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Vocação, castidade e discernimento: um olhar sobre jovens LGBTs na vida consagrada. Artigo de João Melo

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21 Junho 2025

"Uma pessoa LGBT que faz a opção pela vida religiosa e/ou presbiterado, infelizmente, pode chegar ao extremo de submeter-se e reproduzir um ambiente LGBT-fóbico por não se sentir apta ou por não vislumbrar a possiblidade de viver sua vida sem a instituição que a abrigou e a ajudou a esconder sua sexualidade", escreve João Melo e Silva Junior, licenciado em Filosofia e Matemática, bacharel em Teologia e mestrando em Educação na UERJ.

Eis o artigo.

Muitas/os jovens LGBTs sentem-se chamadas/os à vida consagrada. Apesar da proibição vaticana [1], o papa Bento XVI já admitia o relevante número de homens gays no clero e na vida consagrada. No livro Luz do Mundo, publicado em 2010, Bento XVI abordou o tema incluindo reflexões sobre a presença de gays em seminários e mosteiros.

Durante a entrevista no voo de volta do Rio de Janeiro, após a Jornada Mundial da Juventude em 2013, o papa Francisco fez um comentário que ficou amplamente conhecido. Ele disse: “Se uma pessoa é gay, busca o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?” Essa declaração foi feita quando o papa explicava sobre a presença de homens gays no clero católico e gerou grande repercussão por sua abordagem pastoral e acolhedora [2].

O pontificado de Francisco vem incentivando o reconhecimento e o acolhimento de pessoas LGBTs por parte de suas comunidades. Em junho de 2022, a província franciscana de Santa Isabel, na Alemanha, elegeu como superior o frei Markus Fuhrmann, que se declarou publicamente gay:

Para mim, pessoalmente, era uma questão de minha própria veracidade. Se eu vivo e sou ativo como religioso nesta igreja e também tenho responsabilidades de liderança, também gostaria de poder deixar claro quem sou e o que defendo. Se sou gay, quero mostrar que também posso fazer parte da igreja neste ministério. Isso é importante porque não deveria ser assim [exclusão] na igreja. Infelizmente, há muita hipocrisia institucional em nossa igreja. Para que haja algo que na verdade não deveria estar lá, mas todo mundo sabe que está lá. Eu gostaria de promover e ver isso como uma oportunidade, que nós, como igreja, somos coloridos, que a igreja é (também) queer, que é isso que Deus quer, que isso corresponde à diversidade da criação e, portanto, é bastante normal [3].

No entanto, a presença significativa de lésbicas, gays e bissexuais na vida consagrada continua a ser amplamente silenciada dentro da Igreja. Enquanto em alguns países da Europa e em certas regiões dos Estados Unidos, a realidade de consagradas/os de orientação sexual dissidente [4] é abordada de maneira mais aberta, no Brasil esse tema ainda é tratado como tabu. Esse apagamento gera graves consequências, dificultando um discernimento vocacional autêntico e transparente para aquelas/es que desejam seguir esse caminho.

Institutos de vida consagrada, congregações, ordens religiosas e organizações da vida consagrada no Brasil precisam dar um passo corajoso para “fora do armário”, reconhecendo com respeito a diversidade humana a fim de promoverem comunidades de fé que proporcionem um verdadeiro pertencimento.

Doutrina em contraste com a realidade: desafios e perspectivas

A doutrina da moral sexual da Igreja afirma que a única forma legítima de ato sexual ocorre entre um homem e uma mulher cisgêneros [5], unidos pelo sacramento do matrimônio, sem o uso de métodos contraceptivos, com finalidade procriativa e unitiva. Essa visão, entretanto, parece cada vez mais distante da vivência real das juventudes, incluindo as consagradas. Diversas/os teólogas/os moralistas, no Brasil e no exterior, já sugeriram um aggiornamento da compreensão e do ensinamento oficial da Igreja sobre a sexualidade humana. Diante desse cenário, questiona-se se a doutrina moral sexual da Igreja deve ser reproposta para as/os jovens de hoje.

Seja como for, para todas as outras pessoas, ou seja, as pessoas solteiras que mantém relações sexuais, ou as pessoas que vivem em uniões sem o sacramento do matrimônio, ou as pessoas que se masturbam, ou as que são divorciadas e recasadas, ou as que embora casadas na Igreja, usam métodos contraceptivos, para todas elas, nessas situações, a doutrina da Igreja recomenda a abstinência de atos sexuais. No caso das católicas e católicos LGBTs, a Igreja ensina que é necessário viver o celibato, isto é, sem relações sexuais para sempre. Nessa perspectiva, não há espaço para o discernimento, e a pessoa é levada a acreditar que a vontade de Deus para ela é o celibato compulsório. 

Ora, se o celibato é um dom, como ensina a própria doutrina da Igreja, ele não deveria ser obrigatório para todas as pessoas LGBTs. Esse dom deveria ser abraçado com liberdade e gratuidade, e não imposto como condição para viver conforme a vontade de Deus. O teólogo e formador de jovens vocacionados Donald Cozzens, autor de livros sobre o celibato, afirma que se trata de um dom raro, vivido genuinamente por pouquíssimas pessoas. E mesmo para essas, muitas vezes, o celibato é marcado por sofrimento profundo e mutilação afetiva. 

A crença míope que limita excessivamente a compreensão do que é a vontade Deus, está desencarnada da criação e da verdade da realidade querida e desejada no amor pelo Pai, o seu Criador. Toda vez que a compreensão do que é a vontade de Deus torna-se enrijecida em uma forma doutrinal, ela corre o risco de impedir a recordação dos ensinamentos de Jesus, pois dispensa a constante vinda do Espírito Santo (Jo 14,26).

A crise de vocações religiosas e o adoecimento espiritual, emocional e psíquico de pessoas consagradas, de membros do clero e de católicos e católicas LGBTs são consequências diretas dessa doutrina intrinsecamente desordenada, que mascara uma realidade eclesial complexa e dolorosa. 

Ocorre que pessoas LGBTs que não vivem plenamente suas sexualidades, buscam reprimi-las em nome do que acreditam ser o modo correto de viver a vontade de Deus que desejaria a sua mutilação afetiva por meio de um celibato compulsório ou uma heterossexualidade cisgênera forçada. É sobretudo nelas que o aprendizado da indignidade pode despertar para o vício da culpabilidade.

Essa culpa não colabora para o crescimento humano e espiritual, mas é só uma treta do inimigo da natureza humana. Santo Inácio de Loyola, mestre do discernimento dos espíritos, alertava para tomarmos cuidado com o mal que se apresenta a nós na forma de bem. Para uma pessoa mais escrupulosa, sentir-se perpetuamente culpada tem a aparência de bem, pois é para ela um indício do seu constante arrependimento, humildade e consciência de pecado. Nada mais mentiroso e enganador. É preciso desconfiar dos sentimentos interiores e aprender a identificar de onde eles vieram e para onde eles levam. Esse é um bom critério para começar.  

De uma maneira ou de outra, a pessoa LGBT sente que sua condição é, no mínimo, um “problema” na relação com a família e amigos, e nos ambientes de estudos, profissionais e eclesiais.

Voto de castidade e discernimento das motivações vocacionais

A pessoa LGBT que aprende da doutrina da Igreja e da LGBT-fobia da sociedade que há algo de errado com ela e que ela deve envergonhar-se e até esconder sua orientação sexual e/ou identidade de gênero, muito provavelmente, terá sua experiência de fé e sua relação com Deus marcadas por este estigma e confusão.

Muitas vezes, ela terá a árdua tarefa de superar uma culpa que oprime mente e coração. Seu itinerário de fé e discernimento costuma ser marcado por um aprendizado equivocado de indignidade, isto é, trata-se de uma experiência de orfandade e abandono que potencializa um sentimento de solidão, e que impede a percepção da radicalidade da filiação divina partilhada por todos e todas, que somos irmãos e irmãs (Mt 23,8). A pessoa católica LGBT, por vezes, necessitará passar pela experiência do perdão doado na generosidade da entrega apaixonada de Jesus à humanidade (Jo 10,18) para superar a dificuldade de deixar-se amar profundamente, e para superar a rejeição, consciente ou inconsciente, à aceitação da liberdade de filha e filho de Deus (Rm 8,21-22).

Viver a própria dissidência sexual e de gênero como um problema pode impedir a pessoa de seguir em frente e encarar verdadeiramente o “mal” que ela acredita que cometeu, desapegando-se do peso que ela carrega. Afetivamente, a pessoa costuma estar apegada de forma desordenada pelo que se culpa. Esse afeto, para ela, pode ainda ser maior e mais importante do que a acolhida afetiva que ela é capaz de fazer do amor incondicional de Deus, que perdoa tudo.

Além disso, muitas vezes, a pessoa viciada na culpa de ser LGBT encontra nela certa gratificação imediata – assim como o viciado em álcool ou em drogas sente uma passageira gratificação quando ingere uma dose de seu “veneno”. O vicio da culpa pode fazer com que quem o vive experimente uma falsa humildade e, portanto, um certo orgulho por isso. Na espiral da culpa, o mal espírito leva a pessoa a crer que Deus se agrada de sua privação afetiva do perdão de si, como se seu fechamento à superabundância da Graça fosse um sacrifício para se orgulhar. Por isso, é preciso estar atento aos sentimentos interiores para desmascarar as armadilhas do inimigo da natureza humana.

Diante desses desafios, a pessoa LGBT marcada pela doutrina intrinsecamente desordenada da Igreja acerca da sexualidade humana, buscará uma forma de sobreviver e “se encaixar” no seu mundo social e eclesial. Por essa razão, professar o voto de castidade e abraçar a vida consagrada pode saltar-lhe como uma opção adequada. Muitas vezes, essa escolha é até motivada pela ilusão, mesmo que inconsciente, de “recompensar” a Deus e a sua comunidade pelo “mal” que ela é ou pode representar sendo LGBT.

Entre as/os jovens LGBTs, que forem dissidentes de gênero, como pessoas transgêneras, não-binárias e de gênero fluído, cuja visibilidade da identidade ou expressão de gênero são reconhecidas como divergentes das normas culturais ou sociais tradicionalmente associadas ao sexo atribuído no nascimento, elas dificilmente serão aceitas na vida consagrada, ao menos que escondam o gênero a que se identificam. Entretanto, as/os jovens LGBTs que forem dissidentes sexuais cisgêneros, como as lésbicas, gays e bissexuais, estas/es mais facilmente podem ingressar na vida religiosa se esconderem sua orientação sexual dissidente. Isso ocorre porque, no contexto eclesial, as pessoas de orientação sexual dissidente possuem maior passabilidade, isto é, capacidade de serem percebidas como heterossexuais pertencentes a um grupo privilegiado. Isso influência na forma como são tratadas, com maior aceitação, embora ainda convivam com o desafio e a pressão para “se encaixar”.

Das/os aceitas/os, muitas e muitos jovens LGBTs, ingenuamente, acreditam que entrar para a vida consagrada vai diminuir os seus desejos sexuais, ou que o ambiente religioso não estimularia tais práticas, ou ainda que seria até “curada/o de sua desordem moral”, etc.

A falta de transparência e diálogo sobre esse aspecto abre fértil terreno para a imaginação da/o jovem vocacionada/o que usará da experiência de vida que possui para oferecer o melhor que pode para abrigar-se na instituição. Muitas/os delas/es, sem ainda conseguir nomear claramente o que sentem, o que são, e sem terem conversado abertamente sobre sua sexualidade e/ou identidade de gênero com familiares e amigos, terão na vida consagrada, muitas vezes, o primeiro espaço de descoberta de si ou de aprofundamento de sua própria identidade.

Daí, não é difícil entender o fascínio que a vida consagrada exerce sobre pessoas LGBTs. Para muitas/os jovens, ingressar na vida consagrada pode ser um refúgio em uma sociedade ainda marcada pelo preconceito.

Uma pessoa LGBT que faz a opção pela vida religiosa e/ou presbiterado, infelizmente, pode chegar ao extremo de submeter-se e reproduzir um ambiente LGBTfóbico por não se sentir apta ou por não vislumbrar a possiblidade de viver sua vida sem a instituição que a abrigou e a ajudou a esconder sua sexualidade.

Entretanto, muitas pessoas LGBTs falham nesse processo de vivência do voto de castidade como solução para o “problema” de sua orientação sexual e/ou identidade de gênero, pois essa compreensão equivocada requer intensa e constante repressão sexual da verdade da diversidade querida e desejada no amor pelo Pai, o seu Criador. Então, em meio a culpa e ao sofrimento emocional, adotam um estilo de vida que busca desintegrar sua fé de sua afetividade.  

É entristecedor ver tantas e tantos jovens acreditando que Deus se agrada com sua frustração afetivo-sexual. Quantas pessoas, refugiadas na instituição que condena suas experiências sexuais e de gênero, acabam vivendo-as à margem, sem nunca integrar a verdade de quem são à plenitude de suas vidas. Presas pelo sigilo da vergonha, da culpa e do medo, elas vivem o que o papa Francisco chama de vida dupla: Repetem a já questionada doutrina da Igreja que condena a plenitude da sexualidade querida e amada por Deus na diversidade das pessoas LGBTs, ao mesmo tempo em que possuem suas vivências sexuais.  

Essa negação da realidade, motivada pelo medo de confrontar verdades desconfortáveis, é uma grande hipocrisia que marca a vida da Igreja nos tempos atuais. Enquanto isso, vidas são silenciadas, e corações permanecem divididos.  

O medo de expor a realidade da diversidade das/os consagradas/os e a preocupação com a credibilidade institucional impedem a Igreja de lidar com coragem com seu verdadeiro desafio.

Vida consagrada como expressão da beleza da diversidade da criação

A vida consagrada pressupõe o voto de castidade, um compromisso que está intrinsecamente ligado à afetividade e à sexualidade da pessoa consagrada. Ignorar, silenciar ou simplificar essa realidade compromete não apenas a honestidade do discernimento vocacional, mas também a saúde emocional e espiritual daquelas/es que buscam essa forma de vida. Tanto as/os candidatas/os quanto as/os formadoras/es têm a responsabilidade de abordar esse tema com maturidade, evitando visões idealizadas ou repressoras.

Os Padres da Igreja ensinaram que “o que não é assumido, não pode ser redimido”. A redenção operada na humanidade por meio da união com Cristo requer que a natureza humana seja plenamente reconhecida e integrada, e isso inclui a sexualidade e a identidade de gênero. Um discernimento vocacional verdadeiramente enraizado na graça divina e na realidade humana deve levar em conta essas dimensões fundamentais da existência.

Além disso, o adoecimento de jovens presbíteros e religiosas/os tem sido um tema crescente. A misoginia estrutural e a LGBT-fobia institucional são desafios que precisam ser enfrentados, não como princípios doutrinários imutáveis, mas como desvios que impedem a Igreja de viver plenamente sua vocação evangélica. A sexualidade, constantemente tratada como um problema moral nas confissões e nos acompanhamentos espirituais, raramente é abordada com parresia e transparência libertadora.

Curiosamente, à medida que a sociedade se torna mais inclusiva e menos preconceituosa, o número de vocações na Igreja tem diminuído. No entanto, quanto mais aberta, transparente e acolhedora for a instituição religiosa, mais pessoas – incluindo LGBTs – poderão discernir sua vocação de maneira consciente e livre. Assim, aquelas/es que discernirem pela vida religiosa poderão vivê-la de forma comprometida e verdadeiramente inspirada pelo Evangelho.

A vivência saudável do voto de castidade deve ser uma característica essencial de qualquer pessoa que abrace a vida consagrada, independentemente de sua orientação sexual e identidade de gênero. No entanto, a integração da própria identidade e sexualidade pode levar anos, tornando o discernimento vocacional um caminho desafiador e, muitas vezes, solitário. A adesão a essa vocação deve ser fruto de um discernimento livre e consciente, não uma fuga da própria identidade e/ou sexualidade.

Quem tem sua vida espiritual enraizada na relação pessoal com Deus e na escuta do Espírito Auxiliador não substituí, suprime ou condiciona sua vida espiritual e seu modo de estar no mundo, por um vínculo a um conjunto de ideias que lhe trazem uma falsa segurança, mas está aberta/o ao que Santo Inácio de Loyola convidava: “deixe o Criador agir diretamente com a criatura, e a criatura com seu Criador e Senhor” (Exercícios Espirituais, n. 15).  

O Espírito Auxiliador, que sopra onde quer (Jo 3,8), continua hoje a nos convidar para uma compreensão mais profunda do amor incondicional de Deus. Ele nos chama a reconhecer que a diversidade humana - em todas as suas expressões de gênero, afeto e identidade - não é um erro a ser corrigido, mas um reflexo da criatividade divina a ser celebrado. Quando permitimos que esse sopro do Espírito guie nossa vida espiritual, descobrimos que nossa participação na vida e missão da Igreja não depende de negarmos quem somos, mas de nos sentarmos à mesa em comunhão com os irmãos e irmãs, e oferecermos genuinamente quem somos ao serviço do Reino. 

A vida consagrada precisa ser esse lugar em que também as pessoas LGBTs façam a experiência pessoal e comunitária do encontro com o amor incondicional de Deus, para que elas encontrem forças para serem elas mesmas, na verdade que liberta dos “armários”.  

Infelizmente, ainda hoje, boa parte das pessoas consagradas LGBTs não vivem em comunidades de fé que favorecem a experiência do encontro com o amor incondicional de Deus que liberta. Por isso, grande parte não está imbuída da ousadia evangélica. Uma boa parte simplesmente busca a aceitação e a preservação de suas vidas, pois lhe faltam testemunhos e uma rede de apoio que as encorajem a ir além. 

Considerações finais

O celibato obrigatório, embora valorizado por segmentos religiosos mais conservadores, não ocupa um lugar de destaque na hierarquia das verdades da fé. Ele não é um dogma. Em termos simples, não é necessário acreditar ou seguir o celibato obrigatório para ser um/a bom/boa leiga/o cristã/o católica/o LGBT. Entretanto, a pessoa que escolher pela vida consagrada, que inclui o voto de castidade, deve fazê-lo com liberdade e desejo profundo de ser consagrada/o.

Renunciar à mentalidade que encara a dissidência sexual e de gênero como um problema é libertação de toda uma forma de relacionar-se com Deus que estava baseada nos parâmetros humanos de merecimento, ardilosa estratégia do mal espírito. Cair na conta do amor generoso de Deus de quem somos filhos e filhas para a liberdade (Gl 5,1) é acolher a loucura que é a imensidão do amor de Deus (1Cor 1,18), que não tem lógica, razão e não se justifica, mas apenas é, e é abundantemente (Jo 10,10; Rm 5,20).   

Como ensina o papa Francisco em Amoris Laetitia, n. 37, a pessoa cristã católica é chamada a formar sua consciência moral, e não a substituí-la pela doutrina católica. Isso significa responder o melhor que se pode ao Evangelho, mesmo em meio aos limites e condicionamentos – inclusive limites e condicionamentos doutrinais da própria instituição. A pessoa cristã católica é chamada a realizar o seu próprio discernimento perante situações em que se rompem todos os esquemas doutrinais, buscando a verdade e a plenitude de sua vida com coragem e fé.  

No fundo, toda e qualquer pessoa espiritual é chamada a perguntar a si mesma:  Vivo e ajo segundo o que o Espírito sopra em meu coração ou vivo segundo interpretações secundárias que em troca de minha submissão me recompensam com uma falsa proteção e pertencimento a uma estrutura de poder? Onde está depositada a minha confiança? No poder das convicções estabelecidas ou na brisa do Espírito que me convida a desapegar-me de mim mesmo? Onde quer estar o meu coração?

Referências

BENTO XVI; SEEWALD, Peter. Luz do Mundo: O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos. São Paulo: Paulinas, 2011.

CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA. Instrução sobre os critérios de discernimento vocacional em relação às pessoas com tendências homossexuais e sua admissão ao seminário e às ordens sagradas. São Paulo: Paulinas, 2005.

COZZENS, Donald. A face mutante do sacerdócio. São Paulo: Edições Loyola, 2010.

COZZENS, Donald. Liberar o celibato. São Paulo: Edições Loyola, 2008.

FRANCISCO. Exortação apostólica Amoris Laetitia. São Paulo: Paulus, 2015.

FRANCISCO. Encontro do santo padre com os jornalistas durante o voo de regresso. Domingo, 28 de julho de 2013. Disponível aqui. Acesso em: 7 mar. 2025.

GENOVESI, Vincent. Em busca do amor: moralidade católica e sexualidade humana. São Paulo: Edições Loyola, 2009.

INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS (IHU). Frades franciscanos da Alemanha elegem irmão abertamente gay como novo líder provincial. Instituto Humanitas Unisinos - IHU, 4 de novembro de 2022. Disponível aqui. Acesso em: 7 mar. 2025.

LOYOLA, Inácio de. Exercícios espirituais. São Paulo: Edições Loyola, 2000.

PROGRAMA MAGIS BRASIL. Acompanhamento espiritual de jovens à luz da espiritualidade inaciana. São Paulo: Edições Loyola, 2020.

Notas

[1] Instrução sobre os critérios de discernimento vocacional em relação às pessoas com tendências homossexuais e sua admissão ao seminário e às ordens sagradas, publicado pela Congregação para a Educação Católica em 2005.

[2] FRANCISCO, papa. Encontro do santo padre com os jornalistas durante o voo de regresso. Domingo, 28 de julho de 2013. Disponível aqui. Acesso em: 7 de mar. 2025.

[3] Instituto Humanitas Unisinos (IHU). Frades franciscanos da Alemanha elegem irmão abertamente gay como novo líder provincial. Instituto Humanitas Unisinos - IHU, 4 de novembro de 2022. Disponível aqui. Acesso em: 7 de mar. 2025.

[4] As orientações sexuais dissidentes incluem aquelas que não se enquadram na heterossexualidade normativa. Exemplos comuns são a homossexualidade (atração por pessoas do mesmo gênero), a bissexualidade (atração por mais de um gênero), a pansexualidade (atração independente de gênero) e a assexualidade (ausência de atração sexual).

[5] Uma pessoa cisgênero é aquela cuja identidade de gênero corresponde ao gênero atribuído no nascimento. Por exemplo, alguém designado como mulher ao nascer e que se identifica como mulher ao longo da vida seria considerado cisgênero.

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