03 Setembro 2024
"Centenas de milhares de pessoas foram às ruas do país pedindo ao governo que assinasse o acordo de cessar-fogo. Segundo o fórum dos parentes dos reféns, em Tel Aviv havia 300 mil pessoas na praça. Estimativas sobre a participação em todo o país elevariam o total de manifestantes a 500 mil", escreve Riccardo Cristiano, jornalista, em artigo publicado por Settimana News, 02-09-2024.
"Cheguei à conclusão de que só a nossa intervenção pode mover aqueles que precisam ser movidos. Convoco o povo de Israel a ir para as ruas esta noite e todos a participarem da greve."
Depois do prefeito de Tel Aviv, que havia aderido parcialmente, na noite de ontem, o líder da Histadrut, o sindicato que representa centenas de milhares de trabalhadores do setor público em Israel, apoiou a ideia de uma greve geral proposta para hoje, segunda-feira, 2 de setembro, pelas famílias dos reféns após a descoberta dos corpos de seis deles, e a proclamou.
Os reféns foram mortos pelo Hamas. Entre eles, havia também um cidadão com dupla nacionalidade, americana e israelense. Para ele, assim como para as outras vítimas, o presidente dos Estados Unidos, Biden, disse estar devastado, afirmando que os líderes do Hamas pagarão por sua desumanidade e que os Estados Unidos continuam a trabalhar para assegurar um acordo de cessar-fogo e a libertação dos outros reféns.
Já ontem à noite, centenas de milhares de pessoas foram às ruas do país pedindo ao governo que assinasse o acordo de cessar-fogo. Segundo o fórum dos parentes dos reféns, em Tel Aviv havia 300 mil pessoas na praça. Estimativas sobre a participação em todo o país elevariam o total de manifestantes a 500 mil.
Houve discussões sobre se o Hamas realmente libertaria imediatamente 30 reféns, ou apenas 18. Mas ao menos 18 parece certo que seriam libertados imediatamente, ou seja, na primeira fase do acordo, dos 50 que se acreditava ainda estarem vivos.
O clima político, que já era tenso há muito tempo, tornou-se incandescente desde que uma emissora de televisão afirmou que o primeiro-ministro israelense teria informado, com a explícita discordância de seu ministro da defesa, que priorizaria a presença israelense no corredor que atravessa a fronteira entre Gaza e o Egito em detrimento da libertação dos reféns.
Para Benjamin Netanyahu, isso é essencial para a segurança de Israel. Seus opositores não negam a importância, mas destacam que o exército israelense só chegou lá após oito meses de guerra. No centro de tudo está, portanto, a discussão sobre qual deve ser a prioridade.
Pode-se dizer também assim, mas os parentes dos reféns e quem os apoia sentem-se abandonados pelo governo, conscientes de que o plano apresentado em 31 de maio por Biden, e por ele mesmo descrito como uma proposta vinda do governo israelense, prevê a retirada completa do exército de Gaza e a libertação dos reféns em duas fases: antes e depois da transição do cessar-fogo para o cessar-fogo permanente. Assim, para muitos desse grupo, o problema do governo seria não cair, dada a oposição dos ministros de extrema-direita a qualquer acordo. Um deles, na noite de ontem, pediu ao judiciário que impedisse a greve de hoje.
Netanyahu também foi criticado por ter falado apenas várias horas após a notícia do trágico encontro dos reféns mortos, e com uma mensagem televisiva gravada. Em sua mensagem, o primeiro-ministro atribuiu ao Hamas a responsabilidade pelo fracasso do acordo. Mas para seus adversários políticos, o oposto é verdadeiro. Isso teve um resultado pesado: a recusa de duas famílias dos reféns assassinados em receber o telefonema de condolências do primeiro-ministro – uma atendeu, as outras três, no momento da redação deste artigo, ainda não haviam respondido.
No Líbano, a guerra também tem provocado divisões internas profundas. O líder das Forças Libanesas, um partido cristão historicamente adversário do Hezbollah, fez um ataque muito duro ao oponente, acusando-o de arrastar todo o país para uma guerra sobre a qual os libaneses não puderam se pronunciar, como se o Estado não existisse. Sua posição foi amplamente destacada pela imprensa saudita.
Enquanto isso, um outro desafio começou em Gaza, onde as pausas humanitárias estão sendo mantidas para implementar o plano de vacinação de 640 mil crianças após a confirmação do retorno da poliomielite, após 25 anos. A vacinação começou na região central da faixa de Gaza.
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Israel em caos. Artigo de Riccardo Cristiano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU