02 Setembro 2024
Na noite de domingo, centenas de milhares de israelenses protestaram nas principais cidades do país, em resposta à recuperação dos corpos de seis reféns em Rafah.
A reportagem é publicada por Página|12, 02-09-2024.
Centenas de milhares de pessoas tomaram as ruas das principais cidades de Israel para exigir que o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, chegasse a um acordo para a libertação dos reféns que estão em poder das milícias do Hamas na Faixa de Gaza. Um protesto intensificado pela descoberta dos cadáveres de seis sequestrados no sul do enclave palestino. A principal central sindical de Israel, Histadrut, convocou uma greve geral.
Um comunicado do exército israelense detalha que os restos mortais foram encontrados no sábado "em um túnel subterrâneo na região de Rafah". Netanyahu, em resposta, afirmou que "quem mata reféns não quer um acordo" para a trégua. O primeiro-ministro sentenciou, referindo-se aos líderes do Hamas: "vamos persegui-los, capturá-los e ajustar as contas". O dirigente conservador israelense encontra-se sob crescente pressão.
Segundo o jornal israelense Haaretz, o número de manifestantes em Tel Aviv rondou as 300 mil pessoas, onde rodovias foram bloqueadas e pneus incendiados, com a polícia local recorrendo a caminhões de água e policiais montados para dispersar os presentes. Isso desencadeou confrontos entre os manifestantes e os agentes, com pelo menos 15 detidos. Como parte do protesto, foram exibidos caixões simulados das últimas seis vítimas israelenses do conflito, cobertos com bandeiras.
A essa manifestação seguiu-se o chamado de Arnon Bar-David, diretor da principal central sindical do país, Histadrut, convocando uma greve geral que busca forçar o governo a chegar a um acordo para libertar os reféns, ao qual se somaram os familiares dos sequestrados, bem como o líder da oposição, Yair Lapid. "Não faz sentido que nossos filhos morram nos túneis por considerações políticas", disse o dirigente da federação de sindicatos. Essa paralisação inclui portos, fábricas, escritórios e até mesmo o Aeroporto de Tel Aviv, que suspenderão suas operações a partir de segunda-feira.
Os protestos se estenderam por todo o país, como em Haifa, a importante cidade portuária situada ao norte, onde milhares de pessoas bloquearam os acessos à cidade, empunhando a bandeira nacional, ou em Jerusalém, onde os manifestantes se posicionaram em frente à sede do Knesset, o Parlamento Israelense, em um protesto que se renovará na segunda-feira, ao mesmo tempo que se reunirá o Conselho de Ministros.
Embora o Ministério da Saúde israelense constate que, segundo a autópsia realizada nos corpos, os reféns teriam morrido por impactos de bala a curta distância dias antes de serem encontrados, um comandante do movimento islâmico Hamas, que falou sob condição de anonimato, afirmou que vários prisioneiros teriam morrido "por disparos e bombardeios dos ocupantes israelenses", e que alguns faziam parte da lista de pessoas a serem libertadas se um acordo de cessar-fogo fosse alcançado.
Entre os corpos recuperados estão os de Hersh Goldber-Polin, Carmel Gat, Eden Terushalmi, Alexander Lobanov, Amog Sarusi e Ori Danino, que faziam parte dos 251 reféns capturados pelo Hamas em seu ataque de 7 de outubro, que reacendeu o conflito e desencadeou a atual guerra em Gaza.
Os manifestantes coincidem em afirmar que os sequestrados foram assassinados pela falta de um acordo entre as duas partes. As negociações de cessar-fogo entre Israel e Hamas continuam sem um horizonte claro, com muitos dos presentes identificando as exigências do primeiro-ministro israelense - controlar o corredor de Filadélfia que separa Gaza do Egito e o de Natzarim, que separa o norte do sul de Gaza - como o maior impedimento para avançar na recuperação dos cativos.
Na quinta-feira, o dia em que se estima que os reféns possam ter sido assassinados, foi o mesmo dia em que Netanyahu, em uma reunião de gabinete, insistiu fervorosamente em manter a presença militar naquela fronteira.
Ao mesmo tempo, o exército israelense continua seu cerco militar contra os dois hospitais de Jenin, no norte da Cisjordânia, como parte de uma operação lançada na quarta-feira sobre o território ocupado, com bombardeios e incursões blindadas nas cidades de Nablus, Tubas, Tulkarem, campos de refugiados e na própria Jenin, onde os grupos armados anti-israelenses têm uma forte presença.
Como resultado desses ataques, pelo menos 24 palestinos foram mortos na Cisjordânia, segundo informa o Ministério da Saúde da Autoridade Palestina. Por sua vez, a polícia israelense comunicou o falecimento de três de seus agentes "em um tiroteio", após um ataque no posto de controle de Tarkumiya, perto de Hebron. O exército, durante a tarde, relatou ter abatido o responsável pelo ataque, que não foi reivindicado oficialmente, mas foi considerado em um comunicado do Hamas como "uma resposta natural aos massacres contra o povo palestino".
A guerra em Gaza, que mergulhou os 2,4 milhões de habitantes do território em uma situação humanitária catastrófica, decorre do ataque daquele 7 de outubro, que resultou em 1.205 mortes, em sua maioria civis, segundo uma contagem baseada em cifras oficiais israelenses. Em resposta, o governo de Israel prometeu destruir o Hamas e lançou uma retaliação que até o momento deixou 40.738 mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do território.
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Israel: manifestação massiva e chamado para greve geral - Instituto Humanitas Unisinos - IHU