11 Janeiro 2025
"A irmã Brambilla foi chamada para o centro há pouco mais de um ano, desde que foi nomeada secretária do mesmo Dicastério no final de 2023, mas ela vem das periferias, pois foi missionária em Moçambique. Um currículo, o dela, que coincide perfeitamente com o projeto da Igreja que Francisco disse ter na mente e no coração desde o início de seu pontificado", escreve Marinella Perroni, biblista, fundadora da Coordenação Teológica Italiana (CTI), em artigo publicado por Avvenire, 08-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A prefeita de um dicastério do Vaticano? Uma prefeita? Uma mulher prefeita? Há muito para alegrar todos aqueles que veem no slogan da chamada ideologia woke ou, mais simplesmente, na atenção à diversidade e às minorias, a chave para entender um tempo como o nosso, para o qual “no princípio era a linguagem”. E sabe-se muito bem que, como nossos avós costumavam dizer, e como afirma o título de um conhecido programa de rádio, a língua bate onde o dente dói, e o dente dói há mais de um século nesse longo e difícil processo de superação da hierarquia entre os sexos e do acesso das mulheres a todas as esferas de conhecimento e poder. A linguagem, por outro lado, nunca é anônima e, acima de tudo, nunca é inocente, e a nomeação de uma mulher para a chefia de um Dicastério do Vaticano significa muitas coisas, desencadeia muitas reações, provoca muitos contragolpes.
Não creio que eu esteja dado excessiva ênfase ao fato de que o Papa Francisco tenha colocado uma mulher à frente do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, a irmã Simona Brambilla, das Missionárias da Consolata, e que tenha até mesmo designado um cardeal como seu subordinado, porque além do fato em si ou da pessoa em si, muitas coisas entram em jogo.
Em primeiro lugar, um Papa diante do qual continuamos a nos surpreender, como se ele recorresse a efeitos especiais, mas que, pelo contrário, não faz nada além de executar seu preciso programa de renovação da Igreja, se não de sua ordenação ministerial, pelo menos de seu aparato administrativo. Ele já disse e repetiu isso muitas vezes: progressivamente, os espaços de participação na igreja e também os espaços de gestão da autoridade devem ser abertos às mulheres. Há quem diz que somente os ministros ordenados podem governar a igreja. É verdade, mas também é verdade que só é possível mudar as leis depois de um tempo de boas práticas. Essa, por outro lado, é a crista da ambiguidade na qual Francisco aceita se mover com iniciativa e, ao mesmo tempo, com prudência, consciente do que não pode fazer, mas também do que é preciso começar a fazer.
A vida consagrada é uma das áreas mais delicadas da vida da Igreja, assim como a floresta amazônica é para o planeta, um grande reservatório de energias e de experiência, mas também de fragilidade e desgaste. O declínio parece incessante e, com muita frequência, a dificuldade de encontrar os pontos certos para administrar uma rotina diária cada vez mais pesada e, ao mesmo tempo, lançar superar o obstáculo exige uma força que nem sempre é possível. A irmã Brambilla foi chamada para o centro há pouco mais de um ano, desde que foi nomeada secretária do mesmo Dicastério no final de 2023, mas ela vem das periferias, pois foi missionária em Moçambique. Um currículo, o dela, que coincide perfeitamente com o projeto da Igreja que Francisco disse ter na mente e no coração desde o início de seu pontificado: o hospital de campanha, e a irmã Simona é enfermeira; as periferias, e Moçambique é uma das muitas periferias que fazem da África pós-colonial o grande desafio que este século lança para o mundo, para as religiões e para as igrejas; ela tem aquela dose de experiência do centro que é suficiente por ter vislumbrado suas potencialidades e limites.
Em suma: prefeito ou prefeita? De acordo com as mensagens que recebi nas últimas horas, a decisão é tomada pelo corretor automático, que arbitrariamente se arroga o direito de modificar para “perfeita”. A irmã Brambilla certamente não o será, porque ninguém nunca o é. Entretanto, pode contar com o apoio de muitas e muitas mulheres. Não apenas daquelas que, em número cada vez maior, ocupam posições de destaque na Cúria Romana, mas também de todas aquelas que veem nisso a confirmação de que, lentamente, mas com eficácia, está se concretizando o que elas esperam já há algum tempo: a história nos dará razão. Até mesmo na Igreja.
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Seja prefeito ou prefeita, a Igreja mudou de ritmo. Artigo de Marinella Perroni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU