20 Novembro 2023
O conflito em Gaza extrapola o campo de guerra e atinge a disputa de narrativas, o que mostra a importância do campo simbólico e uma cobertura jornalística idônea sobre os acontecimentos. Tanto um lado quanto o outro procuram o apoio da opinião pública para justificar os seus atos bélicos.
A reportagem é de Edelberto Behs.
Essa disputa simbólica invade a área religiosa. O evangelista Franklin Graham encontrou-se, na quarta-feira, 14 de novembro, com o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e disse, depois do encontro, que ele precisava de orações.
“Ele enfrenta o momento mais difícil desde o nascimento da sua nação, com (1.400) pessoas mortas, mais de 240 homens, mulheres e crianças feitos reféns e muitos feridos no ataque do Hamas”, afirmou. Graham não contabilizou, claro, as baixas palestinas, numericamente maiores. Mas esses, ao que parece, não precisam de orações, mesmo que cristãos palestinos tenham entrado na conta.
Em Washington, a Embaixada de Israel reuniu pastores, neste mês, quando assistiram vídeo mostrando a brutalidade dos militantes do Hamas atacando civis israelenses. As imagens, conta a repórter Samantha Kamman, do portal The Christian Post, foram coletadas de várias fontes, “incluindo câmaras corporais do Hamas, câmaras de segurança, postagens em mídias sociais, câmaras de telefones celulares e socorristas”.
Antes do início da exibição, o vice-chefe de missão da embaixada, Eliav Benjamin, introduziu o assunto e sublinhou que Israel estava tramando “uma guerra justa”, não apenas em seu nome, mas em nome do mundo livre, que está fazendo de tudo para evitar vítimas civis. (Como a gente constata em imagens nas redes sociais!)
“Esta não é uma guerra religiosa. É, de certa forma, uma guerra de civilizações, ou do mundo civil contra aqueles que não acreditam em civilizações”. Foi o suficiente para que o presidente do conselho de administração da The Fellowship, bispo Paul Lanier, tomar partido, como queria a embaixada ao apresentar o vídeo.
Lanier disse à repórter que cristãos são, tipicamente, “pessoas amantes da paz”, mas que nesse caso, “temos que lançar luz sobre a desumanidade e a brutalidade que ocorreu, e ser igualmente fervorosos, ousados e determinados a defender a vida e o povo de Israel”.
O bispo questionou o posicionamento de cristãos que apelam em favor da paz. Como alguém pode usar a fé para defender um cessar-fogo, quando o perigo ainda está presente? – argumentou. “Enquanto o Hamas disparar armas e manter reféns, um cessar-fogo será totalmente incongruente com a realidade”, disse.
De outro lado, mais de 100 professores do corpo docente da Universidade de Harvard assinaram carta endereçada ao reitor, Claudine Gay, contestando-o por tentar impor um debate “unilateral” a respeito de Israel, impedindo estudantes e mestres de criticarem o Estado judeu.
Rotular Israel como um “estado de apartheid” e acusar o país de cometer genocídio contra os palestinos não pode ser automaticamente considerado antissemitismo, alegaram. A carta reporta-se à diretriz emitida pelo reitor, intitulada “Combate ao Antissemitismo”, que anunciou plano de implantação de programa destinado a educar estudantes e funcionários da uni sobre semitismo.
“Como professores de Harvard, ficamos surpresos com a pressão de doadores, ex-alunos e até mesmo de alguns neste campus para silenciar professores, estudantes e funcionários que criticam as ações do Estado de Israel”, afirma o documento.
A carta termina com a apresentação de medidas sobre a “liberdade intelectual” na universidade, propondo a criação de um grupo consultivo sobre a islamofobia, o racismo antipalestino e antiárabe.
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Uma guerra de narrativas em busca do apoio da opinião pública - Instituto Humanitas Unisinos - IHU