29 Novembro 2024
"O clima geral em que os cristãos vivem na Terra Santa é bem ilustrado pelo Patriarca Latino de Jerusalém, Card. Pierbattista Pizzaballa, que, durante uma celebração no último 23 de novembro, afirmou: 'Mais uma vez somos obrigados a manifestar todo o nosso cansaço por esta guerra, que nos desgastou a todos, como nunca antes. Nunca, nas últimas décadas, vimos tanta violência e ódio. Torna-se realmente difícil ver uma luz nessa longa noite de dor. Mas, ao mesmo tempo, não queremos e não podemos ceder à arrogância, ao poder da violência, ao ciclo de retaliações e vinganças, e permanecer inermes diante dos destroços humanos que tudo isso está causando'", escreve Francesco Peloso, jornalista, em artigo publicado por Domani, 28-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
A guerra na Palestina ameaça reduzir cada vez mais a presença de cristãos na Terra Santa. E a interrupção das peregrinações atingiu a principal fonte de renda da comunidade.
Os cristãos são uma pequena minoria na Terra Santa. Para dizer a verdade, sempre foram, só que hoje a questão está cada vez mais evidente também do ponto de vista demográfico e assume aspectos dramáticos se analisarmos a situação levando em conta o conflito em andamento.
O risco real, de fato, é que os “lugares sagrados” em Israel e nos territórios palestinos permaneçam totalmente desprovidos de comunidades cristãs; de acordo com o escritório de estatísticas de Israel, a população da fé cristã no país judeu alcançava, na véspera do Natal de 2023, cerca de 188.000 pessoas (considere-se também que estão divididas entre diferentes denominações); os cristãos em Israel representam cerca de 1,9% da população, com um crescimento de 1,3% em 2022. 75,3% dos cristãos em Israel são árabes e representam 6,9% do total da população árabe de Israel. Os locais com a maior população árabe-cristã são Nazaré (20.800), Haifa (16.800), Jerusalém (13.000) e Shefaram (10.600). Para entender as proporções do problema, basta analisar os dados oficiais do governo sobre a população israelense: “Em 31 de dezembro de 2022, a população de Israel” era “estimada em 9.656.000 residentes”, dos quais “7.106.000 são judeus (73,6% da população total), 2.037.000 árabes (21,1%) e 513.000 outros (5,3%). Em 2022, a população de Israel aumentou em 2,2%; 62% do aumento se deve ao crescimento natural e 38% à migração internacional”.
O clima geral em que os cristãos vivem na Terra Santa é bem ilustrado pelo Patriarca Latino de Jerusalém, Card. Pierbattista Pizzaballa, que, durante uma celebração no último 23 de novembro, afirmou: “Mais uma vez somos obrigados a manifestar todo o nosso cansaço por esta guerra, que nos desgastou a todos, como nunca antes. Nunca, nas últimas décadas, vimos tanta violência e ódio. Torna-se realmente difícil ver uma luz nessa longa noite de dor. Mas, ao mesmo tempo, não queremos e não podemos ceder à arrogância, ao poder da violência, ao ciclo de retaliações e vinganças, e permanecer inermes diante dos destroços humanos que tudo isso está causando”.
Portanto, também deve ser lida sob essa perspectiva ano - em que as consequências da guerra estão entrelaçadas com a demografia - a súbita deterioração das relações políticas e diplomáticas entre a Santa Sé e Israel ocorridas no último ano. O ponto culminante desse confronto foram as palavras do papa sobre a necessidade de confiar a especialistas em direito internacional um estgenocídio udo sobre a ocorrência ou não de um perpetrado pelas forças militares israelenses em Gaza. A dose foi redobrada no último dia 25 de novembro, quando Francisco, durante o Ato de comemoração do 40º aniversário do tratado de paz entre a Argentina e o Chile, observou: “Deus queira que a comunidade internacional deixe a força do direito prevalecer por meio do diálogo, porque o diálogo deve ser a alma da comunidade internacional. Menciono apenas dois fracassos da humanidade hoje: a Ucrânia e a Palestina, onde há sofrimento, onde a prepotência do invasor prevalece sobre o diálogo”.
Há poucas dúvidas sobre quem são os invasores na Ucrânia e na Palestina. Palavras pesadas que certamente influenciarão a evolução das relações entre a Igreja e o judaísmo. Por outro lado, é preciso considerar que a guerra em andamento não é apenas motivo suficiente para induzir os cristãos remanescentes a migrar, mas também é um poderoso acelerador da pobreza.
De fato, as peregrinações à Terra Santa se interromperam quase completamente há mais de um ano; em suma, uma das principais fontes de renda da população árabe-cristã desapareceu. Especialmente porque, no ano do Jubileu, era bastante provável que também houvesse um impacto positivo sobre o turismo religioso na Terra Santa.
A esse respeito, é significativo o que o Ministro do Turismo e do Patrimônio Cultural do Estado Palestino, Hani al-Hayek, disse ao Osservatore Romano em 29 de outubro. “Tanto as chegadas de exterior quanto o turismo doméstico”, disse ele, ”registraram uma queda total. Nossas estimativas nos dizem que estamos perdendo receitas de mais de 2,5 milhões de dólares por dia, sendo que somente Belém perde 1,4 milhão. Pelo menos 12 mil operadoras de turismo foram demitidas, pelo menos 6 mil trabalhadores empregados no turismo perderam seus empregos em Belém. Mas a esses devem ser acrescentados outros milhares de trabalhadores que poderíamos definir como relacionados, comerciantes, taxistas e artesãos que produzem objetos religiosos com a madeira da oliveira”.
“Em um sentido geral”, o expoente palestino continuou: “Acredito que o maior perigo está no fato de que essa raiva e frustração poderiam levar cada vez mais famílias a deixar a Palestina, em busca de um futuro melhor para si e para seus filhos. E eu acrescentaria que, como uma grande parte dos trabalhadores ligados ao setor do turismo e das peregrinações são de religião cristã, esse êxodo implicaria uma redução ainda maior da população cristã na região”.
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Conflito e peregrinos, entre o Vaticano e Israel as relações estão no mais baixo nível histórico. Artigo de Francesco Peloso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU