29 Abril 2025
“Ele queria uma Igreja que fosse uma casa para todos, para todos”. As palavras do Cardeal Giovanni Battista Re, durante o funeral de Francisco, marcam o ritmo para o futuro.
O artigo é de Paolo Rodari, jornalista, publicado por Il Manifesto, 24-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O sucessor de Bergoglio, quem quer que seja, não poderá trair essa profunda convicção: a Igreja Católica deve ser uma casa para todos, sem pontes levadiças em suas entradas, sem ninguém pedindo carteiras de identidade especiais para aqueles que batem à porta. Essa é sua mensagem mais profunda. Assim como Jesus sentava à mesa com os “pecadores”, todos podem se sentar à mesa da Igreja.
O momento do funeral do Papa não é secundário em vista do que vai acontecer em seguida, os dias das congregações gerais que precedem o Conclave.
Joseph Ratzinger, em 2005, proferiu uma homilia durante as exéquias de João Paulo II que efetivamente o lançou para a eleição. Não é o caso de Re, é óbvio, mas as palavras que ele proferiu na homilia de sábado traçam o caminho para um conclave incerto sobre os nomes, mas não sobre os temas.
Sinodalidade, maior colegialidade, abertura ao mundo, um olhar proativo sobre os temas da moral sexual e os temas eticamente sensíveis, nenhuma ruptura com a tradição, mas aberturas aos desafios que o mundo já assumiu para si, a discussão sobre a obrigatoriedade do celibato para os sacerdotes, a reforma do papado, o acolhimento de todos, a paz no mundo, esses são alguns dos desafios de que aquele que se sentará no trono de Pedro não poderá se desviar de forma alguma.
Mas, acima de tudo, o estilo de governo. Francisco não mudou a doutrina da Igreja, é certo. Sobre ela, ele se manteve um conservador. Mas o estilo da proximidade e da normalidade, desde aquele “boa noite” proferido na noite de 13 de abril de 2013, quando ele apareceu vestido de branco na loggia central da basílica do Vaticano, marca um novo ritmo.
O muro de separação entre o pontífice e o povo foi definitivamente derrubado. E não haverá mais volta.
“Apesar de sua fragilidade e sofrimento finais, o Papa Francisco escolheu trilhar esse caminho de doação até o último dia de sua vida terrena”, lembrou Re no sábado, que chamou Bergoglio de “papa entre o povo”. E essa doação não poderá deixar de ser seguida também por aquele que o substituirá.
O conclave que será aberto daqui a poucos dias continua sendo um dos mais incertos da época contemporânea. Se em 2005 Ratzinger e Martini eram as figuras principais, e se em 2013 Bergoglio e Scola de fato catalisaram os votos dos cardeais desde o início, hoje tudo é menos decifrável.
Parolin e Tagle são certamente dois nomes papais. Mas com eles muitos outros. A idade contará, o futuro papa não poderá ser jovem demais, mas também terá que ser ponderada a propensão de encarnar a Igreja nos desafios da época sem perder a identidade. Tanto Tagle quanto Parolin têm essas características, sendo o primeiro mais carismático e o segundo mais comedido e moderado.
Pizzaballa e Zuppi também são figuras bem vistas e que transmitem autoridade, inclusive por terem trabalhado em cenários difíceis, em Jerusalém o primeiro, em Moçambique na época do acordo de paz o segundo.
Francisco nunca declarou ter favoritos. Ele sempre confiou o futuro, como costumava dizer, ao Espírito Santo, mas também a cardeais que quis nomear “pescando-os” de todas as partes do mundo. A maioria deles não se conhece. Agora começam os dias decisivos de confronto, para se conhecer uns aos outros, se olhar e decidir sobre o futuro. Nessa fase, os aqueles com mais de 80 anos também terão um peso decisivo. Os cardeais Bagnasco, Bertone, Ruini, Re e muitos outros tentarão ajudar os eleitores a criar um consenso para a personalidade certa.
Em 2013, foram primeiramente Maradiaga e Kasper que pressionaram por Bergoglio, sua ação durante o conclave, até mesmo nos intervalos para o almoço e o jantar. Depois, é claro, Bergoglio fez sua parte que surpreendeu o colégio de cardeais durante uma congregação geral que precedeu o próprio conclave. Ele contou que via Jesus como que aprisionado, e quem o mantinha acorrentado era a própria Igreja. Ele precisava libertá-lo. Foi esse discurso a chave que levou à eleição. Isso também terá que acontecer nessas próximas horas. A partir dos discursos dos papáveis, tudo ficará mais claro.