18 Junho 2024
Com um longo documento a Igreja de Roma relança o debate sobre o Papa, que Paulo VI em 1967 havia definido com franqueza como “o obstáculo mais grave” para a reunificação dos cristãos. O novo é útil para sinalizar os progressos reais e notáveis alcançados no último meio século, mas de fato confirma que o caminho para a unidade está marcando passo. Nas 150 páginas do "documento de estudo", o órgão do Vaticano encarregado das relações com outros cristãos e com os judeus resume as respostas que chegaram a uma iniciativa sem precedentes de João Paulo II. Em 1995, com a encíclica Ut unum sint, o papa polonês tinha convidado todos os cristãos, "evidentemente juntos", a ajudar o bispo de Roma a encontrar novas formas de “um serviço de amor reconhecido tanto por uns quanto por outros”.
A reportagem é de Giovanni Maria Vian, publicada por Domani de 14-06-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Houve cerca de trinta respostas do mundo anglicano e protestante, mas nada chegou das igrejas ortodoxas. Assim que foi eleito, Bento XVI confirmou como seu “empenho principal”, aquele da “unidade plena e visível de todos os seguidores de Cristo”. Depois com a sua renúncia – afirma agora e com razão o documento do Vaticano – “contribuiu para uma nova percepção e compreensão de ministério do bispo de Roma”.
Poucos meses depois da renúncia de Bento XVI, na exortação apostólica Evangelii gaudium, o texto programático do pontificado, Francisco recordava que Wojtyła tinha pedido para ser ajudado na busca de “uma forma de exercício da primazia que, sem renunciar de nenhuma forma ao essencial da sua missão, se abra a uma situação nova”. Mas acrescentava: “Estamos avançou pouco nessa direção."
O próprio Ratzinger confirmava o diagnóstico de Bergoglio em 2016, respondendo a Peter Seewald que lhe perguntava sobre as decepções no campo ecumênico. “Neste ponto era difícil para mim ficar decepcionado – dizia Bento XVI – porque conheço a realidade e sei o que se pode esperar concretamente e o que não. A relação entre nós e os protestantes e entre nós e os ortodoxos é muito diferente" e diferentes são os “obstáculos a uma reaproximação”.
Devido à crise do protestantismo, e devido ao “peso da história e das instituições” nas relações com o patriarcado de Moscou, explicava Ratzinger, menos otimista em relação ao que havia dito em 2010 para o mesmo entrevistador. Em vez disso, “entre as igrejas de Roma e a de Constantinopla desenvolveu-se uma autêntica relação fraterna”, sublinhava Bento XVI. Evidentemente pesavam sobre suas palavras a crescente tensão pela situação ucraniana e o fracasso, provocado por Moscou, do conselho pan-ortodoxo de Creta.
Apesar das antigas e novas dificuldades, o diálogo entre teólogos católicos, ortodoxos, anglicanos e protestantes avançou também na primazia. Com abordagens mútuas de certa importância, também porque - além das trinta respostas ao convite de João Paulo II - há cerca de cinquenta “documentos de diálogo ecumênico sobre o tema” resumidos no texto vaticano, recordou o cardeal Kurt Koch.
A partir desses textos resulta que as respectivas posições se tornaram mais próximas na interpretação dos fundamentos bíblicos da primazia, sobre a sua origem e o seu exercício, mas continuam existindo notáveis diferenças. Registra-se, no entanto, um maior consenso sobre a relação entre a autoridade papal – que deve ser distinta daquele como chefe do Estado do Vaticano, em forte contraste, porém, com a atual lei fundamental do Vaticano - e a colegialidade episcopal. E a dimensão sinodal é altamente valorizada. Que, no entanto, ainda resta a ser definida e, sobretudo, a ser efetivamente aplicada.
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Obstáculos (e progressos) no caminho do diálogo entre os cristãos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU