Como Moscou e Kiev, os EUA também não as baniram: armas por mais 800 milhões.
Chegou a vez das bombas de fragmentação.
A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada por Avvenire, 08-07-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
A política dos EUA em relação à Ucrânia cruza linha vermelha após linha vermelha. O 42º pacote de armas de US$ 800 milhões, além de elevar o comprometimento da Casa Branca a um total de mais de 40 bilhões, também incluirá munições ou bombas de fragmentação. Após os rumores de mídia, a Casa Branca confirmou ontem. “Reconhecemos que as munições de fragmentação criam riscos para os civis, mas Kiev, no entanto, comprometeu-se por escrito a minimizá-los”, disse o assessor de Segurança Nacional, Jack Sullivan após as pressões da Alemanha e da França, os apelos da ONU, Human Right Watch e Anistia Internacional, e a reação furiosa de Moscou. “Uma perigosa escalada”, disse o embaixador na ONU, Vasilij Nebenzya, representante de um país que, no entanto, as emprega desde o início do conflito. “É por isso que precisamos delas. Mais armas, mais armas”, rebateu o conselheiro presidencial Mykhailo Podolyak.
A Ucrânia, por sua vez, também recorreu a elas. Com o fornecimento de Washington, no entanto, Joe Biden realiza uma inversão drástica em relação ao passado recente. Desde 2016, durante o governo de Barack Obama de que o atual presidente era vice, os EUA decidiram limitar o uso de bombas de fragmentação devido ao alto número de não combatentes mortos. Não exatamente uma proibição.
Ao menos, porém, Washington tentava se alinhar à linha dos 164 países que, em 2008, as haviam proibido. A invasão russa de Kiev, no entanto, mudou as regras do jogo. E o mais importante, criou uma narrativa funcional para tal cesura, em que tudo é permitido para derrotar o mal.
Uma visão míope como as guerras do recente passado tragicamente demonstraram.
Assim, diante do impasse na batalha, Biden desencavou uma espécie de munição contendo uma série de bombas menores que se espalham por uma área de até 30.000 metros quadrados, multiplicando a "eficácia". Ou seja, as pessoas feridas ou mortas, muitas vezes civis. Não só isso. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (ICR) afirma que 40 por cento dos as munições usadas em conflitos recentes - do Afeganistão à Síria - permaneceram sem explodir.
Camufladas no chão, elas ainda estão à espreita, prontas para atacar. Afinal, entre 3 e 40 por cento da munição não explode no momento exato. Exatamente isso havia levado o Comitê para a eliminação das bombas de fragmentação a lutar pela sua proibição com a Convenção, à qual 71 países não aderiram, entre os quais a Rússia e a Ucrânia. Além dos EUA, obviamente. Que, no entanto, têm uma lei de 2011 que proíbe o comércio e o repasse de munições de fragmentação com uma margem erro superior a um por cento. No entanto, é possível contorná-la fornecendo munições com uma percepção inferior de material não explodido. Um dos idealizadores da Convenção, curiosamente, foi o então primeiro-ministro trabalhista Jens Stoltenberg, atual secretário da OTAN e um dos mais convictos defensores do apoio militar à Ucrânia. Questionado sobre a escolha da Casa Branca, este último, que permanecerá no cargo por mais um ano, afirmou: “Elas já foram usadas na guerra na Ucrânia por ambos os lados: a diferença é que o A Rússia as usa para atacar e invadir a Ucrânia, enquanto Kiev as usa para se proteger do agressor.
Os aliados concordam que precisamos fornecer apoio militar à Ucrânia: exatamente que tipo de armas e munições varia de país para país e continuará a variar. Joe Biden, portanto, não é o único a cruzar as linhas vermelhas.
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Joe Biden cruza outra linha vermelha: enviará as mortíferas bombas de fragmentação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU