23 Junho 2015
Como Francisco de Assis, também Pietro Valdo, comerciante de Lion do século XII, abandonou os seus bens para pregar o Evangelho aos pobres. Mas o arcebispo de Lion, Guichard, não teve a mesma visão profética do bispo Guido, de Assis, que recobriu o Poverello com as suas vestes litúrgicas: íntimo às sua “companhia”, conhecida com o nome de “Pobres de Lion”, de abster-se de pregar e o próprio Papa Inocêncio III, que acolheu os frades mendicantes e o seu fundador no Latrão, excomungou Valdo e os seus, que na época diziam precisamente as mesmas coisas.
Começaram assim as perseguições sanguinolentas que duraram bem seis séculos (cessaram de fato somente em 1848 com o Estatuto Albertino) com uma feroz recrudescência após a Reforma de Lutero.
Em 1665 a matar foram católicos chamados a uma horrenda cruzada. No mesmo período – de fato – foram massacrados na França os Huguenotes. Contra eles foram ordenadas perseguições da parte de Francisco I e Carlos IX, com a bênção mais ou menos explícita de São Pio V. Por tudo isto pronunciou hoje um histórico “mea culpa” o Papa Francisco, primeiro Pontífice em visita a um Templo valdense.
A reportagem foi publicada pelo Salvatore Izzo, da AGI, 22-06-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
“Da parte da Igreja Católica – disse – vos peço perdão, vos peço perdão pelas condutas e os comportamentos não cristãos, até não humanos que, na história, temos tido contra vós. Em nome do Senhor Jesus Cristo, perdoai-nos!”. “Refletindo sobre a história das nossas relações – acrescentou – só podemos entristecer-nos diante das contendas e das violências cometidas em nome da própria fé, e peço ao Senhor que nos dê a graça de reconhecer-nos a todos pecadores e de sabermos perdoar-nos uns aos outros”.
Uma analogia requerida de perdão, Bergoglio a havia pronunciado no ano passado em Caserta, visitando, ao invés, a igreja dos Pentecostais que tinham sido discriminados pelo regime fascista na época das leis raciais. “Nos valdenses somos uma igreja, deveis reconhecer-nos como tais”, disse a Francisco o moderador da Távola valdense, Eugenio Bernardini, no seu discurso de boas vindas ao Templo Valdense de Turim. “Irmão Francisco – disse – não entendemos que coisa signifique a expressão do Concílio que nos define como ‘comunidades’ e não igrejas.
- Quer dizer que somos uma igreja pela metade, uma igreja não igreja?
“Entendemos as razões, mas seria lindo se fosse superada em 2017 ou até antes. Somos uma igreja, pecadora, por certo, mas igreja de Jesus Cristo, por ele julgada e salva”. O pastor Bernardini falou também do problema da “‘hospitalidade’ eucarística”, isto é, da possibilidade para os valdenses e católicos de se comunicarem nas liturgias uns dos outros. “Entre as coisas que temos em comum estão as palavras de Jesus na última ceia, que escutamos ontem. Certamente temos interpretações diversas daquilo que significam, mas o que temos em comum são as palavras de Jesus e não as nossas interpretações”.
E o Papa lhe respondeu: “todos anelamos à unidade da mesa eucarística. A Igreja valdense ofereceu ao católicos o vinho para a celebração da Vigília da Páscoa e a Diocese católica ofereceu aos irmãos valdenses o pão para a Santa Ceia do Domingo de Páscoa, com um gesto que vai bem além da simples cortesia e que faz pregustar, por certos motivos, a unidade da mesa eucarística à qual anelamos”.
Mas, é no plano da defesa dos débeis que a Igreja Católica e os valdenses já se encontram hoje em perfeita sintonia, tanto que o Papa Francisco quis agradecer ao moderador da Távola Valdense pela forte denúncia pronunciada nesta manhã contra a “fortaleza Europa” que “rejeita os imigrantes rejeitando-os no abismo de sofrimento, perseguições e dor do qual fogem”. “A lei que o Senhor afirma – recordou a Francisco o Pastor Bernardini – nos impõe acolher o estrangeiro, o órfão e a viúva; e o Evangelho que nós pregamos nas nossas igrejas e dos nossos púlpitos convida a abrir a porta da nossa casa, a dar de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede, porque somente acolhendo quem sofre se pode acolher a Cristo”.
Bernardno criticou assim a “quem pensa resolver o drama social e humanitário que investe grandes regiões do mundo alçando altos muros, bombardeando grandes barcas ou patrulhando o Mediterrâneo com recursos militares”. E, na tarde de hoje, antes de retornar para Roma, após a “festa” com os 6 primos e outros 22 parentes, Bergoglio-Vassallo e a breve audiência à família Savoia (que doam a Síndrome) o Pontífice reservou precisamente aos refugiados o último momento forte desta extraordinária de dois dias na terra “forte e generosa” dos seus “vovôs”.
“As suas palavras são para nós oxigênio – disseram a Francisco os 20 refugiados e que requerem asilo – sabemos representar a muitos, demasiadas pessoas que hoje se encontram longe de suas terras e dos seus afeiçoados. Nós Lhe solicitamos que continue a ter pensamentos e palavras para todos aqueles que têm sede de justiça aqui e no resto do mundo”. No decurso do encontro, o Papa se deteve a escutar a história de cada um dos migrantes.
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Papa: o histórico “mea culpa” por seis séculos de perseguições aos valdenses - Instituto Humanitas Unisinos - IHU