24 Outubro 2022
Em Kiev como em Moscou entre os segredos mais bem guardados há dois: o número de soldados mortos e a lista dos respectivos prisioneiros de guerra. Mas da diplomacia subterrânea que visa a devolução dos soldados capturados vem uma esperança para a hipótese de negociação. "Nunca houve uma guerra tão brutal em que as trocas de prisioneiros ocorreram quase semanalmente", confirma uma fonte da Cruz Vermelha de Genebra.
A reportagem é de Nello Scavo, publicado por Avvenire, 21-10-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Só do lado da Ucrânia, são mais de mil combatentes devolvidos por Moscou e igual número foi libertado por Kiev. Nem as batalhas mais furiosas interromperam os contatos entre os emissários das duas lideranças. Várias vezes o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), na linha de frente da mediação, pediu à Rússia e à Ucrânia que garantissem acesso "imediato e sem obstáculos" aos locais de detenção. “Até agora só pudemos visitar algumas centenas de prisioneiros de ambos os lados. Mas sabemos que existem milhares mais”, lembrou Ewan Watson, porta-voz da CICV nos últimos dias. Apesar dos esforços, os delegados da organização não receberam as garantias necessárias.
"Não podemos entrar à força em um local de detenção ou internação", acrescentou Watson. Reações opostas dos dois governos também são relatadas para esse dossiê. Kiev facilita as inspeções em algumas estruturas, trancando a porta para outras onde se encontrariam combatentes chechenos e outros grupos étnicos acusados de graves brutalidades. Moscou, por outro lado, impede o acesso a qualquer cela.
Que tratamento duros sejam usados em prisioneiros não é novidade. Em 29 de julho, em Olenivka, no leste da Ucrânia, uma misteriosa explosão atingiu uma prisão controlada pelos separatistas: 50 mortos, incluindo vários combatentes que se renderam à Rússia na siderúrgica Azovstal, em Mariupol, em maio. A partir desse momento as negociações foram suspensas, para recomeçar de surpresa a partir de meados de agosto. Desta vez com um mediador especial, reconhecido por ambos os beligerantes. “Alguns enviados ucranianos vieram até mim. Entre estes, o vice-reitor Universidade Católica da Ucrânia, acompanhado pelo assessor do presidente para os assuntos religiosos, um evangélico”, revelou o Papa Francisco quando se encontrou com um grupo de jesuítas no Cazaquistão em meados de setembro para a habitual troca de opiniões no fim de cada viagem apostólica, relatado pela "La Civiltà Cattolica". “Conversamos, discutimos.
Veio também um chefe militar - disse o Papa Francisco - que trata da troca de prisioneiros, sempre com o assessor religioso do presidente Zelensky”. Kiev havia pedido diretamente à Santa Sé que interviesse.
“Desta vez - acrescentou o Papa, aludindo a conversas confidenciais anteriores - trouxeram-me uma lista de mais de 300 presos. Eles me pediram para fazer algo para negociar. Liguei imediatamente para o embaixador russo para ver se algo poderia ser feito, se uma troca poderia ser acelerada”. O pontífice não especificou de qual episódio se tratasse. No entanto, em 21 de setembro, poucos dias após a viagem do Papa a Astana, cerca de 300 pessoas foram libertadas (215 para o lado ucraniano e cerca de 50 para a Rússia), entre as quais 10 cidadãos estrangeiros e os comandantes do batalhão Azov, libertados nas mãos do Presidente turco Erdogan, com a condição de que não saiam de Istambul.
Em 11 de maio, o Papa Francisco, depois de receber algumas cartas confidenciais enviadas pelas famílias dos oficiais trancados na siderúrgica Azovstal, encontrou duas das companheiras dos oficiais durante a audiência de quarta-feira. A última negociação foi entre as mais difíceis e emocionalmente carregada para a população ucraniana. Em 17 de outubro, 108 mulheres, a maioria soldados do sexo feminino, detidas há meses, foram libertadas. O Ministério da Defesa do Kremlin confirmou que 110 cidadãos russos retornaram "como resultado das negociações".
Uma foto mostra o grupo de ucranianas chegando a pé ao território controlado por seu exército. Na direção oposta, para uma das áreas ocupadas, outras pessoas com mochilas nas costas se juntam aos soldados russos.
Em ambos os lados, os atiradores estão posicionados na ponte da troca. Depois todos se afastam, cada um por seu próprio caminho. Por um momento sem mais atirar um no outro.
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Trocas de prisioneiros: diplomacia subterrânea da paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU