Jon Sobrino em homenagem a Gustavo Gutiérrez: "A realidade é a base da teologia"

Gustavo Gutiérrez | Foto: Vatican Media

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28 Outubro 2025

  • Jon Sobrino e Gustavo Gutiérrez compartilhavam uma visão crítica da pobreza e defendiam uma Igreja comprometida com a libertação dos pobres e a busca por justiça para todos.

  • Jon Sobrino desenvolveu uma cristologia que enfatiza a fé que se torna vida e opta preferencialmente pelos pobres.

  • O teólogo peruano desenvolveu a proposta conceitual e prática da teologia da libertação.

A informação é de Paola Calderón Gómez, publicado por Religión Digital, 24-10-2025.

“A Teologia da Libertação tem a ver com realidades, foi isso que retive dela”, diz o teólogo espanhol Jon Sobrino, referindo-se ao principal ensinamento do teólogo Gustavo Gutiérrez, que recebeu uma sentida homenagem no IV Congresso de Teologia Latino-Americana e Caribenha, realizado em Lima.

Um ano após a morte de Gutiérrez, o padre jesuíta Jon Sobrino lembra que se formou durante sete anos em Frankfurt, e que a partir daí sua percepção da Teologia da Libertação proposta por Gustavo Gutiérrez foi diferente.

Reflita para se libertar

Ele pôde esclarecer esse aspecto em um encontro posterior com o dominicano em El Salvador. Lá, compreendeu a profundidade de sua proposta, baseada num conhecimento da realidade ao qual foram acrescentados conceitos, sem perder o fundamento da vida.

Desde a juventude, os consagrados Sobrino e Gutiérrez foram influenciados pela realidade social e política da América Latina e trabalharam juntos na reflexão teológica sobre libertação e justiça social. Compartilhavam uma visão crítica da pobreza e defendiam uma Igreja comprometida com a libertação dos pobres e a busca por justiça para todos.

Enquanto Gutiérrez escreveu o livro "Teologia da Libertação", uma obra fundamental que investiga os aspectos distintivos desse movimento teológico, Jon Sobrino desenvolveu uma cristologia que enfatiza a fé que se torna vida e opta preferencialmente pelos pobres.

Opte pelos pobres

Ao longo da história e dos desenvolvimentos sociais, econômicos e políticos do continente, Sobrino continuou a desenvolver a Teologia da Libertação e é reconhecido em El Salvador como um defensor dos direitos humanos e da justiça social.

Por isso, durante sua dissertação em memória de Gustavo Gutiérrez, fez referência a Dom Óscar Romero, uma pessoa que, como o teólogo peruano, encarnou na prática essa opção preferencial pelos pobres que encontra na Teologia da Libertação uma proposta conceitual e prática.

Em El Salvador, quando me pedem para citar uma pessoa que me marcou, menciono Óscar Arnulfo Romero. A mesma pessoa que os camponeses disseram que os defendeu quando era pobre. Ele nos defendeu, e é por isso que o mataram. Dom Romero disse a verdade. Estas são algumas das palavras das pessoas simples que Romero sempre ouviu e defendeu, até o ponto de dar a vida. Mesmo — lembra Sobrino — como bispo, ele não lamentava a perseguição que a Igreja sofria naquela época. "Estou feliz, irmãos, que a Igreja seja perseguida", dizia ele.

Ressuscitar na aldeia

Para Sobrino, seria muito triste se, em um país onde há tantos assassinatos, estupros e perseguições de cristãos, a Igreja não recebesse nada. Isso significa que algo está sendo feito corretamente, mesmo que isso incomode alguns, especialmente aqueles no poder que não querem que suas ações sejam submetidas a um julgamento coletivo. Sobrino destaca uma citação de Romero sobre a situação: "Se me matarem, ressuscitarei entre o povo salvadorenho".

Assim, concluiu seu discurso durante a homenagem a Gustavo Gutiérrez, a partir de suas contribuições conceituais que permanecem vivas entre aqueles que o conheceram, o leram e o implementaram como uma nova forma de viver a teologia e a ação pastoral, a serviço dos descartados que na América Latina e no Caribe continuam sofrendo as mesmas dores de seu tempo.

Gustavo Gutiérrez é considerado um dos pais da Teologia da Libertação, cuja proposta gerou um impacto significativo tanto na reflexão teológica quanto na ação social e eclesial na América Latina, apesar dos momentos de tensão que viveu com a Igreja, devido à sua posição em relação ao institucional e ao compromisso com a justiça social, muitas vezes distante na prática, em relação à proposta feita por Jesus.

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