12 Março 2020
A gigante farmacêutica britânica GlaxoSmithKline (Gsk) está colaborando com outras empresas do mundo farmacêutico para encontrar, o mais rápido possível, uma vacina contra o coronavírus. Cotada nas bolsas de valores de Londres e Nova York, a GSK está envolvida em três áreas principais de atividades globais - medicamentos, vacinas e produtos inovadores para a saúde - com um faturamento de mais de 30 bilhões de libras. Na Itália, está presente com a GSK Vaccines, a empresa do grupo GSK inteiramente dedicada às vacinas. Cerca de 2000 pessoas trabalham em Siena e na vizinha Rosia no centro de pesquisa e planta de produção que em 2018 distribuiu 47 milhões de doses de vacinas, exportadas para 54 países. Aqui trabalha o professor Rino Rappuoli, especialista internacional na área de vacinas e diretor científico da GSK Vaccini. Medalha de ouro ao mérito da saúde pública, Rappuoli foi cientista visitante na Rockefeller University de Nova York e na Harvard Medical School em Boston e em 2017 recebeu o European Inventor Award 2017 pelo European patent office.
A entrevista é de Marta Panicucci, publicada por Business Insider, 10-03-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Professor Rappuoli, vocês anunciaram que GSK colocará à disposição a tecnologia adjuvante para apoiar o rápido desenvolvimento de uma vacina contra o coronavírus: o que isso significa? Qual a vossa contribuição?
Na GSK, sempre estivemos na vanguarda do enfrentamento de doenças emergentes. Na época do SARS e da influenza aviária, usamos nossas tecnologias pioneiras para produzir vacinas em um tempo muito curto. Hoje, graças ao grande progresso da ciência e da tecnologia, a produção rápida de vacinas experimentais está ao alcance de muitos laboratórios acadêmicos e industriais. É por isso que, como GSK, nos perguntamos como poderíamos contribuir de uma maneira única e causar impacto na produção de uma vacina contra o novo Coronavírus. A escolha foi fácil. Qualquer pessoa que quiser desenvolver uma vacina à base de proteínas virais precisará de um adjuvante para tornar a vacina mais eficaz.
Explique melhor. Do que se trata?
Um adjuvante, como a palavra diz, é uma substância que é adicionada à vacina e consegue favorecer a resposta do sistema imunológico, criando uma imunidade mais forte e duradoura. Não só isso, o uso de adjuvantes é particularmente importante em uma situação de pandemia, pois pode permitir a redução da quantidade de antígenos necessários para cada dose da vacina, permitindo assim produzir mais. O desenvolvimento de adjuvantes leva vinte anos, portanto ninguém está apto a fazê-lo em pouco tempo. A nossa empresa é a única no mundo a ter desenvolvido e registrado adjuvantes para uso humano. Com essa estratégia, não participamos do desenvolvimento de uma única vacina, mas tornamos possível o desenvolvimento de muitas vacinas elaboradas por diferentes grupos. Até o momento, já iniciamos duas colaborações: com a Universidade de Queensland, na Austrália, através da parceria com o CEPI (Coalition for Epidemic Preparedness Innovations) e com a empresa chinesa Clover Biopharmaceuticals.
Existem muitas estimativas sobre os tempos necessários para desenvolver uma vacina, de poucas semanas a alguns anos, o que você pensa? Quando é que vamos realmente ter uma vacina?
Desde o início de janeiro, quando o código genético do novo Coronavírus foi disponibilizado à comunidade científica internacional, dezenas de laboratórios - desde pequenas empresas de biotecnologia até grandes empresas, passando por laboratórios acadêmicos - estão trabalhando no desenvolvimento de uma vacina. Graças às novas tecnologias, é possível produzir uma vacina experimental em laboratório em uma semana; no entanto, são necessários estudos em laboratório, estudos em modelos animais, estudos em humanos e a industrialização da produção de vacinas. Sob condições normais, o desenvolvimento de uma vacina leva de 15 a 20 anos, porque queremos ter certeza absoluta de sua segurança. Em condições de emergência, como no caso do Ebola, os tempos foram reduzidos para 5 anos. Hoje, graças às novas tecnologias, acredito que ainda podemos reduzir mais os tempos, mas seria impensável pensar em fazê-las em menos de um a três anos. Algumas empresas anunciaram que os primeiros testes em humanos já poderiam começar dentro de algumas semanas.
No início da emergência, foi dito que o coronavírus é "pouco mais que uma gripe". Agora parece que a opinião dos especialistas também está mudando e a taxa de mortalidade resulta mais elevada. Qual é a gravidade da situação na sua opinião?
A OMS divulgou recentemente através de seu diretor Tedros Adhanom Ghebreyesus algumas das diferenças entre a gripe sazonal e o Covid-19. De acordo com essa análise, a gripe não pode ser interrompida com isolamento e quarentena, enquanto com essas medidas é possível conter a disseminação da doença provocada pelo Coronavírus. A segunda diferença é que esse vírus se transmite rapidamente na população, porque ninguém nunca teve contato com ele antes e, portanto, todos são suscetíveis. No caso da gripe, ao contrário, a maioria da população já foi infectada ou vacinada e, portanto, muitos têm pelo menos uma imunidade parcial contra ela.
O governo italiano também está tomando decisões drásticas para conter o contágio por coronavírus. Você acha que são necessárias? E servirão para conter a disseminação?
Como eu disse, não tendo medicamentos nem vacinas para o Covid-19, medidas como a manutenção da chamada distância social, o isolamento e a quarentena das pessoas afetadas são certamente as medidas mais eficazes que temos disponíveis no momento, especialmente para limitar a disseminação do vírus. Não podemos nos dar ao luxo de superlotar os centros de terapia intensiva dos nossos hospitais: quanto menor a intensidade do pico, mais será possível para nossa saúde pública enfrentar a situação.
Uma última pergunta. Pela forma como a situação está evoluindo na Itália e na Europa, você espera que as infecções diminuam até a Páscoa, como alguns afirmam, ou que a situação continue por meses?
É muito cedo para dizer, temos que esperar mais algumas semanas para ter uma ideia mais completa. Embora o surto principal tenha sido circunscrito, os casos ainda continuam a crescer. Não podemos nos iludir, ainda poderemos ter meses à frente. E é precisamente por esse motivo que as medidas de contenção, mesmo quando parecem limitadoras, são tão importantes.
Segundo a Bild, as palavras de Angela Merkel literalmente congelaram os parlamentares alemães. "60% a 70% da população alemã poderia contrair o coronavírus", declarou a chanceler perante os membros do grupo parlamentar da CDU.
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É impensável que uma vacina contra o coronavírus esteja pronta em menos de 1-3 anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU