27 Junho 2025
Pesquisa da REPAM-Brasil em parceria com o Instituto Conviva expõe o impacto devastador da mineração ilegal na Amazônia. Entre 2022 e 2024, foram identificados 309 casos de tráfico humano, sendo 57% mulheres migrantes e 78% brasileiras. O estudo também revela exploração sexual, trabalho análogo ao escravo e violência contra povos indígenas.
A informação é de Camila Del Nero, publicada por EcoDebate, 26-06-2025.
Um retrato perturbador da devastação causada pela mineração ilegal na Amazônia acaba de ser revelado no estudo “Impactos da Mineração Ilegal na Amazônia”, desenvolvido pela REPAM-Brasil em parceria com o Instituto Conviva.
A pesquisa mostra que o garimpo ilegal vai muito além da destruição ambiental: ele está no centro de uma cadeia de violações de direitos humanos, exploração sexual, tráfico de pessoas, trabalho análogo ao escravo e violência sistemática contra povos indígenas e trabalhadores migrantes.
O estudo parte de um marco trágico da história recente brasileira: o massacre de Haximu, reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal como crime de genocídio contra o povo Yanomami. O caso, ocorrido em 1993, resultou na morte brutal de pelo menos 16 pessoas, mas sobreviventes afirmam que o número pode chegar a 70, evidenciando a gravidade da violência contra povos originários.
Com base em dados coletados entre 2022 e 2024 por meio de entrevistas, grupos focais e análises institucionais, a pesquisa identificou 309 casos de pessoas em situação de tráfico humano, sendo 57% mulheres migrantes e 78% de brasileiras. O tráfico de mulheres para fins de exploração sexual se revela uma das faces mais cruéis dessa realidade, sustentando um mercado altamente lucrativo em meio à ausência do Estado.
A pesquisa também revela o cotidiano dos “proletários da lama” — trabalhadores do garimpo em condições precárias, descartáveis, sem direitos trabalhistas e frequentemente submetidos a jornadas exaustivas, riscos de morte e doenças graves. Em muitos casos, seus corpos sequer retornam às famílias, sendo abandonados à margem das estradas ou ocultados em rios e clareiras da floresta.
Além do impacto humano, o estudo detalha o uso de helicópteros, dragas e outros meios para manter uma economia subterrânea e violenta, movida pela ganância e pela impunidade. Em períodos mais intensos, o custo para entrar em áreas de garimpo podia ultrapassar R$ 8 mil por pessoa, revelando uma estrutura logística sofisticada que se sustenta à margem da lei.
A REPAM-Brasil destaca que os danos da mineração ilegal afetam não só os povos da floresta, mas toda a sociedade. A contaminação por mercúrio e outros metais pesados, a degradação dos rios e a violência nos territórios refletem diretamente na qualidade do ar, da água e da vida nas cidades.
“Não estamos diante apenas de uma questão ambiental. A mineração ilegal na Amazônia é um problema civilizatório, que coloca em risco os direitos fundamentais de milhares de pessoas e compromete o futuro da maior floresta tropical do mundo”, afirma professora Márcia Oliveira, da REPAM-Brasil.
O estudo completo está disponível para download no site da REPAM-Brasil. A organização espera que os dados sensibilizem autoridades e sociedade civil para a urgência de políticas públicas que protejam os territórios, as vidas e a dignidade das populações amazônicas.
Confira o estudo aqui.
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