21 Setembro 2023
"O nosso mundo continua nas garras de uma Terceira Guerra Mundial travada pouco a pouco e, no trágico caso do conflito na Ucrânia, não sem a ameaça de recorrer às armas nucleares". Este é o grito de alarme lançado pelo Papa Francisco na mensagem enviada ao cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, chanceler da Pontifícia Academia das Ciências Sociais por ocasião do Congresso sobre Pacem in Terris organizado pela instituição vaticana.
A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada por Il Fatto Quotidiano, 19-09-2023.
Palavras que chegam um dia depois da audiência privada de Bergoglio com o novo embaixador russo junto à Santa Sé, Ivan Soltanovsky, para apresentação de cartas de credibilidade. O diplomata é uma pessoa de extrema confiança do presidente Vladimir Putin e grande amigo do Patriarca de Moscou Kirill.
Tudo isso enquanto o chanceler russo, Sergei Lavrov, anunciava uma nova viagem a Moscou do cardeal Matteo Maria Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana e arcebispo de Bolonha, como enviado do Papa para a missão de paz na Ucrânia. O cardeal já esteve em Kiev, Moscou, Washington, onde se encontrou com o presidente Joe Biden, e em Pequim.
Em sua mensagem, Bergoglio volta ao dia 11-04-1963, exatamente sessenta anos atrás, quando São João XXIII publicou sua encíclica-testamento menos de dois meses após sua morte. De fato, escreve Francisco, “o momento atual assemelha-se de forma perturbadora ao período imediatamente anterior à Pacem in Terris, quando em outubro de 1962 a crise dos mísseis cubanos levou o mundo à beira da destruição nuclear generalizada. Infelizmente, nos anos que se seguiram àquela ameaça apocalíptica, não só o número e o poder das armas nucleares aumentaram como também aumentaram outras tecnologias de guerra e até mesmo o consenso de longa data sobre a proibição de armas químicas e biológicas está em perigo. Hoje, mais do que nunca, devemos prestar atenção à advertência profética do Papa João de que, à luz da terrível força destrutiva das armas modernas, é ainda mais evidente que “as relações entre Estados, como entre indivíduos, devem ser reguladas não pela força armada, mas de acordo com os princípios da reta razão: isto é, os princípios da verdade, da justiça e da cooperação vigorosa e sincera”.
O Papa destaca também as partes da encíclica de Roncalli dedicadas ao desarmamento e aos caminhos para uma paz duradoura. Escreve Bergoglio: “Espero que as suas deliberações, além de analisar as atuais ameaças militares e tecnológicas à paz, incluam uma reflexão ética disciplinada sobre os graves riscos associados à posse continuada de armas nucleares, sobre a necessidade urgente de progressos renovados no desarmamento e no desenvolvimento de iniciativas de consolidação da paz. Afirmei noutro lugar a minha convicção de que a utilização da energia atômica para fins de guerra é imoral, tal como a posse de armas nucleares é imoral. É responsabilidade de todos nós manter viva a visão de que um mundo livre de armas nucleares é possível e necessário. Neste caso, o trabalho das Nações Unidas e organizações relacionadas na sensibilização do público e na promoção de medidas regulamentares adequadas continua a ser crucial".
Para Bergoglio, “a preocupação com as implicações morais da guerra nuclear não deve ofuscar os problemas éticos cada vez mais urgentes levantados pela utilização na guerra contemporânea das chamadas ‘armas convencionais’, que deveriam ser utilizadas apenas para fins defensivos e não diretamente contra alvos civis. Espero que uma reflexão aprofundada sobre esta questão conduza a um consenso de que tais armas, com o seu imenso poder destrutivo, não serão utilizadas de uma forma que causem “danos desnecessários ou sofrimento desnecessário”, nas palavras da Declaração de São Petersburgo. Os princípios humanitários que inspiraram estas palavras, fundadas na tradição do ius gentium, permanecem tão válidos hoje como quando foram escritos pela primeira vez, há mais de cento e cinquenta anos”. Finalmente, Francisco faz sua a esperança de Roncalli para que “através da força e da inspiração de Deus, todos os povos possam abraçar-se como irmãos e irmãs, e para que a paz pela qual anseiam possa sempre florescer e reinar entre eles”.
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Papa Francisco eleva o nível de alarme: “O mundo está nas garras de uma terceira guerra mundial, com a ameaça de armas nucleares” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU