19 Abril 2024
16.000 mortes e mais de 8 milhões de pessoas deslocadas e refugiadas, a crise de deslocamento mais grave do mundo. Esses números assombrosos resumem a tragédia humanitária da guerra esquecida no Sudão que eclodiu há um ano, em 15 de abril de 2023, quando, após meses de tensão, o exército regular (SAF, 300.000 efetivos) liderado pelo General Abdel Fattah al-Burhan e as milícias paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF, cerca de 100.000 homens) de Mohamed Hamdan “Hemedti” Dagalo entraram no conflito.
A reportagem é publicada por Agência Fides, 15-04-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
As divergências estavam relacionadas com a integração da RSF no exército nacional, particularmente com o calendário da integração e com a estrutura de comando e controle. O conflito que começou na capital, Cartum, rapidamente se espalhou para Darfur, reduto das RSF e depois praticamente para todo o país. Em Darfur, a guerra assumiu imediatamente uma dimensão étnica, revelando feridas nunca cicatrizadas do conflito anterior que remonta ao início da década de 2000. As RSF derivaram das famosas milícias árabes montadas Janjaweed, utilizadas pelo regime anterior, o de Omar al Bashir, para reprimir as populações não árabes dessa vasta região no oeste do Sudão. Às duas facções em conflito, SAF e RSF, juntaram-se depois os vários grupos armados já presentes no Sudão, que se uniram a um ou outro lado.
A guerra devastou a agricultura do país, por isso aos números acima relatados deve-se acrescentar os 5 milhões de pessoas em risco de fome e os 18 milhões que têm de enfrentar uma grave crise alimentar.
E o alimento tornou-se uma arma: ambas as facções em conflito impedem os movimentos dos comboios carregados de ajudas alimentares enviados pelas agências humanitárias para as áreas controladas pelo adversário.
Continuam a surgir acusações de gravíssimas violações dos direitos humanos por parte de militares e milicianos, incluindo violências sexuais, torturas e execuções sumárias.
As duas facções parecem não querer sentar-se à mesa de negociações porque ambas pensam que podem vencer o conflito. O apoio externo que ambos recebem também pode pesar nos cálculos dos dois líderes rivais. As RSF de parte dos mercenários russos da ex-Wagner, dos Emirados Árabes Unidos, que enviam ajudas passando pela República Centro-Africana, Chade e Cirenaica líbica. O exército regular é apoiado pelo Egito, pela Turquia e pelo Irã (drones iranianos foram recentemente utilizados para atingir as RSF), enquanto as forças especiais ucranianas publicam ocasionalmente vídeos em que os seus homens são vistos atacando os mercenários russos que apoiam as RSF. No teatro bélico sudanês, no meio de uma tragédia humanitária infinita, criam-se estranhas misturas.
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Sudão. Um ano de guerra civil que parece não querer acabar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU