22 Agosto 2024
"A presença da Igreja Valdense na Itália mostra como é possível viver o Evangelho e estruturar-se como comunidade cristã de uma maneira bastante diferente, e ainda assim fecunda, daquela da predominante Igreja Católica", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 19-08-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Pequena - em termos de número de fiéis e, no entanto, uma comunidade cristã muito significativa - de 25 a 30 de agosto a Igreja Valdense celebrará um Sínodo no Piemonte, que acontece 850 anos depois de seu atribulado nascimento na França. Algumas pinceladas históricas.
No fim do século XII, Valdo, um mercador de Lyon, depois de ouvir uma passagem do Evangelho, decidiu vender sua propriedade, doar o dinheiro aos pobres e sair por aí pregando a Palavra do Senhor. Como era um simples leigo, foi proibido de ser “missionário”; mas insistiu em sua escolha, provocando a reação muito severa das autoridades eclesiásticas. Assim começava aquele movimento que, da França, chegou também a alguns vales do Piemonte. Apesar da perseguição - alguns deles foram enviados para a fogueira - os valdenses resistiram.
Quando a Reforma Protestante começou no século XVI, eles aderiram a ela em 1532, optando por seguir João Calvino, que liderava a Igreja Reformada em Genebra. Dessa forma, um grupo cristão, nascido três séculos antes da Reforma, se integrou totalmente à Europa que estava sendo criada em oposição à Igreja Romana, que, com o Concílio de Trento, estava tentando deter a revolução iniciada por Martinho Lutero. Somente em 1949, com Carlos Alberto, os valdenses no Piemonte começariam a ter o direito de existir legalmente como Igreja. Sob o fascismo, tiveram uma vida difícil; finalmente, com o nascimento da República Italiana, voltaram a ter plena liberdade.
Essa Igreja - tem cerca de trinta mil membros na Itália, mas também uma presença significativa na Argentina, onde encontraram refúgio no século XIX - tem como órgão supremo um Sínodo, hoje composto por 180 pessoas, homens e mulheres: metade pastores e pastoras e metade leigos e leigas. A cada ano, aborda e decide sobre problemas institucionais ou legais de sua comunidade. Hoje, quando comemoram o 850º aniversário de seu nascimento, o Sínodo Valdense refletirá sobre o testemunho de fé, o futuro do ecumenismo e os conflitos que assolam o mundo. Esse sistema de governo, que pode parecer estranho para quem não o conhece, é totalmente fundamentado nas Escrituras. A existência dessa Igreja é particularmente importante neste momento, quando está sendo buscada por meio do Movimento Ecumênico Internacional - na casa católica, inspirados pelo Concílio Vaticano II - a reconciliação das igrejas divididas. O Sínodo está sendo celebrado apenas alguns dias após a morte, em 14 de agosto, de Paolo Ricca.
Ilustre professor de teologia e história das igrejas, orador refinado, exegeta rigoroso: ele deu uma contribuição realmente valiosa para esse caminho. Basta dizer que em 2022, pela primeira vez na história, ele foi chamado para pregar sobre o papel de Pedro na basílica dedicada ao apóstolo. A presença da Igreja Valdense na Itália mostra como é possível viver o Evangelho e estruturar-se como comunidade cristã de uma maneira bastante diferente, e ainda assim fecunda, daquela da predominante Igreja Católica.
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Os valdenses, história de uma Igreja. Artigo de Luigi Sandri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU