04 Abril 2024
"A Liga Árabe readmitiu Assad em seu salão nobre. Um território crucial para os equilíbrios - ou desequilíbrios - regionais, é terra de incursões por parte de quem quer que seja. Mas por que não pensar em uma administração extraordinária e provisória das Nações Unidas?", escreve Riccardo Cristiano, jornalista italiano, em artigo publicado por Settimana News, 03-04-2024.
Após a morte de sete trabalhadores humanitários envolvidos na distribuição de ajuda em Gaza (muitos dos quais ocidentais) devido a um bombardeio equivocado, reconhecido como tal por Israel, a ONG americana a que pertenciam decidiu suspender suas operações. Isso coincide com uma nova tentativa diplomática.
Paris anunciou uma resolução "abrangente" para Gaza: condenação do Hamas e de seu massacre em 7 de outubro, das violências sexuais perpetradas contra mulheres israelenses, liberação imediata e incondicional de todos os reféns, mas solicitando um cessar-fogo imediato, com definição de disposições de verificação no terreno, abertura de todos os pontos de acesso terrestre para a ajuda humanitária, abertura do porto de Ashdod e compromisso, com o compromisso de reconstruir rapidamente a autoridade palestina em Gaza.
O texto, segundo alguns órgãos de imprensa, já está circulando entre os diplomatas dos países membros do Conselho de Segurança. Mas na ONU a diplomacia já tem outros compromissos. A Rússia solicitou e obteve uma discussão urgente sobre a ação militar que resultou no colapso de um prédio em Damasco, propriedade da embaixada iraniana - consulado -, e na morte de três altos generais dos Guardiães da Revolução iranianos, o mais importante dos quais, Mohammad Reza Zahedi, até sua morte foi assistente pessoal do comandante-chefe do Batalhão Al-Quds, o corpo dos Guardiães da Revolução ativos no exterior: o general Qaani. É óbvio que Rússia e China querem condenar o ataque, atribuído a Israel. O secretário-geral da ONU pediu respeito às sedes diplomáticas.
Mas isso, e muito mais, em que solo ocorre? Na Síria.
O exército de Assad voltou a se posicionar no sul, nas fronteiras com o Golã, com base em um acordo mediado pelos russos - uma potência estrangeira - que garantia que os Guardiães da Revolução - uma potência estrangeira - não entrariam lá.
Era 2018, a Rússia estava confiante em sua presença dominante na Síria, a ponto de expulsar o alto funcionário iraniano que havia servido antes de Mohammad Reza Zahedi. Desde 2022, há guerra na Ucrânia. Agora o atentado terrorista em Moscou. O que acontece com a esmagadora presença militar russa na Síria? Diminui? E o que acontece nas posições de observação adquiridas ao sul?
Se o Irã se infiltrasse nesses distritos, seria um problema para todos os vizinhos. De fato, o reino da Jordânia está abalado por manifestações e protestos: de Amã, muitos não descartam que possam ter um potencial de desestabilização. Não são apenas manifestações de raiva e de rua, mas também ações contra as forças policiais, até agora com pedras, talvez até com alguns coquetéis molotov.
Se por trás das manifestações estiverem os iranianos, seria um problema maior do que parece. Isso só poderia acontecer devido às infiltrações do sul da Síria. Não é por acaso que as frequentes incursões dos narcotraficantes - apenas narcotraficantes!? - da Síria para a Jordânia agora estão sendo combatidas com armas pelo exército de Amã.
Quando, em 3 de janeiro de 2020, um ataque americano eliminou o general Qassem Soleimani, o poderoso líder dos Guardiães da Revolução no exterior, temeu-se muito uma forte reação de Teerã. Não foi assim. Teerã sabe calcular muito bem os riscos do "jogo": o de trazer a guerra para dentro de casa, experiência que Teerã já teve nos anos 1980 - por causa de Saddam Hussein - e desde então, não quer repetir. Prefere levar a guerra para a casa dos outros. Os escombros iraquianos, sírios, libaneses, iemenitas confirmam isso de forma eloquente.
Desta vez, Teerã trará - através da Rússia - uma questão ao Conselho de Segurança da ONU, já que uma sede consular desabou, com a bandeira hasteada no telhado. E os mortos. Mas dificilmente, a este ritmo, outros seguirão capazes de trazer a guerra para o solo iraniano.
Em vez disso, além dos ataques usuais às bases americanas que poderiam ser intensificados (o Irã definiu o ataque em Damasco como uma operação americana), parece-me agora que a Jordânia é o lugar onde o Irã poderia encontrar resultados capazes de alarmar seus inimigos. A decisão, nas últimas horas, de convidar os líderes do Hamas e do Jihad Islâmico para Teerã pode ser um indicativo nesse sentido.
Certamente, os preços a pagar são altos: custam a vida a fiéis exportadores da revolução, como acontece, agora diariamente, no Líbano, não apenas no sul do Líbano. Vemos as frequentes eliminações de altos expoentes do Hezbollah, por lá.
É obrigatório pensar, por exemplo, em possíveis ações de terceiros - aliados de Teerã - como os milicianos houthis do Iêmen e outros.
No entanto, resta uma questão fundamental: dado que o caso da destruição da sede consular iraniana foi levantado por Teerã e Moscou - e não por Damasco, que talvez nem tenha o fax do Conselho de Segurança da ONU -, é preciso entender se a Síria existe e ainda é um Estado.
A Liga Árabe readmitiu Assad em seu salão nobre. Um território crucial para os equilíbrios - ou desequilíbrios - regionais, é terra de incursões por parte de quem quer que seja. Mas por que não pensar em uma administração extraordinária e provisória das Nações Unidas?
Deve-se lembrar que permanecem enormes problemas no norte da Síria, onde os milicianos islâmicos, indiretamente apoiados pela Turquia, são contestados por manifestações oceânicas diárias. O mesmo tem ocorrido há um ano na região drusa, ainda formalmente controlada por Assad.
Enquanto a leste, o conflito entre curdos e turcos certamente não se acalmou, ocupando algumas áreas estratégicas desses territórios. Isso confirma que os riscos de desestabilização adicional são muito altos: os focos quase sempre precisam do trânsito sírio.
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Diário de Guerra (43) Síria, Jordânia, Irã. Artigo de Riccardo Cristiano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU