26 Abril 2025
Jean Claude Hollerich: "Africano, asiático ou europeu, o importante é que o novo Papa tenha uma visão. Não será o nome que contará, mas sim a sua personalidade".
A entrevista é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 24-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Cardeal Jean Claude Hollerich, jesuíta, arcebispo de Luxemburgo, o senhor já chegou a Roma ou ainda vai iniciar a viagem?
Assim que recebi a notícia na segunda-feira, peguei o primeiro avião. Todas as noites, de Bruxelas, felizmente há um voo direto. Portanto, já pude participar da primeira reunião dos cardeais e se continuará assim por algum tempo.
Finalmente, o Colégio de Cardeais se reunirá novamente para fazer uma análise geral do estado de saúde da Igreja. No momento, pelo que se pode ver de fora, não há muita unidade.
Digamos que o Espírito Santo gostaria de unidade e, efetivamente, não parece haver tanta unidade. De qualquer forma, é exatamente isso que as Congregações Gerais deveriam fazer, embora não seja uma questão de fazer investigações como os políticos no parlamento poderiam fazer. Trata-se de encontrar juntos o caminho viável para a unidade. É preciso pedir a Deus o que Ele quer da Igreja: essa é a pergunta que teremos que nos fazer. O Espírito Santo deve ser o nosso guia. Um pouco como foi feito com o Sínodo sobre a Sinodalidade, que conseguimos concluir sem causar feridas, vulnus, entre conservadores e progressistas. Mas, repito, não se trata de fazer política.
Será fácil reencontrar a unidade e formular um único candidato?
A unidade vem de Deus, embora vivamos imersos em um mundo que tem uma complexidade cultural objetiva. No entanto, a Igreja não deve se adaptar ao mundo, mas estar presente nas diferentes culturas (o que é algo bem diferente). Na Europa, por exemplo, temos a cultura dos imigrantes, da burguesia, dos trabalhadores, dos jovens. Insisto muito nesses últimos. É muito importante poder falar com eles sobre Cristo.
A Europa é o continente onde o cristianismo floresceu, mesmo que agora pareça estar quase moribundo, não é verdade?
Devemos aproveitar o legado do Papa Francisco: ele sabia falar com os jovens. Consequentemente, toda a Igreja Europeia deve fazer um enorme esforço para proclamar o Evangelho precisamente a eles. Isso significa que primeiro devemos escutá-los, entender quais são seus problemas, suas linguagens. Eles estão em um mundo que está correndo: sabem que no futuro serão decididamente mais pobres do que hoje e do que seus pais, tudo está se transformando rapidamente. Eles nem sequer sabem se o que estudarão na escola será útil. Eles também percebem que a paz no planeta está vacilando. Em suma, nem que seja por esses motivos, a Igreja deve estar do lado deles.
Como o senhor imagina o sucessor do Papa Bergoglio?
Espero que todos os cardeais entendam que o mundo está se movendo em velocidade sideral. O futuro sucessor de Pedro terá que ter uma visão de conjunto e profunda em um cenário que será muito influenciado pela inteligência artificial. Tudo mudará, a percepção do homem, por exemplo, os livros deixarão de ser tão utilizados. Já hoje, quando converso com os garotos sobre o que leio, eles não me entendem, mas se eu falar sobre uma série da Netflix tudo muda, seus olhos brilham. Portanto, também temos que assistir às séries da Netflix para nos comunicarmos com elas. Os livros continuarão sendo fundamentais, mas o campo deve ser ampliado.
Os cardeais, durante as Congregações Gerais, entre muitas outras coisas, terão que lidar com o caso Becciu para decidir se ele pode entrar na Sistina para votar. Qual é a sua opinião nesse meio tempo?
É difícil para mim me pronunciar sobre esse caso porque não sou italiano, não li tudo o que foi publicado nos jornais italianos. Talvez haja uma discussão interna, mas no momento não saberia.
Como o senhor imagina o próximo Papa: um asiático, um estadunidense, um africano?
Posso imaginar todas as opções, africano, asiático ou até mesmo europeu, desde que esteja aberto ao mundo. Não é o nome que contará, mas sim sua personalidade é que será fundamental, o fato de ter uma visão de conjunto da Terra.
A agenda do próximo papa não é importante?
Eu diria que não se pode delimitar já o que será definido amanhã. É preciso primeiro ouvir os conselhos dos bispos dos diferentes continentes, porque é impossível saber tudo... Entro no conclave com muita confiança. Sei que há muitas pessoas rezando pelos cardeais e que o Espírito Santo agirá sobre nós.
Onde estava quando recebeu a notícia da morte de Bergoglio?
Na segunda-feira passada, pela manhã, fui celebrar a missa em uma prisão e obviamente tive que deixar meu telefone do lado de fora. Ao sair, fui informado de que o Papa havia morrido. Levei um choque. Senti uma dor forte, depois pensei que ele havia partido na segunda-feira do Anjo, que é sinal de ressurreição. Também pensei que ele havia terminado sua vida terrena exatamente como havia começado seu ministério, na praça, entre as pessoas, imerso na multidão em São Pedro. Há muito significado nessa passagem sobre o que para ele era o povo, que não era uma entidade abstrata e indistinta, mas um conjunto de pessoas com suas próprias vivências. Ele adorava encontrar as pessoas para conhecer e acariciar sua história, seu coração. De alguma forma, isso faz parte de seu legado.
Em sua opinião, qual é o legado mais importante do pontificado que acaba de terminar?
A relação com os pobres e a relação entre o centro e a periferia, aquela osmose que deve ser redescoberta no conceito de sinodalidade.
Para muitos não católicos, no entanto, esse termo soa um pouco estranho....
Todos nós somos o povo de Deus em caminho, leigos, padres, bispos, e juntos devemos construir a Igreja, que só é construída quando é missionária, quando proclama Jesus Cristo morto e ressuscitado. Isso significa que os bispos devem ouvir o povo e o povo deve ouvir os bispos.