16 Abril 2011
" As informações sobre o investimento alardeado de US$ 12 bilhões são intrigantes", afirma editorial do jornal Folha de S. Paulo, 17-04-2011, comentando o investimento da Foxconn no Brasil, anunciado por ocasião da visita de Dilma Rousseff à China.
Eis o editorial.
A presidente Dilma Rousseff associou seu nome e cargo ao anúncio do grande investimento da empresa Foxconn em um complexo industrial no Brasil, dedicado à produção e montagem de produtos eletrônicos. O Ministério da Ciência e Tecnologia revelou ainda que as negociações com a empresa já vêm de três meses.
Nota-se a importância que o governo dá ao projeto. Bem-sucedido, seria um sucesso da diplomacia comercial, um ponto para a política industrial e, enfim, um sinal de que talvez a desindustrialização não seja o destino do Brasil.
As informações sobre o investimento alardeado de US$ 12 bilhões são intrigantes. Suscitam questões sobre o motivo da transferência da produção para o Brasil. Os custos salariais são maiores aqui. A infraestrutura precária encarece o produto. O câmbio favorece a indústria chinesa.
Como o projeto seria rentável no Brasil? A aberta economia mexicana viu frustrada sua expectativa de receber fábricas americanas justamente porque a China atraiu empresas americanas em fuga de salários maiores, sindicatos e regulações custosas, ambientais, trabalhistas ou outras.
Tal dúvida suscita apreensões sobre as características do investimento da Foxxconn. A empresa ergueria apenas uma "maquiladora", uma montadora de insumos importados a bom preço? Nenhum problema, em tese. O governo ofereceria subsídios pesados a fim de vender a ilusão de que o país fabrica "bens de ponta"? Nesse caso, a vinda da empresa equivaleria apenas a um lance diplomático-publicitário custoso.
Caso o montante e a qualidade do investimento se confirmem, a presença da Foxconn seria positiva. Demandaria a formação em massa de mão de obra qualificada. Seu tamanho e complexidade induziriam a criação de fornecedores e associações com pesquisadores nacionais. A aplicação de recursos teria efeito de encadeamento importante.
Por ora, contudo, as tratativas permanecem envoltas sob proclamações diplomáticas. Pouco se sabe do teor de mais essa "parceria público-privada". Espera-se que não seja uma fantasia oficial subsidiada pelo público, apenas para o benefício da Foxconn.
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Um enigma chinês - Instituto Humanitas Unisinos - IHU