25 Abril 2025
Para Francisco, a presença das mulheres representou um elemento decisivo para ir além do clericalismo: em sua opinião, permitir que elas tivessem acesso à ordenação sacerdotal significaria fortalecer ainda mais o sistema clerical que moldou o cristianismo desde a Idade Média e que foi progressivamente fortalecido na Igreja Católica após a Reforma Protestante. Para Francisco, a ordenação sacerdotal de mulheres teria desacelerado ainda mais o processo de desclericalização da Igreja Católica, que, pelo menos em parte, até mesmo o Concílio havia reconhecido como um dos desafios para o futuro.
O artigo é de Artigo Marinella Perroni, professora emérita do Pontifício Ateneu Sant'Anselmo de Roma, publicado em Avvenire, 23-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um pontificado não se julga no momento da morte de um papa. Certamente, as palavras e os gestos são avaliados ao longo do seu curso. De fato, todos aqueles que, por meio do batismo, se tornam parte da Igreja Católica são, apesar de sua forma piramidal de governo e de seu princípio altamente centralizado de autoridade, irmãos e irmãs que não são chamados a estar na comunidade eclesial como súditos nem como espectadores, mas a contribuir para sua edificação como pedras vivas (1Pe 2,4). Um pontificado, porém, é um evento histórico que, como tal, deverá ser avaliado quando a devida distância dos fatos e, sobretudo, a localização de cada um deles e de seu conjunto puderem ser consideradas dentro da densa malha de processos históricos dos quais até mesmo uma comunidade religiosa de um bilhão e trezentos milhões de fiéis constitui um elemento significativo.
Também é verdade, no entanto, que o impacto de um pontificado pertence à crônica do dia-a-dia, desde o momento da eleição até a morte do papa ou, como agora tornou totalmente plausível Bento XVI, sua eventual renúncia. Não há dúvida, portanto, de que o pontificado de Francisco também será julgado pela história pelas atitudes adotadas e, acima de tudo, pelas escolhas feitas com relação ao que tem sido um dos temas históricos mais importantes que despontaram também na Igreja nos últimos dois séculos: as mulheres. No entanto, também é verdade que é precisamente a relação Igreja/mulher que tem sido um elemento distintivo, se não mesmo qualificador, de seu pontificado. Tampouco se deve esquecer que, nesse aspecto, Francisco, em primeiro lugar, lançou mão de uma herança que lhe vinha de pontificados anteriores, já que há algum tempo o tema das mulheres havia adquirido um caráter magisterial. Sobre essa herança, entretanto, Francisco investiu tanto suas convicções pessoais quanto os importantes recursos eclesiais que a época pós-conciliar colocou à sua disposição.
Em toda a tradição cristã, já a partir dos Padres antigos, sempre se falou sobre as mulheres, seja para imputar a elas todas as consequências da culpa original ou, de qualquer forma, para orientá-las e regulá-las. De fato, a atual resistência à chamada teologia de gênero não pode deixar de causar surpresa, uma vez que os teólogos sempre, afinal, nunca hesitaram quando se tratava de dizer quem a mulher deveria ser e, acima de tudo, o que deveria fazer. Entretanto, devemos a João XXIII o fato de ter intuído que a nova maneira de estar presente no mundo e na história que as mulheres estavam adquirindo graças à revolução feminista também interpelava as Igrejas.
Era 1963 quando, em sua encíclica Pacem in Terris, o Papa João reconheceu como um sinal dos tempos o fato de que “a mulher se torna cada vez mais cônscia da própria dignidade humana”, mostrando assim que ele havia compreendido o sentido mais profundo das instâncias do feminismo. Por sua vez, Paulo VI até concordou em convidar algumas mulheres para participar das duas últimas sessões do Concílio Vaticano II, apesar de posteriormente não ter aceitado a instância, que já estava abrindo caminho no próprio Concílio, de colocar a questão dos ministérios na pauta.
Com João Paulo II, o tema das mulheres entrou com força no magistério pontifício: especialmente com sua encíclica Mulieris dignitatem (1988), uma Carta Apostólica sobre a dignidade e a vocação da mulher, o Papa teve a intenção de oferecer à Igreja um breve tratado de antropologia teológica no qual, no entanto, a ênfase ainda recai sobre a especificidade identitária e, ao mesmo tempo, funcional da mulher no plano de Deus e, portanto, na vida da comunidade eclesial.
Francisco também mostrou desde o início que o tema do papel das mulheres era incontornável, mas ele mudou completamente de registro. Ele não se lançou em discursos teóricos; pelo contrário, suas declarações sobre o assunto foram, em sua maioria, ocasionais e sempre uma confirmação de suas resistências ao diálogo com as instâncias mais autênticas do feminismo, que sempre catalogou como uma ideologia e, como tal, julgou perniciosa. No entanto, abordou de frente a questão da presença das mulheres na Igreja Católica de forma pragmática e com grande determinação.
Sugerindo que sua oposição firme à ordenação das mulheres se devia não apenas ao medo de que tal reforma dilacerasse perigosamente a unidade da Igreja, mas refletisse, acima de tudo, sua profunda convicção de que outras reformas, ao contrário, eram viáveis e não teriam sido menos incisivas. Em primeiro lugar, a inclusão de figuras femininas tanto no governo central da Igreja, no Vaticano, quanto nas dioceses e paróquias, como o recente Sínodo expressamente solicitou. Se até o momento o governo da Igreja Católica era exercido apenas por clérigos, Francisco começou a romper essa barreira entre clericalismo e poder, cujos perigos sempre denunciou.
Para Francisco, a presença das mulheres representou um elemento decisivo para ir além do clericalismo: em sua opinião - ele disse isso várias vezes -, permitir que elas tivessem acesso à ordenação sacerdotal significaria fortalecer ainda mais o sistema clerical que moldou o cristianismo desde a Idade Média e que foi progressivamente fortalecido na Igreja Católica após a Reforma Protestante. Para Francisco, a ordenação sacerdotal de mulheres teria desacelerado ainda mais o processo de desclericalização da Igreja Católica, que, pelo menos em parte, até mesmo o Concílio havia reconhecido como um dos desafios para o futuro.
Essa dialética entre clericalismo e desclericalização, com a questão dos papéis eclesiais das mulheres no centro, certamente representou uma das criticidades de seu pontificado, demasiado cauteloso para aqueles que veem a reforma de seu ordenamento ministerial como a única possibilidade de dar à Igreja Católica um futuro em uma mudança de época que, de outra forma, corre o risco de esmagá-la; absolutamente perigosa para outros que, além de temerem um descarrilamento interno, veem em tal reforma uma traição à tradição. Não é preciso dizer que somente as escolhas dos próximos pontífices indicarão como sair do impasse. Francisco, por enquanto, estabeleceu vigorosamente as condições para nunca considerar a tradição como uma gaiola que aprisiona em um passado que se pretende nunca passe, mas também aceitou pagar os preços necessários para avançar com determinação em direção a um futuro ainda incerto e ainda a ser construído.
Com perspicácia, portanto, Francisco intuiu que a história também avança por meio da linguagem, e seu neologismo “desmasculinizar” pode ser considerado um indicador preciso do único horizonte de referência dentro do qual, em sua opinião, a Igreja Católica deve amadurecer seu projeto de reforma. Trata-se de um neologismo sugestivo, que deixou muitos perplexos, mas que, na realidade, capta perfeitamente o processo histórico no qual todas as Igrejas cristãs, e não apenas elas, se viram operando nos últimos 150 anos.
Afinal, o Concílio Vaticano II deu início a esse processo porque permitiu que as faculdades de teologia e a própria teologia fossem “desmasculinizadas”: é impensável hoje que a reflexão teológica, agora realizada em todo o mundo também por numerosas teólogas, possa renunciar a raciocinar a partir de uma perspectiva de gênero, superando o abstracionismo desencarnado que já tem pouco a dizer aos homens e às mulheres do nosso tempo. Francisco entendeu isso e não é por acaso convidou - ou, talvez, para alguns, deveríamos dizer obrigou - o grupo dos cardeais escolhidos por ele para ajudá-lo no governo da Igreja a quatro sessões de discussão com um teólogo e onze teólogas justamente sobre o tema “desmasculinizar a Igreja”.
Sem ceder ao medo de se aventurar em terrenos que ele mesmo considera traiçoeiro. Justamente isso, portanto, é ainda mais digno de crédito: o pontificado de Francisco deixou claro que hoje, para a Igreja Católica, as mulheres - felizmente! - são cada vez menos um problema e cada vez mais um recurso. Não foi assim nas origens da fé no Ressuscitado quando, de acordo com os quatro Evangelhos, foram elas que receberam a anunciação pascal e obedeceram à ordem apostólica?