“A guerra é a forma mais extrema de terrorismo”, afirmava o historiador e veterano de guerra Howard Zinn, destacando que, nos tempos modernos, a população civil é a que mais sofre. A esta altura da história, quantas mais evidências são necessárias.
A reportagem é de David Brooks, publicada por La Jornada, 09-10-2023. A tradução é do Cepat.
Israel declarou “guerra” em resposta a uma ofensiva armada do Hamas e novamente justifica os seus atos de terror afirmando que é vítima de “terrorismo”. Washington, imediatamente, proclamou sua lealdade a Israel, condenou os atos de terrorismo e foi suficientemente sem-vergonha para afirmar que os ataques foram “não provocados” e, portanto, “criminosos”. O governo estadunidense já prepara mais assistência militar imediata ao seu aliado. “Israel tem o direito de se defender”, proclamou Biden (obviamente, os palestinos não têm esse mesmo direito).
Não provocou? Defender-se? Desde que o governo direitista de Netanyahu chegou ao poder, este ano, os soldados israelenses já tinham matado mais de 250 palestinos, pelo menos 47 deles crianças, na Cisjordânia, e os ataques violentos contra os palestinos para expulsá-los de suas terras (quase 600 ataques no primeiro semestre deste ano, segundo a ONU) foram intensificados.
Nada de novo: Israel manteve uma ocupação militar de Gaza durante mais de meio século e depois, nestes últimos 15 anos, isso foi seguido por um cerco e bloqueio naval ilegal, transformando esse território em uma “prisão aberta” com cerca de 2 milhões de palestinos encurralados em condições condenadas pela ONU e por grupos de direitos humanos. Noam Chomsky classificou a situação como “um dos maiores crimes do período moderno no mundo”.
No ano passado, a Anistia Internacional declarou que o esquema de dominação dos palestinos por Israel constitui um sistema de apartheid, que é “um crime contra a humanidade”.
De setembro de 2000 até o momento, cerca de 10.500 palestinos foram assassinados pelas forças israelenses; e os palestinos mataram 881 civis israelenses.
Washington é o principal cúmplice internacional em tudo isto. Israel é o maior beneficiário da assistência estadunidense acumulativa no mundo, desde a Segunda Guerra Mundial, incluindo um total de 158 bilhões de dólares em assistência bilateral, nos últimos anos, quase tudo em assistência militar, segundo números oficiais. No acordo bilateral mais recente, Washington se comprometeu a fornecer mais 38 bilhões de dólares em assistência militar, entre 2019 e 2028.
Diante desta crise, os Estados Unidos dissimulam que os inimigos do direito internacional, da democracia e dos direitos humanos são os “terroristas” palestinos, baixam as suas bandeiras a meio mastro em solidariedade a Israel e preparam mais assistência militar para defender a existência de Israel.
“Israel é um Estado nuclear armado até os dentes pelos Estados Unidos. Sua existência não está sob ameaça. Os palestinos, suas terras e suas vidas, sim, estão. A civilização ocidental parece estar disposta a se manter à margem, enquanto são exterminados. Eles, por sua vez, estão se levantando contra os colonizadores”, escreve Tariq Ali, na New Left Review.
Talvez o que mais assombra é que se julga que Washington entende tudo isto e, portanto, o que gera. Contudo, há apenas uma semana, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, comentou com muita confiança que a região do Oriente Médio está mais calma hoje do que em duas décadas. Que surpresa (e enorme falha de inteligência) que uma parte da resistência palestina seja deflagrada.
O que não deveria surpreender é que o terror desencadeado por Israel, com a cumplicidade de Washington, só nutre mais do mesmo, e que são eles que têm que prestar contas por seus atos, em vez de fingir que são as vítimas e defensores do direito internacional. Mas, pelo que parece, decidiram que não lhes convém confessar o que todos sabem: “a guerra não é a resposta”.
Marvin Gaye: What’s going on.
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