07 Novembro 2023
Padre Ibrahim Faltas, frade franciscano, é o vice custódio da Terra Santa, o primeiro árabe a ocupar o cargo em Jerusalém. “Moro aqui há muitos anos e nunca vi nada parecido. Eu vivi durante as guerras, mas a situação não era tão terrível como agora. O que está acontecendo agora é anormal para todos aqui. Não sabemos o que esta guerra acabará por implicar. A situação é extenuante para todos aqui.”
A entrevista é de Angela Nocioni, publicada por l'Unità, 03-11-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Você tem notícias de Jabalya?
Bombardearam novamente o campo de refugiados esta manhã. Pela terceira vez. É o terceiro dia de bombardeios sobre o mesmo campo de refugiados. As pessoas que estavam cavando tentando desenterrar os corpos dos escombros dos bombardeios de ontem foram atingidas. As pessoas vão para tirar dos escombros as pessoas, muitas estão procurando seus filhos. Os sobreviventes estão desesperados.
Jabalya tinha mais de 80.000 habitantes. Há muitas casas destruídas. Serão mil ao todo as vítimas só em Jabalya, em toda a Faixa, creio que há nove mil entre mortos e feridos.
Esses números são propaganda do Hamas? O número de mortos e feridos nos bombardeios chegam dos ministérios palestinos e parecem inflados?
Não creio que sejam números inflados. Obviamente não são precisos, os bombardeios continuam. Ainda há muitas pessoas sob os escombros. Mas todos sabem que Gaza tem a maior densidade de população do mundo. Então, por que se surpreender com esses números elevados?
Como é a vida em Jerusalém nestes dias?
Jerusalém está vazia e silenciosa. De vez em quando ouvimos bombas caindo muito perto da cidade. As lojas estão fechadas, as pessoas ficam com medo e ficam trancadas em casa. Eu tento manter aberta a escola da Custódia da Terra Santa para dar às crianças e aos jovens a oportunidade de estarem juntos em um lugar sereno, mas muitas vezes não é possível. A convivência em Jerusalém entre cidadãos israelenses e palestinos era bastante boa. Agora a desconfiança e o medo são muito evidentes por parte de todos.
Árabes e israelenses que trabalham no mesmo escritório, que trabalham no mesmo escritório há muito tempo, não se olham. Há muito medo principalmente dos árabes, por serem árabes.
Os palestinos na Faixa dizem “O plano de Israel é que saiamos daqui, mas para onde?”. Qual é a resposta?
Certamente um povo não pode ser tirado de sua terra. Não somos nós que podemos dizer a eles para onde ir. Existe um direito internacional que deve tutelar os cidadãos do mundo. A ONU denuncia: “Gaza é um cemitério de crianças.” Esse grito impotente é ouvido em Jerusalém? O que dizem as pessoas?
As pessoas não falam porque estão com medo, estão sentidas. Todo mundo sente a sua dor. Agora sinto o sofrimento, a resignação, a falta de esperança.
Como as pessoas viviam antes de 7 de outubro na Faixa?
Gaza já estava fechada e isolada antes de 7 de outubro. Vivia-se graças à ajuda de muitas organizações humanitárias internacionais, comunidades religiosas que mantinham hospitais, escolas, centros de agregação. A vida não era simples, mas havia uma aparente normalidade.
Como vocês, frades em Jerusalém, são tratados e como são considerados pelo governo israelense?
Sou responsável pelas relações da Custódia da Terra Santa tanto com o Estado de Israel como com a Autoridade Palestina. As relações da **Custódia com as duas partes sempre foram de respeitos pelas funções de cada um.
Quais são os ouvidos no governo israelense dispostos a ouvir propostas concretas para negociar um cessar-fogo?
Há muitos israelenses na sociedade civil que são a favor da paz e da convivência pacífica entre os dois povos. Conheço muitos israelenses que trabalham para isso, se organizam em associações para defender os direitos humanos dos palestinos.
Quando o Fatah proclama, como fez outro dia "o dia da raiva", o que quer fazer, qual é o objetivo?
Abu Mazen não é apenas o presidente da Autoridade Palestina, mas também o presidente do partido político Fatah. Sempre foi um homem de paz, sempre participou nas negociações com um espírito construtivo, apoiou fortemente os acordos de Oslo. Não se pode perder a oportunidade de tê-lo ainda como interlocutor no processo de Paz.
Você tem um apelo a dirigir à sociedade civil? Ao governo italiano?
Cada um de nós pode fazer alguma coisa. Penso que numa sociedade civil, todas as pessoas devem pedir ao seu governo para intervir junto à comunidade internacional. É preciso acabar com a guerra por razões humanitárias, por consciência, porque é uma questão que diz respeito a todo o mundo.
O governo italiano, como todos os governos, deve ouvir o seu povo.
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“Não se pode expulsar um povo da sua terra: chega de bombas”. Entrevista com o Padre Ibrahim Faltas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU