12 Março 2020
Ernesto, 58 anos, trabalha na Beta Utensili em Brianza, Itália: "O primeiro foco ocorreu em um hospital, depois houve a revolta nas cadeias, agora eu não gostaria que o caos estourasse dentro de uma empresa metalúrgica. A produção deve diminuir".
"Eu lhe disse: 'engenheiro, por que você também chegou aqui na fábrica tão cedo?' ". Ernesto trabalha há mais de vinte anos na Beta Tools de Sovico, planta histórica da empresa que produz equipamentos para mecânica, manutenção de plantas industriais e reparadores para meio mundo. Ontem, às sete da manhã, pela primeira vez em muito tempo, ele viu novamente o dono circulando entre as linhas de produção: "Mas não havia necessidade dessa aparição para entender que a situação é realmente séria - diz o trabalhador, 58 anos, pai e avô - O primeiro foco foi em um hospital, depois houve a revolta das cadeias, agora eu não gostaria que o caos estourasse dentro de uma fábrica. Talvez justamente aqui em Brianza".
A reportagem é de Marco Patucchi, publicada por La Repubblica, 11-03-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ernesto encarna em seu macacão azul o apelo que o sindicato lançou a nível nacional e local: "É hora de concordar com uma redução modulada, uma diminuição até a suspensão momentânea das atividades de manufatura e dos serviços", pedem os líderes da CGIL, CISL e UIL, Landini, Furlan e Barbagallo. "Reduzir também a presença contemporânea de trabalhadores nas grandes áreas industriais", é o apelo de Francesca Re David, secretária da Fiom-CGIL. Pietro Occhiuto, líder da Fiom em Brianza, relata que "casos de contágio do coronavírus estão se espalhando nas fábricas metalúrgicas da região".
"Hoje, o governo deveria anunciar as medidas para o fortalecimento dos seguros sociais em todo o país", mas não sei se o salário-desemprego será suficiente para trazer alguma tranquilidade - continua Ernesto, que acabou de sair do primeiro turno na fábrica de Sovico, onde trabalham algumas centenas de pessoas e foram afastados pelo menos metade dos trabalhadores. - Vemos todos aqueles atores e cantores que, na TV ou nas redes sociais, sorridentes como um dia de sol, convidando as pessoas a ficar em casa. Mas como é que um trabalhador faz isso? Aqui o trabalho a distância não faz sentido: nos departamentos colocaram os dispensadores de desinfetantes, dobraram os turnos de limpeza nos banheiros, introduziram o escalonamento também na cantina, mas nos sentimos uma armadilha: 'por que estou aqui? Por que não organizam o trabalho de forma diferente?'".
Os mais alarmados são os jovens recém-contratados que, mais do que qualquer outro, temem na emergência do Covid 19 ter tudo a perder. Especialmente o trabalho em si. "Nós, mais velhos, tentamos tranquilizá-los - diz Ernesto -, mas o medo deles é compreensível. É por isso que estamos pedindo apenas uma redução da produção. Não gostaríamos que as empresas se aproveitem da desculpa na emergência e dos seguros-desemprego e nos mandem todos para casa".
Um difícil equilíbrio entre os direitos e as tutelas dos trabalhadores, de um lado, a responsabilidade da empresa, pelo outro e, em segundo plano, os efeitos de uma crise sem precedentes que corre o risco de derrubar todo o sistema manufatureiro do país. "Enquanto isso, eu, como meus colegas, também devo pensar em minha família, em todos os problemas decorrentes do fechamento das escolas, no estresse de ambulatórios e hospitais, nas dificuldades de movimento. Gostaria de estar em posição de fazê-lo". A oração daqueles que se recusam a se sentir filhos de um deus menor.
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Coronavírus, a oração leiga do trabalhador: “Na fábrica me sinto em uma armadilha” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU