19 Junho 2024
"Ao longo dos anos, cerca de trinta Igrejas (ortodoxas, orientais, anglicanas, luteranas, reformadas, valdenses, batistas) responderam ao apelo. Resumimos aqui, portanto, ideias teológicas complexas: algumas Igrejas rejeitam uma 'primazia universal'; outras, no entanto, gostariam, mas nenhuma acredita que possa ser o bispo de Roma, que se proclama sucessor de Pedro, e a quem a tradição ao longo dos séculos atribuiu enormes poderes por fim, com o Concílio Vaticano I, em 1870, resultando nos dogmas da primazia pontifícia e da infalibilidade papal. Algumas das respostas apreciam que o Vaticano II, em 1964, tenha afirmado também a 'colegialidade episcopal', mas, dizem, Roma não encontrou um equilíbrio satisfatório entre 'primazia' e 'colegialidade'”, escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 17-06-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
É possível um papado reconhecido por todas as Igrejas cristãs? A questão - crucial - foi posta na quinta-feira passada, por um documento do Vaticano, justamente às vésperas da extraordinária participação de Francisco na cúpula do G7 na Puglia, mas, por enquanto, apenas expressando almejos, tanto parece utópica a realização concreta desse sonho.
Para celebrar o próximo vigésimo quinto aniversário da encíclica “Ut unum sint”, dedicada ao empenho ecumênico, publicada por João Paulo II em 1995, em 13 de junho o Dicastério da Cúria para a Promoção da Unidade dos Cristãos lançou um livro denso que resume a resposta de muitas Igrejas cristãs àquele texto. De fato, Karol Wojtyla convidava os responsáveis das Igrejas não católicas e os seus teólogos “a estabelecer comigo um diálogo fraterno, paciente, no qual poderíamos nos escutar para além das polêmicas estéreis, tendo presente apenas a vontade de Cristo para a sua Igreja, para encontrar uma forma de exercício da primazia papal que, sem renunciar de forma alguma ao essencial da sua missão, se abra a uma situação nova". Ao longo dos anos, cerca de trinta Igrejas (ortodoxas, orientais, anglicanas, luteranas, reformadas, valdenses, batistas) responderam ao apelo. Resumimos aqui, portanto, ideias teológicas complexas: algumas Igrejas rejeitam uma “primazia universal”; outras, no entanto, gostariam, mas nenhuma acredita que possa ser o bispo de Roma, que se proclama sucessor de Pedro, e a quem a tradição ao longo dos séculos atribuiu enormes poderes por fim, com o Concílio Vaticano I, em 1870, resultando nos dogmas da primazia pontifícia e da infalibilidade papal. Algumas das respostas apreciam que o Vaticano II, em 1964, tenha afirmado também a "colegialidade episcopal", mas, dizem, Roma não encontrou um equilíbrio satisfatório entre “primazia” e “colegialidade”.
O fato de o bispo de Roma ser também “patriarca do Ocidente" e soberano do Estado da Cidade do Vaticano (com plenos poderes legislativos, executivos e judiciários), tudo condensado na mesma pessoa, torna impossível às Igrejas não católicas aceitar, sob qualquer forma, uma “primazia papal”. Por outro lado, o Código de Direito Canônico em vigor, lançado pelo Papa Wojtyla em 1983, não restringe de forma alguma a “primazia”: Francisco, recém-eleito em 2013, criou um Conselho de (nove) cardeais para ajudá-lo a governar a Igreja, mas foi uma iniciativa pessoal, que poderia ser cancelada a qualquer momento. Ao Vaticano II, o patriarca greco-melquita da Antioquia, Máximos IV Saigh, tinha proposto - em vão - que o bispo de Roma estivesse obrigatoriamente à frente de um Sínodo restrito e permanente (uns vinte prelados) e com ele governasse a Igreja Católica. Quem sabe num futuro próximo a ideia poderia ser retomada. Por enquanto permanece o fato de que não há Igreja não católica disposta a aceitar uma primazia papal. A unidade das Igrejas hoje divididas – isto é, a sua reconciliação – pode esperar.
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A primazia papal desagrada aos não católicos. Artigo de Luigi Sandri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU