30 Abril 2024
“Trouxeram para cá centenas de prisioneiros, de habitantes de Gaza, homens e mulheres, muitas vezes com feridas graves, doentes, pessoas com patologias oncológicas, mantendo-os algemados e vendados por horas, por dias". Irit lê a denúncia em voz alta, a poucas dezenas de metros da entrada da base militar de Sde Teiman, adjacente à pista do pequeno aeroporto de Beersheva. Diante dela cerca de cinquenta ativistas com cartazes eloquentes: “Pelo menos 40 detidos foram torturados”, “Sde Teiman é um campo de tortura”, “O que acontece em Sde Teiman?” e outros mais.
A reportagem é de Michele Giorgio, publicada por Il Manifesto, 24-04-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Atrás das cercas, os galpões onde – explicam os ativistas – são mantidos os prisioneiros palestinos. Os manifestantes, de organizações da esquerda radical, falam de Sde Teiman como a “Guantânamo de Israel”, de uma prisão onde se pratica a tortura e onde são violadas as regras mais básicas da dignidade humana para infligir o castigo mais severo possível aos palestinos de Gaza, todos considerados responsáveis pelo ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023.
Os militares de guarda à base são pegos de surpresa, não se dão conta imediatamente daquele grupo de pessoas. “Gostaríamos de dizer aos presos que estão a poucas dezenas de metros de nós, atrás daquelas cercas, que não estão sozinhos – continua Irit – e que têm a nossa atenção, a nossa solidariedade pelos abusos brutais e pela degradação em que são detidos. Não vamos parar de denunciar e pedir o fechamento imediato de Sde Teiman." O encontro se transforma num pequeno cortejo em direção à entrada da base. Os soldados ficam em alerta, mas não intervêm.
Os ativistas, por sua vez, levantam os cartazes e penduram as faixas com a clara intenção de que sejam lidas pelos militares. Um carro sai da base. “A sua ação é inaceitável, vocês percebem que estão manifestando-se a favor de monstros e assassinos?", grita o motorista ao lado do grupo de ativistas: nos galpões de Sde Teiman só existem "terroristas".
O exército israelense prendeu pelo menos 5.000 palestinos de Gaza depois de 7 de outubro. Principalmente homens, mas também mulheres. Eles são mantidos em vários centros de detenção e bases militares, como Sde Teiman e Holot, muitas vezes no Negev. Nos últimos meses, foram filmados vídeos de palestinos de cuecas, algemados e vendados, retirados de escolas, abrigos, habitações civis.
Entre eles, vários combatentes do Hamas e de outros grupos armados. Os outros, porém, são pessoas comuns, não envolvidas no 7 de outubro ou em combates contra as forças israelenses que invadiram Gaza, mas igualmente detidas e levadas – muitas vezes nada mais se soube delas durante semanas ou meses – para ser longamente interrogadas, conforme a denúncia apresentada em 4 de abril pelas ONGs Acri, Gisha, HaMoked, Médicos pelos Direitos Humanos e Comitê Contra a Tortura. Em carta enviada à procuradoria geral militar, as ONG pedem o fechamento imediato de Sde Teiman – onde se registram os abusos mais brutais, apontam – e a transferência dos detentos para estruturas em conformidade com as condições previstas pelo menos pela lei israelense.
Até o momento, houve poucas vozes de protesto contra Sde Teiman e os outros centros Israel. Grandes parcelas da população e do mundo político ainda exigem a mais dura retaliação contra toda Gaza com o objetivo de obter pela força a libertação dos 130 reféns israelenses, civis e militares, que estão nas mãos do Hamas. No início do mês um médico, de quem a imprensa não revelou a identidade, denunciou numa carta às autoridades as condições dos prisioneiros capturados em Gaza.
“Justamente esta semana – relatou o médico – dois presos tiveram as pernas amputadas devido a ferimentos causados pelas algemas, infelizmente uma ocorrência rotineira…os prisioneiros são alimentados com canudos, defecam em fraldas e são mantidos confinados constantemente, o que viola a ética médica e a lei”. Todos os pacientes da enfermaria de Sde Teiman “estão algemados em todos os quatro membros, independentemente de quão perigosos sejam considerados."
Um quadro até mesmo mais aterrorizante foi feito pelas pessoas interrogadas em Sde Teiman e soltas depois de semanas ou meses.
Os detidos, disseram, são mantidos numa espécie de jaula, ajoelhados numa posição dolorosa por muitas horas por dia. Estão algemados e vendados. É assim que comem, se alimentam e recebem cuidados médicos. Os soldados, acrescentaram, espancam os detentos, às vezes urinam neles, os privam de alimentação, dos serviços de higiene e do sono. Outras denúncias, entre as quais um documento da agência UNRWA (ONU) que inclui os depoimentos de mais de 100 ex-prisioneiros, relatam que as pessoas são mantidas em recintos ao ar livre, com a proibição de mover-se ou falar, e sofreriam regularmente graves violências, levando a fraturas, hemorragias internas, morte por falta de tratamento.
De acordo com uma investigação realizada pelo jornalista Hagar Shezaf do jornal Haaretz, no início de março 27 prisioneiros já haviam morrido sob custódia militar. As autoridades militares negam categoricamente: não há nenhum abuso em Sde Teiman e a tortura não é praticada, “os detidos – afirma o porta-voz militar – recebem comida suficiente, acesso ao banheiro com base em suas condições médicas. Se seus movimentos forem limitados, são fornecidas fraldas." E acrescenta: os médicos da estrutura podem solicitar o transporte para uma instalação hospitalar. Contudo, não está claro por que se pede aos médicos da prisão para não revelar a sua identidade e não falar com os jornalistas.
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“Prisão das torturas”. Em Sde Teiman Israel tem a sua Guantânamo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU