27 Junho 2023
O impacto da tentativa de golpe na Rússia sobre a missão de paz do cardeal Zuppi em Moscou. Quem fala sobre isso ao SIR é Dom Stefano Caprio, professor de história e cultura russa no Pontifício Instituto Oriental de Roma (Pio). “Não sei – diz ele – se e quando o cardeal Zuppi irá a Moscou, mas essa situação de alguma forma facilita a missão da Santa Sé em termos de motivações, porque os russos estão tão isolados, mesmo do ponto de vista eclesiástico, que Roma, o Papa, permanece o único amigo que têm”.
A reportagem é de M. Chiara Biagioni, publicada por Agência SIR, 26-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Isso é o que observa Dom Stefano Caprio, missionário na Rússia de 1989 a 2002 e professor de história e cultura russa no Pontifício Instituto Oriental de Roma (Pio), comentando ao SIR o impacto que a tentativa de golpe de sábado, 24 de junho, poderia ter também sobre a segunda etapa - após aquela na Ucrânia – da missão de paz do cardeal Matteo Zuppi em Moscou em nome do Santo Padre. “Está claro – argumenta o especialista – que ir a Moscou agora para falar sobre a paz na Ucrânia não faz sentido. Se você for a Moscou agora, terá que pedir aos russos que fiquem tranquilos entre si. Nesse sentido, paradoxalmente, a divisão interna e a fragilidade da Rússia quase favorecem a missão de Zuppi porque ele não deve propor negociações de paz – são questões políticas e militares. Ele deve convidar, ouvindo, a um espírito de paz dentro e fora dos países. É, portanto, uma mensagem mais profunda e universal”.
A Santa Sé se apresenta neste momento quase como um único interlocutor. “Em nível eclesiástico – ressalta o padre – os russos romperam totalmente com Constantinopla e todas as outras igrejas ortodoxas, mesmo as mais próximas, não se expõem a favor de Moscou, ou se manifestam claramente contra. Portanto, não têm mais nem esse suporte moral em nível religioso, espiritual, universal. “No mundo eles agora aparecem como um país vilão, uma Igreja vilã, que arruinou todo o renascimento religioso dos últimos 30 anos. Portanto, se a Santa Sé assume a responsabilidade de continuar um diálogo, é quase um ato de caridade para com eles”. Em suma, "os russos não podem prescindir do diálogo com Roma" e a Santa Sé pode levar uma mensagem importante para a Rússia neste momento histórico particular que é o de "recuperar a verdadeira alma da Rússia, a alma da sua religião ortodoxa, da sua cultura, de sua tradição universal, vivida, porém, não em conflito com o mundo, mas como mensagem de unidade e compreensão mundial”.
Dom Caprio também observa que um "Putin enfraquecido" também significa "um Patriarca fraco". Mesmo que o cargo de patriarca seja vitalício, Kirill poderia sofrer com o fato de ter "exagerado na retórica" no último ano. "Ele se enfraqueceu ultimamente com a história do ícone da Santíssima Trindade de Rublev" e de sua transferência forçada do museu para a igreja." Uma decisão - conta Caprio - que "tem gerado muito descontentamento entre os próprios fiéis, não só pelos possíveis danos à obra, mas também porque é evidente que não se pode tratar assim uma obra-prima da arte apenas para fazer propaganda". Também estão gerando confusão as excomunhões de uma série de padres que se pronunciaram a favor da paz. “Até o Patriarca entende – comenta Dom Caprio – que a situação está saindo do controle”. Por fim, o missionário italiano conta ter ouvido várias pessoas nos últimos dias, em Moscou e em outras partes da Rússia. “A maioria das pessoas comuns tenta ficar o mais longe possível do que está acontecendo. Muitos sabem que qualquer palavra, mesmo trocada entre amigos no bar, mesmo em contextos privados, pode gerar consequências. Você tem até medo de falar em família. É, portanto, uma condição muito pesada”.
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“O Papa permanece para os russos o único amigo que têm”. Padre Caprio, professor do Pontifício Instituto Oriental de Roma, sobre a missão do Cardeal Zuppi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU