11 Mai 2011
Algumas pessoas já a apelidaram de Quarta Via. Seu nome verdadeiro é Blue Labour, e a sua aspiração é reformar o Partido Trabalhista inglês, naturalmente para levá-lo de volta ao poder.
A reportagem é de Enrico Franceschini, publicada no jornal La Repubblica, 11-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Como? Com uma política de direita ou de esquerda? "Com uma política radical e conservadora, inovadora e tradicional ao mesmo tempo", responde Maurice Glasman, o acadêmico que o inspirou, o "guru" do novo líder trabalhista Ed Miliband. "Uma política que vai além do liberalismo econômico dos anos do blairismo, despertando o associativismo democrático e a solidariedade, contendo os excessos do capitalismo, combinando fé e patriotismo, liberdade e internacionalismo, segurança e harmonia social".
Pode parecer um coquetel com muitos ingredientes. No entanto, do Guardian à BBC, da Fabian Society à revista Progress, dos corredores do Parlamento de Westminster aos escritórios da Policy Network (a fundação criada por Peter Mandelson), o Blue Labour é o tema do dia no Reino Unido. A última vez que o Partido Trabalhista se renovou, em 1994, quando Tony Blair o rebatizou de "New" Labour, impondo-lhe uma reviravolta reformista, no espaço de três anos a esquerda britânica ganhou as eleições, e, em um curto espaço de tempo, os partidos progressistas que adotaram o mesma linha chegaram ao governo em toda a Europa.
Era o resultado da Terceira Via, o reformismo pragmático indicado pelo sociólogo Anthony Giddens como o método para levar adiante uma política de esquerda na época em que os trabalhadores de colarinho branco são mais numerosos do que os operários. A fórmula de Glasman, publicamente elogiado por Miliband em um discurso recente, é uma "Quarta Via" capaz de revitalizar a centro-esquerda, não só na Grã-Bretanha, onde há um ano atrás ela perdeu a eleição, mas também em uma Europa onde ela perdeu o poder em quase toda parte?
"Blue" refere-se à cor tradicional do Labour, portanto, a um retorno às origens, e, de acordo com alguns, à nostalgia por algo que não existe mais. Mas o seu idealizador não concorda. "Essa não é uma política da nostalgia", explica Maurice Glasman. "É a redescoberta de hábitos e valores cruciais para o trabalhismo, que foram esquecidos ou considerados sem importância. Não é nem uma defesa da evanescente classe trabalhadora. É a redescoberta de que a visão ética da sociedade humana, que levou homens e mulheres a fundar o Labour em 1900, ainda é relevante e vital hoje. O Blue Labour não tem nostalgia do velho Labour e nenhuma ilusão sobre os defeitos do New Labour. Tanto Blair quanto Brown foram perigosamente ingênuos com relação aos bancos, às finanças e ao livre comércio. Não por acaso, a economia alemã, com os trabalhadores representados nos conselhos de administração e com um nível mais alto de interferência democrática na gestão da economia, emergiu da recessão com um crescimento mais forte e com uma setor industrial mais moderno do que os do mundo anglo-saxão".
É essa a via que a centro-esquerda europeia busca em vão há anos? Quem sabe. Mas, certamente, Londres confirma mais uma vez ser o laboratório do progressismo reformista: o lugar onde se cultivam novas ideias da política, indo além dos slogans e da propaganda.