicou aos fiéis que tinha acabado de ler o livro de Kasper intitulado Misericordia, “e me fez muito bem, esse livro, essa palavra muda tudo, muda o mundo, precisamos entender bem a misericórdia de Deus...”.
A entrevista é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 01-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Como vê o clima destes dias? O que acontecerá, Eminência?
O que você quer que eu diga, não sou profeta, não sei como isso vai terminar. Porém, Francisco foi amado por muitos, como se viu nas multidões que vieram a Roma para seu funeral, no afeto geral. E isso tem um significado, também para nós...
E o que significa todo esse afeto?
Foi uma espécie de voto do povo. É claro que as pessoas podem não ter conhecimento de todas as questões que precisam ser discutidas nestes dias, mas a mensagem fundamental é clara: o desejo de que o próximo seja um Papa, fundamentalmente, nos moldes de Francisco. É natural que os papas sejam diferentes, mas o importante é que ele continue no essencial.
E o que é isso, o essencial?
Sua proximidade com as mulheres e os homens de nosso tempo, com todos. Francisco foi um bom pastor, um pastor de seu rebanho. Quem vier depois dele não poderá ser outro Francisco, mas será importante que saiba continuar a estar próximo das pessoas, a dar testemunho de uma vida simples como Bergoglio sempre fez.
Há algo irreversível no pontificado de Francisco, do qual não haverá retorno?
Isso eu não sei, é difícil dizer agora. Espero que não, que não se volte atrás, não faria sentido.
Quando vocês se conheceram?
Eu o vi pela primeira vez vários anos antes de ele ser eleito Papa, eu o conheci em Buenos Aires. Alguns de seus colaboradores haviam me falado sobre o arcebispo empenhado a favor dos pobres, sobre seu trabalho pastoral nas favelas, os bairros mais pobres da periferia da capital. Gostei imediatamente dele, também por causa de seu rigor evangélico, da distância que ele sabia manter com o então presidente da Argentina. Conheci uma pessoa muito simpática e, de fato, um bom pastor. Já naquela época, era possível ver que as pessoas gostavam muito dele. Depois eu o encontrei novamente em Roma...
E o que aconteceu?
Que eu revi no Papa a mesma alma de um pastor com o povo, no meio do povo. Sua proximidade com todos, a começar pelos últimos da terra.
Mas há algum aspecto em particular que expresse essa proximidade, um exemplo para o sucessor?
A linguagem. A capacidade de se comunicar com todos, mesmo fora dos limites da Igreja Católica. O bom pastor pode se dirigir ao povo e consolá-lo se for capaz de se expressar em linguagem simples e direta, não por meio de uma linguagem abstrata e remota, mas por meio de imagens que todos podem entender, como nos Evangelhos, afinal.
O conclave chegará a um acordo logo?
É difícil dizer, mas espero que sim.