28 Abril 2021
Entre os detidos, alguns padres e leigos em posições de destaque na diocese. Após o atentado a D. Christian Carlassare, também se fala dos supostos mandantes. Enquanto isso, a voz do pastor vai além do ódio e da rivalidade, com o coração voltado para o seu povo.
A reportagem é de Filippo Ivardi Ganapini, publicada por Nigrizia, 27-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Doze pessoas foram detidas ontem de manhã em Rumbek, Sudão do Sul, acusadas de estarem envolvidas no atentado ao Bispo Christian Carlassare. Isso foi relatado pela agência de notícias ACI África. Três deles, entre os quais se destaca o nome do coordenador diocesano John Mathiang, são padres da diocese de Rumbek, enquanto os outros são leigos com diferentes responsabilidades na Igreja local.
Mapa do Sudão do Sul, com destaque em Rumbek. (Foto: Britannica)
Claro, o Judiciário fará suas investigações e esperamos que se chegue a um processo regular, mas a notícia ainda é terrificante aos olhos de quem busca proteção na comunidade dos discípulos de Jesus de Nazaré e encontra conivência com crimes e cumplicidade em interesses econômicos, corrupção e métodos mafiosos.
A Igreja do Sudão do Sul sai destruída do episódio e é seriamente convidada, junto com a Igreja universal, a uma séria reflexão sobre o que aconteceu e sobre infiltrações desse tipo até suas raízes.
"As coisas ficaram claras imediatamente - confirma uma fonte segura que mantemos anônima por segurança - mas agora estão evidentes e podemos dizer com certeza que a responsabilidade recai sobre uma parcela da Igreja Dinka (a etnia do presidente Salva Kiir), que chamo de ‘clã’, no seio das autoridades eclesiais locais. John Mathiang é apenas um peão deste clã. O verdadeiro mandante está ainda mais longe e é coletivo. Trata-se de uma fracção da comunidade eclesial de origem dinka que quer ter o seu peso na Igreja e no país, para pôr a mão nas suas riquezas”.
ACI África revela que as detenções foram possíveis graças à descoberta do celular que teria caído de um dos dois agressores durante o atentado e que o padre Christian, atingido nas pernas, teria involuntariamente escondido ao cair sobre ele. A partir dos registros, seria possível, para as autoridades que investigam o episódio, rastrear os responsáveis.
Mas a operação imediata da polícia local só foi realmente possível graças ao comunicado do Presidente Salva Kiir que ontem, em nota especial, pediu investigações rápidas após o incidente.
“Aquele do presidente foi um sinal preciso - confirma a nossa fonte - de que se devia agir porque os limites tinham sido ultrapassados. Ele, que se define católico, há muito sonhava com um bispo Dinka, mas com este episódio de repercussão internacional, o Sudão do Sul está destruído e desta vez Salva Kiir não pode se permitir isso. Com essa nota, ele deu luz verde às investigações e marcou um ponto de virada. O próprio Mathiang é amigo próximo do presidente, mas agora algo se quebrou”.
O que vai acontecer agora? “Espero que realmente se queira ir até o fim - conclui nossa fonte - e que não se queira procurar um bode expiatório em um leigo ou em um padre. Temos mesmo que virar a página e reconhecer que a responsabilidade é coletiva, pertence a um clã muito específico! Mas, em honra da verdade e para além das responsabilidades penais, devemos também dizer que existem graves sinais de ineficiência ao nível das autoridades eclesiais em Roma, porque deixou uma diocese complexa e com grandes estruturas e projetos para gerir, por mais de 8 anos nas mãos de um jovem padre com apenas cinco anos de experiência desde a ordenação. Sabia-se que o sucessor do Padre Cesare Mazzolari, falecido em julho de 2011, teria que assumir sobre si uma grande cruz numa situação explosiva”.
Christian Carlassare. (Foto: TGCOM24 | Reprodução)
Assim, aquela cruz coube ao Padre Christian Carlassare, que do hospital confirma ao Nigrizia o seu sofrimento pelo povo e o seu pedido de orações pelas pessoas simples que o acolheram com grande alegria e entusiasmo em sua chegada a Rumbek. As mesmas que quando ele pegou o avião para Juba gritaram para ele: "Volte padre, se você tiver que morrer, vamos morrer juntos!"
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Sudão do Sul: o rosto feroz da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU