Sudão. Os Bispos: a nação volta ao passado; por trás das Forças Armadas está a Irmandade Muçulmana

General Abdel Fattah al Burhan, chefe do exército do Sudão, que liderou o golpe (Foto: Reprodução/Sudan TV/Flickr)

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29 Outubro 2021

 

“Estamos voltando à era militar do Sudão, à guerra em vez da paz”.

A reportagem publicada por Agência Fides, 28-10-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

D. Yunan Tombe Trille, Bispo de El Obeid, Sudão, e Presidente da Conferência Episcopal do Sudão e Sudão do Sul, declara isso à Agência Fides, após o golpe que fez o relógio do país retroceder dois anos e meio, quando o ditador Omar al-Bashir ainda governava, depois de mais de três décadas.

“Eu acredito que a Irmandade Muçulmana está por trás das forças armadas; por dias, antes do golpe, eles foram vistos no Palácio da República. Seu pedido à sociedade civil e ao governo era muito claro: afastem-se e entreguem tudo aos militares. Enquanto isso, foi declarado o estado de emergência e o Conselho Supremo, o governo e os gabinetes institucionais foram dissolvidos”.

 

Mapa do Sudão do Sul

 

O Sudão, quatro dias após o golpe, continua numa situação de suspensão geral. O chefe do exército, Abdel Fattah al Burhan, declarou que "acabou a experiência do governo de transição para defender a Revolução". O discurso dividiu a opinião pública, criando uma maior oposição de um lado e imobilismo do outro.

Os tons foram moderados e, como define uma fonte da Fides que pede o anonimato, "até persuasivos". Hamdok, o chefe de governo que desfrutava de grande prestígio, depois de ter convidado a população a "ir às ruas e retomar a democracia que nos foi roubada", retirou-se há dias em total silêncio. Segundo alguns, poderia estar sendo impedido de falar ou ser ameaçado e forçado a aceitar o novo curso.

"Infelizmente, o cenário que se abre diante de nós - continua mons. Tombe Trille - não é nada róseo; acredito que os militares vão tomar todo o poder e zombarão do mundo com a celebração de eleições (que os golpistas anunciaram para 2023, ndr) que serão mais uma farsa e que legitimarão um poder ilegítimo, exatamente como aconteceu com os governos no passado. Provavelmente, as pessoas continuarão a sair às ruas, mas com essa situação, prevejo que haverá muito sofrimento”.

 

Mapa do leste da África

 

No dia 26 de outubro, o chefe do exército Burhan, em longa conferência pública, justificou o golpe colocando as principais responsabilidades sobre as Forças pela Liberdade e Mudança (a maior plataforma signatária do acordo com o exército para a transição, assinado em agosto de 2019, ndr). Essas forças, segundo ele, teriam atacado o exército por muito tempo e tornado a transição impossível.

Burhan pediu a todos calma e chamou o chefe de governo deposto Hamdok de "irmão", evitando tocar na questão da violência que está cobrindo de sangue o Sudão, enquanto rumores de "assassinatos em massa" se espalham. “A plataforma civil - informa a fonte da Fides - anuncia grandes manifestações para o próximo sábado. As tensões e a incerteza estão em um nível muito alto”.

 

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