15 Mai 2011
A análise da conjuntura da semana é uma (re)leitura das "Notícias do Dia’ publicadas, diariamente, no sítio do IHU. A análise é elaborada, em fina sintonia com o Instituto Humanitas Unisinos - IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores - CEPAT - com sede em Curitiba, PR, parceiro estratégico do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.
Sumário:
O calidoscópio mundo do trabalho
- Azaléia. Demissão em Parobé e contratação na Índia
- PLR. Incomoda o capital, une categorias, mas divide a classe
- Foxconn. Tecnologia do século XXI, exploração do século XIX
- Blue Labour. A face conservadora do movimento operário
- Geração Y. Novas relações de trabalho?
Conjuntura da Semana em frases
Eis a análise.
O calidoscópio mundo do trabalho
O dramático fechamento da fábrica Azaleia/Vulcabras em Parobé (RS); as péssimas condições de trabalho na Foxconn, empresa chinesa que recentemente anunciou investimentos fabulosos no Brasil; o blue labour, a nova tendência no movimento operário inglês e as greves dos trabalhadores das montadoras pela Participação nos Lucros e Resultados - PRL - são notícias repercutidas nos últimos dias pelo sítio do IHU – sempre atento aos acontecimentos no mundo do trabalho. Aparentemente desconexos, esses acontecimentos encontram-se no calisdoscópio mundo do trabalho globalizado.
Um mundo do trabalho que se anuncia sempre e cada vez mais fragamentado e complexo, mas que encontra unidade na voracidade do capital que empurra milhares para a precariedade e poucos para ganhos extraordinários, ao mesmo tempo em que divide os trabalhadores tornando o projeto de classe uma utopia distante.
A análise dos fatos mencionados permite uma leitura de vários mundos do trabalho que se manifestam localmente, mas que se compreendem globalmente. Global é a dinâmica do capital, local e fragmentada tem sido a resposta dos trabalhadores. É ainda possível um projeto de classe emancipatório?
Azaleia. Demissão em Parobé e contratação na Índia
"Está difícil de acreditar, ver todo mundo saindo junto, parece que estão todos indo para férias, mas não é. Estão todos demitidos" – Cleomar Mattiello, 15 anos de empresa.
No final da tarde de 09 de maio, uma segunda-feira, centenas de operários deixaram o portão principal da Vulcabras/Azaleia, em Parobé, no Vale do Paranhana, no Rio Grande do Sul, com o aviso prévio em mãos: encerravam ali décadas de dedicação à calçadista referência para toda a região e o Brasil.
A empresa - símbolo cinquentenário da indústria calçadista gaúcha – inesperadamente anunciou o fechamento da linha de produção no município e colocou 800 trabalhadores na rua. Parobé, berço da matriz da Azaleia, não produzirá mais calçados da empresa. A produção foi deslocada para o Nordeste do Brasil e para a Índia.
"Foi uma medida necessária, o Brasil não tem sido um país que proporciona competitividade ao setor", justificou o presidente da Vulcabras/Azaleia e da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados – Abicalçados, Milton Cardoso.
"Ganância", reagiu o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Calçadista de Parobé, João Nadir Pires em entrevista ao IHU: Segundo ele o fechamento se deve "a ganância pelo lucro" e acrescenta: "Em média uma empresa gasta 19% do que arrecada em mão de obra, então não é problema. Sobre os impostos, as grandes empresas estão indo conversar com o governo exatamente na intenção de explorar a mão de obra barata e de ter o lucro", disse ele.
O governador Tarso Genro reagiu com indignação ao anúncio de fechamento da empresa: "Irresponsável e desrespeitoso". "Não fomos comunicados sobre a decisão da empresa, que recebeu benefícios fiscais homéricos do Estado. Portanto, recebeu dinheiro do povo gaúcho", criticou o governador.
O fechamento da Azaleia pegou todos de surpresa. A empresa foi considerada nas últimas décadas um sucesso empresarial. Era um dos "cases" exemplares do mundo bussiness e objeto de estudo nas melhores faculdades de administração e economia do país.
Demissão em Parobé e contratação em Chennai. A Azaleia/Vulcabras comprou uma fábrica em Chennai na Índia – próxima a Nova Délhi, faz alguns meses. A unidade de Chennai emprega mil pessoas, porém pretende aumentar esse número para 5 mil em um ano e meio. As razões do deslocamento é a baratíssima mão de obra do país. "A ida da empresa para a Índia foi a gota d`água para que extinguissem a produção do município", disse Gaspar de Mello Nehering, da diretoria do Sindicato dos Sapateiros de Parobé.
O deslocamento da produção do sul do Brasil para outras localidades começou nos anos 1990: "Lá nos anos 1990 começou esse movimento de deslocar as unidades de produção de calçado aqui do RS para o Nordeste", afirma Achyles Barcelos, professor da UFRJ, entrevistado pelo IHU.
Esse movimento de deslocamento é conhecido como "forças correstritivas da concorrência", afirma o professor da UFRJ. Segundo ele, "a tendência de maior globalização do mercado tem se intensificado nos últimos anos. Às vezes, as empresas são empurradas a fazer a internacionalização de sua produção. Se o teu concorrente faz um movimento e vai para fora e for bem sucedido, o outro tem que acompanhar. Quando algumas empresas aqui do Vale dos Sinos foram para o Nordeste e se deram bem por lá, outras acompanharam esse movimento. Como os custos de produção lá eram mais baixos, os concorrentes têm que fazer o mesmo. É como usar a tecnologia. Se a fábrica usa tecnologia, vai desempregar. Porém, se não usar, vai desempregar mais ainda porque vai quebrar".
As "forças correstritivas da concorrência" fizeram com o Rio Grande do Sul perdesse em cinco anos 40 mil empregos no pólo calçadista. "Em 2004, o Rio Grande do Sul tinha 143 mil trabalhadores diretos na indústria de calçados. Em 2009, esse número caiu para 101 mil", afirma Achyles Barcelos.
Esse diagnóstico de crise no pólo calçadista do Vale do Sinos já foi amplamente abordado em uma edição da revista IHU On-Line – 25-06-2007.
Mesmo no contexto do aquecimento da economia nacional nos últimos anos e de forte incentivo fiscal recebido – que será apurado pelo Ministério Público Federal (MPF) gaúcho –, a empresa optou por sacrificar a planta industrial no lugar em que nasceu. A justificativa foi a perda da competitividade: "Entre as fábricas que temos no Brasil, era a de maior custo e de menor escala. Por isso a opção pelo encerramento", justificou o presidente da Vulcabras/Azaleia e da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados – Abicalçados, Milton Cardoso.
As vítimas foram os trabalhadores. "Estávamos trabalhando, e mandaram parar a produção porque a empresa estava sendo fechada. Ficou todo mundo apavorado e começou a choradeira. Tinha gente com 30 anos de casa, pessoas mais idosas passando mal, tiveram que ser levadas para o ambulatório. Fomos todos pegos de surpresa", conta Oziel Santos de Jesus, 28 anos, funcionário da montagem, que trabalhava na empresa há 10 anos.
Trabalhadores da melhor qualidade que foram descartados: "A respeito da mão de obra calçadista aqui de Parobé, eu costumo dizer que é a melhor do estado. O trabalhador da Azaleia tem capacidade de fazer uma sandália e um tênis de alta qualidade e tecnologia; são trabalhadores muito especializados. Eles não podem ser jogados em qualquer lugar...", afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Calçadista de Parobé, João Nadir Pires.
PLR. Incomoda o capital, une categorias, mas divide a classe
"É melhor parar a fábrica do que pagar o que pedem" – Thomas Schmall, presidente da Volkswagen do Brasil.
"Infelizmente, vai chegar um ponto em que é melhor aceitar parar a fábrica do que pagar o que estão pedindo. É mais barato ficar em greve do que pagar e estragar todo o plano futuro da empresa". A afirmação é do presidente da Volkswagen do Brasil, o alemão naturalizado brasileiro Thomas Schmall em relação à reivindicação dos trabalhadores da montadora Volkswagen/Paraná que pedem R$ 12 mil de Participação nos Lucros e Resultados (PLR).
O pedido dos trabalhadores da Volkswagen da planta industrial de São José dos Pinhais (PR) segue o rastro das outras montadoras da região. Das três fabricantes de veículos instaladas no Paraná, a Renault vai pagar R$ 12 mil aos 6 mil funcionários da fábrica de São José dos Pinhais e a Volvo desembolsou R$ 15 mil de PRL para cada um dos 3 mil trabalhadores da unidade de caminhões e ônibus de Curitiba.
A Volks tem quatro plantas industriais no país (três de carros e uma de motor) e acertou com as unidades de São Paulo pagamento de R$ 5,2 mil da primeira parcela do PLR neste mês. O restante está atrelado a metas a serem cumpridas no ano, cláusula que, segundo a Volks, o sindicato de Curitiba não aceita. O presidente do sindicato dos metalúrgicos da Força Sindical, Sérgio Butka, afirma que a produtividade dos trabalhadores do Paraná é 40% superior à de São Paulo e a mão de obra é mais barata em igual proporção. "Reivindicamos uma equidade maior", diz ele.
O presidente da Volkswagen do Brasil reage: "Nos últimos anos, aceitamos várias das reivindicações, mas a produtividade e os números não melhoraram. Por isso, foi tirado investimento de lá, porque esse comportamento tem impacto nesse tipo de decisão. Acho que nossos funcionários não são informados de maneira correta pelo sindicato, porque acham que estamos na melhor fase no Brasil, o que não é verdade".
E adverte com ares de chantagem: "Ninguém vai fechar uma fábrica mas, num ambiente de crescimento, precisamos pensar na participação que Curitiba terá no grupo. Estamos investindo R$ 6 bilhões no País, principalmente na Anchieta e em Taubaté. Eu não sei hoje se vamos investir mais em Curitiba".
O mecanismo da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) é uma relativa "novidade" no mundo do trabalho brasileiro. A PLR foi regulamentada no começo do Plano Real, em 1994. Segundo o pesquisador do Cesit/Unicamp, José Dari Krein, sua adoção serviu para: 1) ajudar a viabilizar a subordinação da remuneração ao plano de estabilização dos preços, oferecendo uma válvula de escape a possíveis pressões por melhoria nos vencimentos, sem que implicasse a concessão de reajuste salarial e, 2) introduzir a remuneração variável, dentro de um projeto de flexibilização das relações de trabalho coadunado com a lógica liberal hegemônica nos anos 90.
Desde o início a PRL se tornou interessante para as empresas e para os trabalhadores.
Para as empresas, o programa foi uma forma de tornar a remuneração variável de acordo com o seu desempenho, de estimular o aumento da produção e da produtividade e de reduzir custos, principalmente porque a PLR não incide sobre os direitos trabalhistas e tampouco representa percentagem a ser nominalmente acrescida ao salário. Trata-se de um bônus pontual.
Além disso, destaca Krein, "a PLR também passa a ser utilizada como elemento da política pessoal da empresa, envolvendo estratégias organizativas e de negócios, em que a remuneração variável torna-se um fator de engajamento e de compromisso com os objetivos da empresa - no linguajar empresarial significa "vestir a camisa’ do time".
Do ponto de vista dos trabalhadores, destaca o pesquisador do Cesit, "a PLR torna-se um dos poucos pontos em que foi possível obter alguma vantagem financeira durante boa parte dos anos 90". Segundo José Dari Krein, "em muitas categorias, por um lado, a PLR começou a interessar e mobilizar mais os trabalhadores do que o reajuste salarial. Por outro lado, para o sindicato, a bandeira da PLR foi a conquista possível, dado o contexto adverso das campanhas salariais no período entre meados dos anos 90 até meados dos anos 2000".
A PRL se tornou sedutora para os trabalhadores que veem a possibilidade de um ganho rápido e imediato. A PRL ganhou tal importância que hoje mobiliza mais do que as próprias campanhas salariais, como destaca o sindicalista Anselmo Ruoso: "Hoje, chegamos a um absurdo, porque existem trabalhadores que ganham numa PRL mais do que ganhariam o ano inteiro de salário; é a remuneração variável dominando. Como é que se controla isso? Fica complicado, ainda quando a inflação está beirando 4% ao ano. Entre os trabalhadores, qual é a escolha? Receber um montante - que são doze meses de salário dele - ou ficar fazendo greve por 2% ou 3% de aumento? Hoje, é muito mais fácil fazer uma greve pela PRL do que uma greve por um reajuste salarial. Chegou-se a esse absurdo".
Nesta perspectiva, a PRL significa um ganho "ilusório", que se esvaí e não se incorpora aos ganhos reais e duradouros, porém dado o seu volume a ser percebido de uma vez só seduzem os trabalhadores e os mobilizam intensamente, como assiste-se nos casos citados acima.
Por outro lado, a PRL é para poucos e pode redundar em "elitização" e apartação de determinadas categorias em relação as demais, principalmente aquelas que se encontram na economia de serviços e/ou possuem fraca representação sindical. A PRL do ponto de vista de classe é desagregadora.
Do lado empresarial, a PRL que já foi uma "solução" vem se tornando um "problema". A PRL já foi vista, e de certa forma continua sendo, como um excelente mecanismo de aumento de competividade e ganhos para o capital. Por um lado, as empresas fixam a PRL a metas e fazem com que os trabalhadores produzam mais e, por outro, diluem ganhos reais a serem incorporados nos salários em um bônus.
O problema é quando o valor da PRL ultrapassa os limites do que o capital considera razoável e mobiliza fortemente os trabalhadores como se vê nas montadoras paranaenses. Nesse momento o capital revela toda sua truculência com a ameça do fechamento da empresa ou retirada de investimentos. Nesse caso a postura da Volks Brasil é a mesma da Azaleia/Vulcabrás, ou seja, ameaças e/ou concretização de deslocamento da unidade fabril para lugares onde paga-se menos para os trabalhadores.
Foxconn. Tecnologia do séc. XXI e exploração do séc. XIX
"Trabalho de segunda a sábado, 12 horas por dia" – Zhang Feng, operário da Foxconn.
Na recente viagem de Dilma Rousseff à China, a gigante asiática Foxconn – 900 mil empregados – anunciou investimentos na ordem de US$ 12 bilhões para produzir equipamentos eletrônicos, sobretudo iPads, no Brasil. A Foxconn é a maior fornecedora de componentes eletrônicos do mundo e tem entre os seus clientes Apple, Dell e Nokia.
A Foxconn é uma empresa de ponta do novo capitalismo mundial – associada à Revolução Informacional, porém, com padrões de trabalho que a situa na pré-Revolução Industrial. Capitalismo do século XXI com exploração do trabalho do século XIX.
A Foxconn está entre as seis empresas consideradas, em votação pela internet, como as piores do mundo em respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente. A votação é iniciativa das ONGs Berne Declaration e Greenpeace, que apresentaram o resultado no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, em janeiro.
Em 2010, 13 trabalhadores da sua unidade em Shenzhen (China) cometeram suicídio. A empresa é conhecida pelas regras duras que impõe a seus trabalhadores. "Não temos permissão de falar ao trabalho", diz Wang Cui. Na hora do almoço, milhares de trabalhadores deixam a fábrica para a área na frente do portão da fábrica. A comida no refeitório da fábrica não lhes apetece, então compram macarrão e vegetais ao vapor em pratos de plástico de barraquinhas montadas sobre bicicletas e motocicletas.
"Trabalho de segunda a sábado, 12 horas por dia", diz Zhang Feng, 20, que também faz parte do controle de qualidade. Cada dia de trabalho tem duas horas extras obrigatórias e os sábados também contam como hora extra. "Assim, são quase 20 horas extras por semana", diz Zhang, "e um total de 80 por mês".
A vasta maioria dos mais de 900 mil empregados da Foxconn são jovens, estão na faixa etária de 16 a 24 anos. Particularmente na China, muitos trabalhadores são também estudantes estagiários, apontando para o papel das escolas como agentes de força de trabalho para as fábricas do país.
A Foxconn está no país desde 2003 e tem 5.860 trabalhadores em suas quatro plantas no Brasil. Na planta industrial de Jundiaí (SP), a maior delas, operários da linha de produção se queixam de coação para fazer hora extra, pressão para atingir metas, ritmo de trabalho hiperintenso, múltiplos contratos de experiência e alta rotatividade. "Dizem que precisam de gente para sábado e domingo. Se a gente diz que não dá, perguntam: "Por quê? Que compromisso você tem?". Falam bem perto, assim [indica proximidade face a face]. A gente se sente coagido".
O presidente da Foxconn, o bilionário taiwanês Terry Gou, recentemente falou mal dos trabalhadores brasileiros. Em setembro de 2010 em uma entrevista ao jornal The Wall Street Journal, reclamou dos salários "muito altos" dos brasileiros e, "ridicularizou" a ideia de que o País possa fazer frente ao poder industrial da China: "Os brasileiros, assim que ouvem a palavra "futebol", param de trabalhar. E tem também toda a dança. É loucura".
Entusiasmado com o projeto que planeja investir US$ 12 bilhões em uma fábrica de telas digitais no Brasil, criando 100 mil empregos, o governo brasileiro minimiza as condições trabalhistas precárias que a empresa pratica em suas unidades na China: "O Brasil tem uma legislação trabalhista clara e garantidora dos direitos dos empregados, e a empresa, que já está no Brasil, vai segui-la rigorosamente", disse o ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia), que encabeça as negociações pelo Brasil.
Blue Labour. A face conservadora do movimento operário
"Uma política radical e conservadora, inovadora e tradicional ao mesmo tempo" – Maurice Glasman, idealizador do Blue Labour.
Economia em recessão, precarização no trabalho, grande fluxo de imigrantes. É para enfrentar preocupações como essas que nasceu o Blue Labour na Inglaterra. O movimento é favorável a um maior controle da imigração, à reindustrialização do país, a fortalecer os sindicatos e recolocar na agenda as reivindicações dos trabalhadores. Ainda mais, O Blue Labour em sua versão "fé, pátria e solidariedade", pretende reconstruir comunidades fortes, retornar ao patriotismo e ao sentimento de orgulho pelo próprio país.
"O Blue Labour é um primeiro passo para renovar os partidos progressistas e redescobrir algumas das suas tradições mais nobres, inovando em outros campos", afirma o sociólogo Anthony Giddens, mentor da Terceira Via, a ideia reformista que levou Tony Blair ao poder da Grã-Bretanha.
Segundo Giddens, o Blue Labour "é um programa ainda vago, que contém em seu interior diversas instâncias e respostas incompletas. De um lado, visa a conservar, ou melhor, a recuperar algumas formas tradicionais da identidade socialdemocrata: nesse sentido, representa uma ligação com a base trabalhista do passado, que se sente ameaçada em um mundo de transformações muito radicais e em parte esquecida pelo seu próprio partido. De outro lado, é também um olhar ao futuro, à busca de novas fórmulas, colocando em discussão tanto o mantra do liberalismo que resolve todos os problemas, pregado pelo New Labour de Blair, quanto aquele de que deve ser sempre o Estado que resolve tudo".
O Blue Labour tem uma política de direita ou de esquerda? Maurice Glasman o acadêmico que o inspirou, o "guru" do novo líder trabalhista Ed Miliband, responde: "Uma política radical e conservadora, inovadora e tradicional ao mesmo tempo", e acrescenta: "Uma política que vai além do liberalismo econômico dos anos do blairismo, despertando o associativismo democrático e a solidariedade, contendo os excessos do capitalismo, combinando fé e patriotismo, liberdade e internacionalismo, segurança e harmonia social".
Blue refere-se à cor tradicional do Labour, portanto, a um retorno às origens, e, de acordo com alguns, à nostalgia por algo que não existe mais. Mas o seu idealizador, Maurice Glasman, não concorda. "Essa não é uma política da nostalgia. É a redescoberta de hábitos e valores cruciais para o trabalhismo, que foram esquecidos ou considerados sem importância. Não é nem uma defesa da evanescente classe trabalhadora. É a redescoberta de que a visão ética da sociedade humana, que levou homens e mulheres a fundar o Labour em 1900, ainda é relevante e vital hoje".
Geração Y. Novas relações de trabalho?
"O conceito de trabalho está mudando" - Sidnei Oliveira, consultor de relações de trabalho.
A geração Y – que nasceu no final dos anos 1970 e durante a década de 1980 – está chegando ao mercado de trabalho e com ela, aumenta a tendência das mudanças na organização do trabalho. Segundo Sidnei Oliveira, consultor de empresas, em entrevista ao IHU, "dependendo do ramo de atividade, o trabalho vai sofrer grandes transformações".
"Nós vamos ouvir falar cada vez mais em trabalho por projetos; o horário de trabalho tende a se flexibilizar na maioria das profissões; vai ter de se abrir espaço para o trabalho remoto" [distante do local físico da empresa], afirma ele. Na opinião do consultor de empresas, "as relações de trabalho irão se modificar. As pessoas irão mesclar o trabalho com a vida pessoal e buscarão exercer um pouco mais da vida pessoal no ambiente de profissional porque, de alguma maneira, este já está invadindo a vida pessoal por conta dos equipamentos tecnológicos".
Oliveira, que presta consultoria para Vale do Rio Doce, Petrobras, Gerdau, TAM, entre outras, destaca que "hoje, uma pessoa leva parte do trabalho para casa quando tem um notebook, quando responde um relatório por e-mail, quando é acionada pelo celular no final de semana. Então, naturalmente a vida pessoal vai invadir o trabalho. Essa talvez seja a grande transformação que veremos nos próximos anos", afirma.
Segundo Sidnei Oliveira, "o conceito de trabalho vai ter de mudar. O conceito de oito horas de trabalho está fragilizado. As pessoas vão perceber que trabalham bem mais do que antes e isso já está acontecendo. A remuneração terá de ser diferente, não mais baseada em trabalho/hora e, sim, na recompensa pelo valor que se agrega ao trabalho, independe de quantas horas sejam dedicas para isso".
O autor de vários livros, entre eles, Geração Y - O nascimento de uma nova versão de líderes (2010), cita o seu exemplo: "Meu trabalho hoje independe da relação trabalho/hora. Neste momento em que concedo a entrevista, estou trabalhando. Em seguida, quando estiver na sala de espera do aeroporto, estarei trabalhando. Vou ter de otimizar minhas atividades para contemplar minha vida pessoal no trabalho. A melhor forma de fazer isso é trazer o trabalho para a vida pessoal e não ficar focado naquela ideia de que só se trabalha no horário determinado. Essa relação precisa se tornar mais flexível. Percebo que algumas pessoas já estão exercendo isso e algumas empresas estão percebendo os ganhos que têm quando flexibilizam o trabalho".
Sidnei Oliveira considera que essa geração ultrapassa o interesse apenas pelo salário: "Ela percebe que tem outros ganhos que não necessariamente os financeiros. Os Ys valorizam a questão financeira, sim, mas trocam facilmente o dinheiro por uma experiência boa e nova. É uma geração muito mais sensível à experiência de vida inédita".
Em sua opinião, "as empresas podem conquistar os jovens com uma oportunidade de trabalho ganhando metade do salário, desde que proporcione a ele uma viagem internacional. Tem muita empresa no mundo percebendo isso e oferecendo vaga de trabalho temporário em um ambiente diferente. As organizações que perceberam isso estão recrutando jovens brasileiros para trabalharem no exterior com um salário de 300 dólares, mais casa e alimentação. Os jovens abandonam salários de mil dólares para ganhar 300 em Singapura, pela experiência. O jovem quer curtir a vida antes, não quer esperar o final da vida para conhecer o mundo. Os profissionais querem trabalhar em empresas que lhes deem condições de estudar, de fazer cursos, de crescer na capacidade de gerar novos projetos. Isso tem mais valor do que o próprio salário".
Conjuntura da Semana em frases
Lula e os bancos
"Eu sei que tem gente que tem preconceito contra mim. Mas eu desafiaria qualquer um de vocês: eu duvido que algum empresário já ganhou mais dinheiro nesse país do que no meu mandato. Duvido que os bancos já tiveram mais lucro nesse país do que no meu mandato" - Lula, ex-presidente da República, falando a empresários na Casa Fasano, em São Paulo - Valor, 06-05-2011.
"China compra
"A China vai comprar a nossa soja mesmo se plantada no meio do rio Amazonas" - Reinhold Stephanes, deputado federal - PMDB-PR, ministro da Agricultura no governo Lula, refutando o argumento oficial de que a aprovação do Código Florestal, nos termos atuais, poderia comprometer as exportações devido a restrições de cunho ambiental por parte dos países compradores. – Folha de S. Paulo, 13-05-2011.
Tarso e a Azaleia
"Não fomos comunicados sobre a decisão da empresa, que recebeu benefícios fiscais homéricos do povo gaúcho. Aliás, o único comunicado foi o aviso-prévio dado aos empregados demitidos" – Tarso Genro, governador do RS – PT, criticando a forma como a Azaléia anunciou o fechamento da sua fábrica em Parobé – Zero Hora, 11-05-2011.
Ana de Hollanda
"O fato de estar se desenrolando na Cultura e não na Economia ou na Saúde a maior crise ministerial de seu governo deve ser motivo de secreta satisfação para a presidente Dilma Rousseff. Se é para dar rolo, melhor que seja ali, onde as decisões, acertadas ou não, não costumam custar muitos votos e nem atraem a atenção internacional" – Cláudia Laitano, jornalista – Zero Hora, 10-05-2011.
Traição
"Trabalhamos para corrigir a terrível traição ocorrida no regime do general Alfredo Stroessner [1954-89] e os erros cometidos contra o Paraguai no tratado" - Fernando Lugo, presidente do Paraguai - Folha de S. Paulo, 13-05-2011.
Nenhuma caridade
"É bom deixar claro que o Brasil não faz nenhuma caridade ao Paraguai" - Alberto Grillon, senador paraguaio, aliado do presidente Fernando Lugo - Folha de S. Paulo, 13-05-2011.
Democráticas?
"Terrorismo deu a reeleição a Bush e é arma de Obama para a reeleição. Que interessantes são as eleições chamadas democráticas" – Jânio de Freitas, jornalista – Folha de S. Paulo, 10-05-2011.
Licença-maternidade
"Não adianta só a licença-maternidade aumentar se a paterna não acompanha. Consolida a responsabilidade na mulher" - Maria Angélica Fernandes, secretária de articulação institucional e ações temáticas da Secretaria de Políticas para as Mulheres - Folha de S. Paulo, 08-05-2011.
"A licença-maternidade de seis meses é um grande ganho, mas, ao mesmo tempo, ela fortalece a visão de que a mulher é a responsável pelos cuidados" - Natália de Oiveira Fontoura, coordenadora de igualdade de gênero do Ipea - Folha de S. Paulo, 08-05-2011.
Tapa de luva
"Às 22h59 da última quinta, o SBT deu um tapa de luva militar na católica Globo e na evangélica Record ao colocar no ar um capítulo da história da teledramaturgia no país. O dono do baú da felicidade promoveu a alegria do tão esperado primeiro beijo gay em uma novela brasileira" – Vitor Ângelo, jornalista – Folha de S. Paulo, 14-05-2011.
Bullying
"O fato de a homossexualidade já estar na rua, na televisão, mas não na escola ou no livro didático, acaba levando ao bullying" - Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação - O Estado de S. Paulo, 12-05-2011.
Antômico
"O órgão sexual é um plus, um bônus, um regalo da natureza" - Ayres Brito, ministro do STF, ao reconhecer o direito de união civil dos homossexuais – Folha de S. Paulo, 08-05-2011.
Família
"Sou casado há 16 anos [com o arquiteto André Piva]. Como é que eu vou dizer que o André não é meu marido? Ele é meu marido, porra! De acordo com a lei, o casamento de duas pessoas é a união delas para constituir uma família " – Carlos Tufvesson, estilista, 38, que chefia a Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual do Rio – Folha de S. Paulo, 09-05-2011.
O cara!
"Foi o parabéns mais emocionante que recebi em toda minha vida. Este é o cara" - Toni Reis, presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), ao divulgar a mensagem telefônica de Lula, congratulando-se com ele, ontem, por ocasião da formalização da união civil com o seu parceiro - Folha de S. Paulo, 10-05-2011.
Fetiche
"No fundo, o segredo de dizer "é a cultura dela", ou "cada um tem um ponto de vista", é soar chique. É posar de estar em dia com o "respeito ao outro". Puro fetiche" – Luiz Felipe Pondé, professor de filosofia – Folha de S. Paulo, 09-05-2011.
Até que enfim!
"O problema de desvio de dinheiro público no Maranhão está com as horas contadas. A Polícia Federal caça há 2 dias no Estado o prefeito de São João do Paraíso, Raimundo Galdino Leite" - Tutty Vasques, humorista - O Estado de S. Paulo, 13-05-2011.
Ausência sentida
"Onde estava Aécio Neves quando as candidatas a Miss Brasil foram visitar o plenário do Senado? Bem-feito, perdeu!" - Tutty Vasques, humorista - O Estado de S. Paulo, 12-05-2011.
Jesus e o Twitter
"Jesus Cristo só conseguiu reunir 12 apóstolos porque não tinha Twitter". Se tivesse Twitter ia ter mais seguidor que o Luciano Huck! – José Simão, humorista – Folha de S. Paulo, 11-05-2011.
O patrão mora em casa
"Você fala: "Caramba, estou tratando meu filho como negócio". Claro. O Neymar até certo ponto é meu filho. Mas a partir do momento em que ele sai de casa, é meu negócio. É nosso trabalho" - pai e empresário de Neymar - Folha de S. Paulo, 12-05-2011.