17 Outubro 2025
Em julho, 19 blocos de exploração de petróleo foram arrematados na costa da Amazônia; todos têm participação de empresas dos Estados Unidos e, mais da metade, da China.
A reportagem é de Carolina Dantas, Carolina Passos e Renata Hirota, publicada por InfoAmazônia, 15-10-2025.
O fotógrafo Victor Moriyama retratou, junto ao repórter Fábio Bispo, a presença dominante da ExxonMobil na Guiana. A reportagem da série especial “Até a Última Gota” mostra como a exploração de petróleo naquela parte da margem equatorial amazônica não trouxe o desenvolvimento prometido aos guianenses, mas criou uma dependência do Estado em relação ao dinheiro da petroleira americana. No cotidiano, a influência da empresa é onipresente em bonés e óculos com a marca, enquanto são bombardeados por sua publicidade a todo o momento.
Não é exagero afirmar que esse capítulo recente da Guiana influenciou o leilão realizado na parte brasileira da margem equatorial. Em julho, a mesma petroleira ExxonMobil arrematou, junto com a também americana Chevron, 19 blocos para exploração na Amazônia brasileira. A operação dessas áreas será sempre dividida com a estatal chinesa CNPC ou com a Petrobras.
O principal argumento pró-petróleo no Brasil é, claro, o desenvolvimento da região em que acontece a exploração. O exemplo da Guiana mostrou um aumento de mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, três anos após o início da extração do petróleo. O dado isolado gerou boas manchetes sobre a Guiana, sendo citada como o “país que mais cresce no mundo”, mesmo que isso não tenha reverberado na criação de empregos para a população local. A taxa de desemprego permaneceu praticamente a mesma na região.
Enquanto isso, no Brasil, a vontade de explorar petróleo é um elefante na sala — ou melhor: à mesa de negociação da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30). Em seu discurso na 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, no final de setembro, o presidente Lula (PT) defendeu que a “corrida por minerais críticos, essenciais para a transição energética, não pode reproduzir a lógica predatória que marcou os últimos séculos”.
Mas a menção de Lula à transição energética ficou por aí. O mesmo vale para a “lógica predatória”, que, para o presidente, parece se aplicar apenas aos minerais críticos — e não às empresas estrangeiras que devem extrair petróleo em uma das áreas mais sensíveis da Amazônia, próxima a manguezais e ao Grande Sistema de Recifes Amazônicos.
Enquanto isso, a equipe do governo federal mantém o tema dos combustíveis fósseis em banho-maria. A colaboradora da InfoAmazonia, Tais Gadea Lara, chegou a conversar com o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, sobre o tema. Ele reconheceu o assunto como um dos mais importantes da agenda de ação, mas atribuiu o mesmo peso de temas como “as florestas, a agricultura, as cidades e o financiamento”. Vale lembrar que as emissões da queima de combustíveis fósseis são o principal fator de liberação de gases de efeito estufa no planeta.
Lago chegou, inclusive, a questionar o motivo de se retomar o tema na conferência:
“Alguns países queriam que a questão dos combustíveis fósseis fosse retomada na negociação. Por quê? Isso já foi aprovado universalmente. Todos nós já decidimos que vamos fazer a transição para longe dos combustíveis fósseis”, afirmou o presidente da COP30.
Ele até ponderou que a COP30 poderia apresentar um cronograma, avançar um pouco mais: “o que pode ocorrer na negociação é, por exemplo, definir um cronograma ou regras sobre como essa transição será feita — se será por tipo de país, por qual combustível virá primeiro etc”.
Mas, encerrou dizendo: “não podemos manter o mundo esperando por negociações para seguir em frente. Não é verdade que dependemos disso”.
Por enquanto, tudo indica que a exploração de petróleo segue uma prioridade para o Brasil e, principalmente, das empresas estrangeiras.
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