20 Outubro 2023
Enquanto a crise no Oriente Médio se inflama após o massacre no hospital anglicano de al-Ahli em Gaza, a Santa Sé tenta não perder o rumo seguindo um duplo caminho: o da oração pela paz e dos apelos à comunidade internacional percorrido pelo papa, e aquele da diplomacia confiado ao Cardeal Pietro Parolin, que repetiu um conceito quase esquecido nestes dias de guerra: ou seja, que a base para a solução do conflito entre Israel e Palestina deve passar pela fórmula "dois povos, dois estados" e que se deve partir daí se quisermos construir a paz entre os dois povos.
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada por Domani, 19-10-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Por outro lado, desta vez o Vaticano não pode errar: está em jogo o futuro da Terra Santa, onde as comunidades cristãs foram profundamente afetadas pela fuga de muitas famílias devido aos conflitos, aos extremismos religiosos, à pobreza e à falta de perspectivas para os mais jovens.
E, além disso, o novo conflito parece prefigurar o cenário evocado diversas vezes nos últimos anos pelo Papa Francisco de uma terceira guerra mundial travada aos pedaços. Ou seja, em várias frentes que poderiam, mais cedo ou mais tarde, se soldar. Num contexto desse tipo, o Secretário de Estado do Vaticano, Parolin, retomou à cena e agora parece guiar a diplomacia do Vaticano que entrou parcialmente em confusão após a eclosão da guerra na Ucrânia.
Desta vez, em todo caso, a posição do Vaticano não se presta a equívocos. Francisco, no final da audiência geral de ontem, dirigiu-se à comunidade internacional para que “todo o possível seja feito para evitar uma catástrofe humanitária" em Gaza onde, ele disse, "a situação é desesperadora".
Depois acrescentou um apelo dramático aos crentes: “Que as armas se calem! Que se ouça o grito de paz dos povos, das pessoas, das crianças! Irmãos e irmãs, a guerra não resolve nenhum problema, apenas semeia morte e destruição, aumenta o ódio e multiplica a vingança. A guerra apaga o futuro. Exorto os crentes a tomarem apenas um lado nesse conflito: aquele da paz; mas não em palavras, com a oração, com dedicação total”. Para o próximo dia 27 de outubro, o Papa convocou um dia de oração e jejum pela paz.
Parolin, para explicar a posição da Igreja de Roma na crise que atravessa o Oriente Médio, também foi entrevistado por Nunzia De Girolamo, no programa Avanti Popolo, da Rai 3.
Na oportunidade reiterou a condenação “total” do ataque levado a cabo pelo Hamas contra Israel. “A Santa Sé sempre teve uma linha muito precisa”, disse mais tarde, falando do conflito, “a paz na Terra Santa só pode vir do reconhecimento dos direitos de ambos os povos. Para nós isso sempre significou apoiar a fórmula de dois Estados que vivem de acordo com as fronteiras reconhecidas internacionalmente, em paz e em boas relações. A essa paz e à solução, só se pode chegar através do diálogo direto entre as duas partes, apoiado, sustentado e incentivado pela comunidade internacional." Uma posição que nega legitimidade tanto àqueles que, como o Hamas, querem transformar a causa palestina em uma espécie de Armagedom para destruir Israel, como para aqueles que, no governo de Netanyahu, nos últimos anos promoveram políticas racistas e xenófobas contra os palestinos. Parolin também listou quais são, para a Santa Sé, as prioridades na nova guerra: “Acredito que em primeiro lugar é preciso limitar os danos. O problema dos reféns é um ponto fundamental a ser resolvido, e a mediação internacional deveria ajudar também a desmontar e reduzir um pouco a tensão. Atualmente é difícil, não sei se estão em andamento negociações para trazê-los de volta, mas não me parece."
“Outro ponto a sublinhar – disse ele – é reconhecer o direito de Israel à legítima defesa, que, contudo, deve atender a critérios éticos, por exemplo, deve evitar absolutamente a morte de pessoas inocentes. O direito humanitário internacional deve ser respeitado. Foi isso que o Santo Padre pediu, e foi o que a ONU também pediu”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Guerra em Palestina-Israel. Parolin volta a ser central na diplomacia do Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU