10 Agosto 2023
“Estamos muito distantes da paz na Ucrânia, mas o trabalho do cardeal Zuppi como enviado do Papa Francisco voltou a colocar em movimento o diálogo”. Falamos com o fundador da comunidade de Santo Egídio, Andrea Riccardi, folheando o Avvenire, em cujas colunas o ex-ministro definiu a diplomacia de Bergoglio como uma "diplomacia popular".
A entrevista é de Giampiero Calapà, publicada por Il Fatto Quotidiano, 09-08-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na falta de diplomacias oficiais, surge aquela “popular” do Papa Francisco? No que consiste?
Quando se pensa na diplomacia vaticana, no imaginário está sedimentada uma diplomacia antiquada, formal e clássica. Elementos que, claro, permanecem. Mas com o Papa Francisco tudo isso se inverte, porque a ofensiva de paz do pontífice, envolvendo os jovens reunidos em Lisboa, torna-se uma ação popular pela paz.
Caso contrário, nos acostumaríamos com a guerra...
Cresce na opinião pública europeia uma certa indiferença e incômodo face às dificuldades econômicas. Com palavras, iniciativas e um convite à oração, o Papa mantém a tensão para a superação da guerra, recolocando-a no centro da pauta, porque a Igreja está convencida de que a paz é possível através do diálogo.
A paz, no entanto, parece impossível. A Ucrânia não leva em consideração mediações sem vitória. Considerações severas também chegam dos russos.
Apesar disso, o Papa Francisco insiste no diálogo e envia seu enviado. E algo está se movendo: prova disso é o encontro na Arábia Saudita com quarenta países, entre os quais a China. Estamos muito distantes da paz na Ucrânia, mas também graças ao trabalho do cardeal Zuppi, um processo de diálogo internacional foi novamente iniciado.
Zuppi, justamente. Na realidade, exceto a atividade diplomática do cardeal - entre Kiev, Moscou, Washington e provavelmente Pequim em breve – não se vê outro grande ato na cena mundial para se esforçar pela paz. Quase parece que a paz na Ucrânia seja "conveniente" apenas para o Vaticano…
É verdade que não há mais ninguém que tenha realizado em uma viagem tão ampla. No entanto, a Santa Sé não visa o protagonismo político, mas recoloca no centro a paz e o diálogo, repito, como instrumento para alcançá-la. A paz está no coração de muitos, não só no Vaticano, mas também naqueles que combatem: nos próprios ucranianos, mesmo que não possam pagar um preço demasiado alto por ela.
Mas por que ninguém mais se mexe?
Seriam necessários todos os grandes atores. Talvez algumas tentativas de mediação visaram resultados que não poderiam vir tão cedo. Para dizer a verdade, um chefe de estado muito ativo é o turco Erdogan, embora sobre seu regime não é possível não nutrir reservas. A Turquia, que já obteve o acordo do trigo um ano atrás, assim como a China, é um sujeito muito importante. E, de forma diferente, vários países do Sul global também começam a ser.
Mesmo no Níger, depois do golpe, sopram ventos de uma guerra que de certa forma parece a mesma…
Não estou convencido de que seja a mesma coisa. Estou convencido, porém, de que o golpe nasceu de motivos internos e que a junta militar está buscando apoios. As bandeiras russas são mais uma provocação do que qualquer outra coisa, claro que todo vazio corre o risco de atrair outras presenças. Pessoalmente, tenho a sensação de que não haverá intervenção militar por parte dos estados da Ecowas, a Comunidade Econômica da África Ocidental. A pergunta a se fazer é: por que a democracia não funciona naquela parte da África? Para a grande maioria da população não chegam os benefícios da democracia e isso gera uma raiva que os militares, como em outros contextos os jihadistas, podem interpretar.
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“A paz está no coração de muitos, mas só permanece ali. Só o Vaticano está realmente tentando”. Entrevista com Andrea Riccardi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU