04 Junho 2024
Prisioneiros "com os olhos vendados”, "nus", "vestidos com fraldas", “amarrados às suas camas” e "operados sem anestesia": existe uma Guantânamo ao estilo israelense? Em entrevista à rádio pública France Info, um médico israelense relata, sob anonimato, as condições de detenção de palestinos na base militar de Sde Teiman, localizada no deserto de Negev, no sul de Israel.
A reportagem é publicada por Radio France Internacional, 03-06-2024.
Há dois meses, ONGs de direitos humanos israelenses denunciam as condições de detenção em Sde Teiman, localizada a 30 quilômetros da Faixa de Gaza. Algumas organizações comparam esta base militar de Israel ao campo de prisioneiros administrado pelo governo americano em Cuba, para onde foram enviados acusados de envolvimento com terrorismo, após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
Nesta segunda-feira (3), em uma entrevista à rádio France Info, um médico que pôde visitar as instalações de Sde Teiman conta o que viu. “Os detidos não são tratados ali como seres humanos”, diz ele.
O cirurgião israelense entrou na base militar por uma hora, a pedido do exército, para atender um paciente gravemente ferido por arma de fogo. Ele descobriu uma estrutura separada em dois espaços: um presídio e um hospital de campanha.
"Os pacientes não têm nomes. Estão dispostos em duas filas. São entre 15 e 20 detentos. Estão todos amarrados e permanecem deitados nas camas. Não podem se mover. Têm os olhos vendados. Estão nus. Usam fraldas", descreve.
“É uma clara violação da Convenção de Genebra e do código de ética da Organização Mundial da Saúde. É uma tortura física e psicológica”, denuncia o cirurgião israelense.
Questionado por que decidiu revelar essas informações, o médico responde: "Quero ver esse local fechado”. “Não creio que tendas no deserto possam servir de hospital num país ocidental em 2024.”
The Ministry of Health's guidelines for the Sde Teiman facility enable these violations by allowing the participation of medical personnel in actions that constitute inhumane treatment or torture.
— Physicians for Human Rights Israel (PHRI) (@PHRIsrael) April 18, 2024
Prisioneiros hospitalizados em Sde Teiman morreram. “Em Guantânamo, em 20 anos, 20 pessoas morreram, mas aqui, em seis meses, são 40 mortes. Talvez seja pior do que em Guantânamo”, afirma Nadji Abbas, da ONG israelense Médicos pelos Direitos Humanos. Esta entidade apresentou vários recursos perante o mais alto tribunal de Israel, sem obter resultados.
We firmly believe every physician, healthcare worker, & organization representing the healthcare community has a responsibility to oppose its continued existence. The full report > https://t.co/KSMB5zCkwx
— Physicians for Human Rights Israel (PHRI) (@PHRIsrael) April 18, 2024
“Ninguém pode entrar na base e ninguém tem qualquer informação sobre o que acontece lá diariamente”, afirma Nadji Abbas. “A única explicação que consigo encontrar é o sentimento de vingança que a sociedade israelense sente. Não tratamos adequadamente esses prisioneiros. O que o exército israelense está fazendo com esses detidos é o que pode se chamar de uma política de desaparecimento forçado", diz o médico militante em entrevista à rádio France Info.
Diante da pressão da opinião pública, e talvez também da justiça internacional, o exército de Israel abriu uma investigação sobre as condições de detenção na base militar de Sde Teiman em meados da semana passada. Existem, segundo Naji Abbas, outros presídios semelhantes no território israelense, como, por exemplo, o de Ananot, a leste de Jerusalém, afirma.
Em 20 de maio, o procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, pediu aos juízes dessa corte mandados de prisão contra o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e o ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, além de vários líderes do Hamas. Eles são acusados de supostamente terem cometido crimes de guerra e crimes contra a humanidade em Israel e na Faixa de Gaza.
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"Guantânamo israelense": médico denuncia condições desumanas de detenção de prisioneiros palestinos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU