Estudo revela conexões entre garimpo ilegal e exploração sexual na Amazônia

Foto: Greenpeace

Mais Lidos

  • A ideologia da Vergonha e o clero do Brasil. Artigo de William Castilho Pereira

    LER MAIS
  • Juventude é atraída simbolicamente para a extrema-direita, afirma a cientista política

    Socialização política das juventudes é marcada mais por identidades e afetos do que por práticas deliberativas e cívicas. Entrevista especial com Patrícia Rocha

    LER MAIS
  • Que COP30 foi essa? Entre as mudanças climáticas e a gestão da barbárie. Artigo de Sérgio Barcellos e Gladson Fonseca

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

02 Julho 2025

Um novo estudo da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e do Instituto Conviva lançou luz sobre os impactos sociais do garimpo ilegal no território amazônico. Além da contaminação do solo e da água, a atividade também está intimamente relacionada a outras ilegalidades, em uma cadeia de crimes que envolve exploração sexual, tráfico humano e trabalho análogo à escravidão.

A reportagem é publicada por ClimaInfo, 02-07-2025.

O mapeamento combinou análise documental com entrevistas realizadas entre 2022 e 2024 em comunidades de Manaus (AM), Altamira (PA), Porto Velho (RO) e Boa Vista (RR), e identificou 45.065 concessões minerárias na Amazônia, das quais 21.536 invadem Áreas Protegidas. O critério de tráfico humano seguiu a Convenção de Palermo, incluindo casos de coerção e falsas promessas.

O ponto de partida do estudo é um dos marcos mais trágicos da história indígena no último século – o massacre de Haximu, em 1993, reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como um crime de genocídio contra o Povo Yanomami. O caso resultou na morte brutal de pelo menos 16 pessoas.

A partir de dados da Universidade Federal de Roraima (UFRR), a pesquisa identificou 309 casos de pessoas em situação de tráfico humano, sendo 57% mulheres migrantes, muitas delas submetidas à exploração sexual. Crianças, homens e pessoas LGBTQIAPN+ também figuram entre as vítimas. Segundo Márcia Maria de Oliveira, pesquisadora da UFRR, a marginalização nesses locais afeta desde cozinheiras até garimpeiros, muitos em situação de alta vulnerabilidade.

Os garimpos modernizados, equipados com “arsenais de guerra” e cada vez mais controlados pelo crime organizado, ganham no estudo o nome de “narcogarimpos” e operam redes de tráfico de drogas, armas e pessoas Amazônia adentro, aproveitando rotas aéreas e fluviais sobretudo entre Colômbia, Venezuela e Brasil.

O relatório alerta que a cultura de dominação dos garimpos se espalha para as cidades, com agressores reproduzindo padrões de violência fora desses territórios.

O levantamento encontrou uma correlação entre a expansão garimpeira e o aumento de femicídios nas regiões estudadas: “O garimpo tem produzido relações de dominação pautadas pela violência contra as mulheres não apenas no território do garimpo, porque o mesmo agressor forjado no garimpo circula pelas cidades e muitas vezes reproduz essa violência em outras mulheres fora do ambiente do garimpo”.

Projeto Colabora, O Globo, ((o)) eco e Vocativo trataram do mapeamento.

Em tempo

A cidade de Minaçu (GO), que por décadas dependeu economicamente da mineração de amianto (proibida no Brasil desde 2017, mas mantida em escala reduzida para exportação), agora aposta nas terras raras como alternativa. Os minerais estratégicos essenciais para tecnologias como carros elétricos e turbinas eólicas colocam a cidade no centro de uma disputa global entre China e EUA. A Serra Verde, mineradora controlada por fundos estrangeiros, iniciou em 2024 a extração comercial, tornando-se a primeira operação do tipo fora da Ásia.

No entanto, a produção ainda está abaixo do esperado e moradores já relatam impactos ambientais como a contaminação de riachos. Enquanto autoridades locais celebram a promessa de desenvolvimento, especialistas alertam para os riscos de repetição do modelo extrativista que, mesmo no auge do amianto, não reduziu a pobreza. Hoje, 30% das famílias vivem em vulnerabilidade.

A Agência Pública contou a história completa, republicada pelo Guardian.

Leia mais