28 Abril 2021
"Perdoo quem atirou em mim, perdoo do fundo do coração quem fez esta ação e peço para rezar pelo povo de Rumbek que certamente sofre mais do que eu”. Estas são as palavras que o padre Christian Carlassare proferiu emocionado ontem pela manhã, em conexão com a rádio sul-sudanesa Eye Radio News, poucos minutos depois de sofrer a agressão.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 27-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Pouco antes de partir para o Quênia, onde chegou sedado em vista de uma cirurgia, Carlassare encontrou forças para proferir mais algumas declarações. "Sei que as pessoas estão sofrendo muito", disse ele. “Sou solidário com todas as pessoas que sofrem e são mortas apesar de serem inocentes”. O padre Carlassare reconstituiu o ocorrido dentro de sua casa para a rádio de seu país: “Algumas pessoas bateram à porta - disse ele -. Quando a arrombaram, as encontrei na minha frente. Eles não atiraram de imediato. Tentei falar com elas. Elas me bateram na cabeça e em outros lugares. Não acho que quisessem roubar porque poderiam ter me matado facilmente”.
Christian Carlassare. (Foto: Nigrizia | Reprodução)
Em uma terra atormentada por conflitos, o padre Carlassare sempre trabalhou para que a violência se transformasse em paz. Recentemente, ele disse ao Nigrizia: "Meu sonho para o Sudão do Sul é que a violência se transforme em ternura, a raiva em um coração pacificado, a insatisfação em coragem para se pôr ao trabalho, o medo em confiança e diálogo". E ainda: “Sonho que os jovens possam realizar os seus sonhos, que não sejam obrigados a pegar em armas ou que a única forma de ganhar dinheiro seja trabalhar para organizações humanitárias ou sair do país. Que eles possam estudar adquirindo competências, encontrando um emprego que construa o futuro e dê estabilidade ao país. Eu sonho que as jovens garotas possam se emancipar e não ficar totalmente dependentes de seus chefes de família. Que façam suas escolhas em liberdade e deem uma importante contribuição para a sociedade. Sonho com um país onde a dignidade de todos os cidadãos seja respeitada sem distinção de etnia, classe ou gênero. Sonho com um país onde os recursos sejam usados para o desenvolvimento e para o benefício de todos. Sonho com um país onde a riqueza de línguas e das culturas não seja motivo de mal-entendidos e divisões e seja considerado o mais belo recurso no respeito às diferenças”.
O desejo de missão sempre alimentou a vida de Padre Carlassare. Desde que chegou ao Sudão do Sul, em 2004, trabalhou arduamente pela paz e pela reconciliação, ouvindo as comunidades e padres nem sempre fáceis de acompanhar, acolhendo o testemunho do seu antecessor, o "padre do povo" Cesare Mazzolari. Como este último, Carlassare trabalhou para uma Igreja formada por pequenas comunidades cristãs ativas na oração e na solidariedade com os pobres, uma Igreja longe do poder. Desejo - dizia para a revista Nigrizia - uma Igreja que seja uma comunidade capaz de dialogar com a cultura, que saiba redescobrir o humano em cada pessoa, que saiba traçar um novo percurso e novas respostas aos problemas de sempre".
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Sudão do Sul. Padre Christian após o atentado: “Perdoo quem atirou” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU